domingo, 11 de março de 2018

ANTES DE MÉDICI, MEU AVÔ JÁ ALERTAVA SOBRE OS COMUNISTAS



A exemplo do que se praticou pelo Interior todo do nosso Estado, realizou-se a 24 do corrente, nesta cidade, um grande comício popular em prol da nova Constituinte e da autonomia de São Paulo.
Anunciado já com antecedência, pela manhã de 24 foram espalhados boletins convidando o povo, sem distinção de credos a comparecer, pelas 17 horas, à Praça João Pessoa.
A essa hora, tendo o comércio em geral cerrado suas portas, deu entrada ao lugar designado a Corporação Musical, precedida de grande massa de populares e os membros da comissão organizadora do comício, composta dos senhores Major Luiz Válio e Edwiges Monteiro, pelo Partido Democrático e Coronel João Paulino da Silva e José dos Santos Terra, pelo Partido Republicano.
Em frente à Igreja Matriz, a grande massa, em que se via representada a quase totalidade dos são-miguelenses, inclusive o elemento feminino, senhoras e senhoritas da nossa elite, deu-se a abertura do comício.
Assumiu então a tribuna o presidente da Comissão, Major Luiz Válio, que, debaixo de aplausos, pronunciou a oração seguinte:

" Meus senhores, exmas. senhoras. Os demais patriotas como nós neste comício cívico, comemoram hoje, por todos os recantos desta bendita terra de Piratininga, a data gloriosa em que foi promulgada a primeira Constituição Republicana em nosso País.
Deu-se esse fato histórico a 24 de fevereiro de 1891.
Proclamada a República em 15 de novembro de 1889, houve, decorrente desse famoso episódio, um Governo Provisório que não quis eternizar-se no poder, apesar de haver sido necessário remodelar inteiramente o velho sistema do Governo Monárquico, para acomodá-lo à nova instituição democrática-representativa, que se vinha de inaugurar, sob as novas bases de Governo do Povo e pelo Povo!
E nesse pequeno lapso de tempo que decorreu mais ou menos agitado, entre 15 de novembro de 89 a 24 de fevereiro de 91, os preclaros estadistas republicanos de então embrenharam-se numa luta afanosa, num trabalho digno de passar, como passou, para as páginas cristalinas de nossa história, como gigantesco exemplo de patriotismo nunca igualado por outros povos, e como, talvez não será jamais imitado pelas gerações que se sucedem!
Eles não se deixaram vencer pelas regalias do Poder.
Às delícias dos seus postos de supremo comando, contrapuseram, exteriorizando-o, o grito de suas consciências; e, senhores, das mãos desses sacrificados formidáveis, imensos, gloriosos, recebeu o povo brasileiro o lábaro sacrossanto em que foram inscritas as palavras benditas: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Vejamos, senhores, o que acontece hoje, depois dos 42 anos de regime republicano, já passados, em cujo lapso de tempo, houve tempo mais que suficiente para se formarem estadistas na altura dos nossos estadistas mortos, com a vantagem ambiental do progressivo incrementado na instrução que a República imprimiu no seio de todas as classes sociais.
Julgando-se que os velhos ideais se procrastinaram, porque a fraude eleitoral, o afilhadismo político, a advocacia administrativa, tudo corrompeu, a começar quase dos primórdios de 91, promove-se uma campanha saneadora, arregimenta-se a opinião pública, verificam-se levantes militares, que fracassaram como os de 22 e 24, surge, enfim, uma Aliança Liberal, fruto da visão profética do grande paulista Antonio Prado, para combater as oligarquias que se diziam organizadas em todas as unidades federativas!
Pleiteia essa Aliança a vitória pelas urnas e, depois desta tentativa legal, arregimenta-se, prepara, por sua vez a opinião pública e rompe, num movimento armado, digno de admiração e respeito, com base para figurar nas páginas de nossa história ao par dos feitos valorosos dos nossos ancestrais, que a mesma história registra nas páginas formidáveis pela nossa emancipação do jugo férreo da carcomida regência.
E esse movimento empolgante, alimentado pela fogueira do patriotismo extremado das massas, proclama a vitória final da causa a 24 de outubro de 1930.
No labirinto, porém, dessa vitória, alcançada em meio de uma promiscuidade de ideias, abre-se um campo vastíssimo de "idiologias" variadas!
O povo começa logo a sentir uma falta sensacional, que empolga-lhe o espírito. Essa falta, senhores - quem diria? - é a falta de estadistas que bem pudessem orientar, com perfeita segurança, a nova ordem de fatos, para garantia do programa revolucionário, cujo escopo principal era este: - Liberdade, liberdade, liberdade!
Não que nos faltem estadistas consumados e sábios, mas porque estes foram menosprezados "ab-inicio"!
As "idiologias" cruzam-se cada qual mais extravagante. Estabelece-se o regime de compressão e da anarquia!
Ao longe, divisa-se, com suas negras asas abertas, (até o que, senhores? ) a horrenda "idiologia" comunista, dirigindo-se para o nosso lado. 
Essa "idiologia" que está fazendo a desgraça dos 140 milhões milhões de habitantes do antigo e malogrado Império dos Czares!
E os nossos "estadistas" improvisados, aqueles que, quais naves desorientadas no imenso mar escapelado do confusionismo então reinante, de novo aportados em nossa terra, sedentos de ódios e desejos de conquistas, chegaram quase ao extremo de acolher semelhante polvo, se a opinião pública esclarecida não lhes embargasse o gesto traiçoeiro e ingrato!
E a maior vítima dessas insanias e do que ainda se trama no emaranhado cenário das competições inconfessáveis criadas pelas tais "idiologias", vem sendo o nosso amado São Paulo!...
Depois dos seus 40 dias de governo civil e paulista, eis que assume a sua direção um governo que se dizia militar, mas que outra coisa não era senão um governo talhado para a nossa desorganização social e para o completo desbarato das nossas riquezas, obtidas ao custo de seculares sacrifícios pelos bravos e indômitos bandeirantes.
Eis o que disse desse governo nefasto o manifesto democrático recentemente endereçado à Nação: -" Quando em março do ano passado fomos coagidos a romper com o governo do Coronel João Alberto, fizemo-lo em lance de patriotismo e justa revolta contra uma interventoria que se salientara pela desorganização dos serviços públicos, pelo desbarato dos dinheiros do Estado, pela afronta com que se deliciava nas larguezas do poder e pelos golpes que desferia nos vínculos de nossa nacionalidade, afastando dos postos de administração aos filhos da terra, destruindo riquezas a custo acumuladas e fomentando sentimentos que um dia poderiam ser fatais à unidade étnica e geográfica de nossa pátria".
Este libelo, senhores, calou profundamente, como é sabido, no espírito público, e daí nasceu, cresceu e hoje empolga definitivamente a alma dos brasileiros e especialmente a massa de paulistas escravizados à ideia da volta breve do país à ordem legal, pelo advento da nova Constituinte, que nos integrará na posse do que é nosso, na posse daquilo que nunca nos foi, como agora, negado de nos governarmos a nós mesmos.
E é por isso que São Paulo inteiro vibra nesta hora, conclamando a todos os seus filhos para uma ação conjunta no sentido de obtermos o mais breve possível a nossa emancipação do jugo férreo da ditadura que nos oprime e envergonha.
Com São Paulo, felizmente, acham-se o próprio Rio Grande, líder da revolução e os Estados de Minas Gerais, Bahia e a heróica e martirizada Paraíba de João Pessoa.
E o representante do Rio Grande no Governo Provisório, o eminente jurista Maurício Cardoso, tem sido incansável no desempenho da alta missão que lhe foi confiada pela "Frente Única" dos gaúchos.
Estamos que hoje foi assinado o Código Eleitoral, primeiro passo para a Constituinte, apesar dos entraves que os partidários da ditadura infinita ainda procuram opor-lhe para satisfação de seus desejos de mando discricionário.
Senhores!
Os fatos que temos verificado no cenário nacional de alguns anos até a vitória da revolução, segundo a minha opinião pessoal, vem sendo atribuídos ao impatriotismo dos ex-governantes, ao desvio das finalidades do regime republicano, à ganância do poder e do mando, ao abastardamento do caráter e a outros fatores vários!
Os que agora se atribuem à revolução e que se consubstanciam, principalmente, no predomínio do militarismo de um lado e no da política de outro, quer parecer-me que provem de uma fonte quase alheia à vontade nacional, de uma fonte quase alheia mesmo até às cogitações dos próprios estadistas responsáveis pelos nossos destinos.
Esses fatos tem qualquer coisa de sobrenatural!
Eu acredito que o Brasil e especialmente São Paulo, acham-se atualmente submetidos ao império de uma lei fatal, cuja força dinâmica escapa à medida de nossa capacidade geométrica, porque ela vem de cima, talvez impelida por um fator cujas bases se assentam nos excessos de entusiamo das gerações indômitas que se foram...
Estaremos pagando erros do passado, segundo a sentença terrível dos Evangelhos: - " Os humilhados serão exaltados e os exaltados serão humilhados"?
É provável.
Por isso, senhores, eu vos concito e concitaria a todos quantos hoje reclamam a nossa liberdade, o respeito às nossas pessoas e bens, a volta do nosso País à ordem constitucional e o nosso Estado ao Governo de si próprio que o façamos com humildade, serenamente, implorando ao Deus Supremo, ao Deus que rege os destinos das Nações e dos povos, que derrame sobre os nossos dirigentes e sobre todos os homens de saber e responsabilidade, as suas bençãos divinais, para que possam eles encontrar o verdadeiro caminho da salvação de nossa pátria comum, elevando-a, assim, ao pináculo da grandeza a que faz jus pela vastidão geográfica de sua superfície - conquista dos nossos ancestrais, guiados pelo Cruzeiro do Sul!...
Senhores!
Com a permissão da Suprema Sabedoria, tudo pelo Brasil redimido! Tudo por São Paulo, autônomo e progressista!"

Discurso extraído do extinto jornal "O PROGRESSO" de 28 de fevereiro de 1932.
Diretor proprietário: Antenor Moreira Silvério;
Redator responsável: Acácio dos Santos Terra.

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