segunda-feira, 16 de julho de 2012

MALUF NA OPINIÃO DE GIJO VÁLIO:

"Meu pai, político de larga experiência, cuja observação de causa se deu desde a tenra idade, pois viveu seus primórdios à época da escravidão, quando, segundo suas afirmações honestas e históricas, foi carregado por escravos na hora do veredito que aboliu a escravidão em nosso país e, nos braços de um negro forte pronunciou seu primeiro discurso, pois bem, meu pai dizia que todo político que pensa em causa própria e na de seus apaniguados vai ao píncaro para o tombo ser maior. Quem presencia os momentos políticos atuais vê essa realidade com relação ao deputado Paulo Maluf. O seu caminho na política foi traçado para chegar à situação de candidato à Presidência da República. Mesmo contando com a aversão instintiva, incompreensivelmente sem manifestação do Presidente da República, chegou lá. Fez tudo para se situar dentro do esquema montado pelos atuais donos do poder, chegando a elogiar ministros e tecer tipos os mais variados de engrandecimento às Forças Armadas, esperando que a finalidade de seu intento terminasse com o beneplácito destas e dos chefes civis que até ontem foram de fato os que davam a sentença na substituição dos homens na situação ditatorial. 

O povo ele sempre deixou para trás, ignorou-o intencionalmente e quando a ele se referia era para deixar, ou ainda é, para transparecer sua eloquência adverbial e sua imponência pessoal numa arremetida sem contenção, para demonstração de seu caráter de fixação ao regime que imperou em nosso país desde 64, em cujo bojo se acomodou, apesar de sentir que ali estava incomodando, pois todos os componentes da equipe que geraram a Ditadura lhe eram contrários, isto porque temiam a sua personalidade e a plêiade que o segue. 

A luta que desenvolveu para vencer na convenção do partido, como diz o cidadão comum, não está no gibi. 

Os meios que usou foram os mais desnorteantes, tanto nos propagandistas como nos financeiros. 

Projetos mirabolantes foram montados, que obrigou o candidato contrário a proceder quase da mesma forma o que não estava na sua intenção, pois já tinha um ministério que o favorecia o que, no entanto, não bastou diante da majestosidade da campanha de Maluf. 

Aí está o tombo grande. 

Agora, de uma coisa não devemos esquecer. Não fosse Maluf e nesta hora já teríamos outro militar às raias do Planalto. Não resta a menor dúvida que Paulo Maluf virou no avesso todo o esquema preconizado pelo poder militar. Não fosse ele o candidato vitorioso na eleição do então partido situacionista, os governadores pedessistas, que hoje estão com Tancredo Neves, por força das circunstâncias dos favoritismos que se evidenciariam, com certeza estariam com o candidato oficial e os votos no Colégio Eleitoral estariam comprometidos. 

Claro que por força da influência dos governadores e do governo federal com Mário Andreazza, indubitavelmente. Um ou outro dissidente poderia existir, mas não teria significância assim tão derrapante como a que ora presenciamos. 

Nunca optamos pelos modos políticos de Maluf, nem optaremos no futuro, mas reconhecemos que sem ele nas esferas políticas atuais muitas dificuldades teríamos para alcançar o objetivo comum do povo que é a Democracia plena. 

Sem Maluf no páreo nós estaríamos presenciando, talvez, o mesmo espetáculo do Colégio passado, o referendo ao candidato do Governo. 

Consideremos o episódio então com os seguintes caracteres: a vitória da derrota. 

Maluf fez-se derrotado, intencionalmente, e o povo vitorioso ficou e alegremente."

(Inserido no extinto periódico "Folha de São Miguel Arcanjo", do dia 16/12/1984).


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