quarta-feira, 24 de julho de 2019

OPERAÇÃO SPOOFING. QUE RAPIDEZ!

Se Moro e Dallagnol apagaram as mensagens dos celulares, prisão de supostos hackers é suspeita.
Por Redação Ucho.Info/
24 de julho de 2019.



Definitivamente, a sociedade brasileira está entorpecida diante da catarata de absurdos em que se transformou o governo de Jair Bolsonaro, que continua agindo na contramão dos messiânicos discursos de campanha.
A mais recente e estupefaciente novidade no âmbito do governo está relacionada à prisão, pela Polícia Federal, de quatro suspeitos de envolvimento na invasão dos celulares do ex-juiz e atual ministro Sérgio Moro e do procurador Deltan Dallagnol. 
A Operação Spoofing foi levada a cabo nesta terça-feira (23) e cumpriu onze mandados, sendo quatro de prisão e sete de busca e apreensão. 
Expedidos pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, os mandados foram cumpridos nas cidades de São Paulo, Araraquara e Ribeirão Preto.
A investigação da PF foi deflagrada após o site The Intercept Brasil iniciar uma série de diálogos nada republicanos entre Moro e Dallagnol, sendo que muitos mostram o ativismo judicial que tomou conta das entranhas da Operação Lava-Jato.
Incensado erroneamente ao panteão dos heróis nacionais, Sérgio Muro caiu do pedestal quando ficou provado que sua atuação à frente das ações penais decorrentes da Lava-Jato ultrapassou os limites estabelecidos na lei. 
Quando o julgador interfere no processo acusatório, como comprovam as mensagens divulgadas pelo The Intercept, a ação penal deveria ser anulada. 
Como no Brasil a Justiça se pauta pelo clamor popular, não há na magistratura nacional, por enquanto um corajoso capaz de tal feito.
Considerando que o ministro Sérgio Moro está na condição de vítima, sua permanência no comando da pasta da Justiça é no mínimo suspeita, uma vez que a Polícia Federal está sob sua subordinação. 
Além disso, a Operação Spoofing foi deflagrada um dia após Moro reassumir o trabalho.
Fosse o Brasil um país razoavelmente sério, Sérgio Moro teria solicitado afastamento do cargo para que a PF pudesse agir com a necessária isenção. 
Não se trata de duvidar da atuação dos policiais envolvidos na investigação, mas é preciso ressuscitar o adágio popular sobre a segunda esposa do imperador Romano Júlio César.
Segundo o dito, à mulher de César não basta ser honesta, mas parecer honesta.
A PF não divulgou detalhes da investigação e das prisões, mas causa estranheza a afirmação de os supostos hackers teriam invadido os celulares de Moro e Dallagnol. Tao logo o The Intercept divulgou a primeira tranche de mensagens, Moro admitiu que algumas informações contidas nos diálogos poderiam ser verdadeiras, mas o ministro não reconhecia a autenticidade dos diálogos. Essa afirmação aconteceu durante depoimento de Moro em comissão do Senado.
O ministro Sérgio Moro disse que apagara as mensagens trocadas com integrantes da força-tarefa da Lava-Jato porque “tem o péssimo hábito de comprar celulares baratos”
Em suma, só faltou o ministro afirmar que o peso do cachimbo é que faz a boca torta.
A empresa dona do Telegram, aplicativo de mensagens usado pelo ex-juiz e pelos procuradores da Lava-Jato em Curitiba, informou que as mensagens poderiam estar a salvo nos servidores caso Dallagnol não tivesse apagado os diálogos.
Se Moro compra celulares baratos e por isso tem o hábito de apagar mensagens, a PF não pode ter chegado aos suspeitos a partir de perícia no equipamento usado pelo ministro da Justiça. A esperança, portanto, repousava na possibilidade de Deltan Dallagnol ter preservado os diálogos cibernéticos.
Em 1º de julho p.p., a assessoria de imprensa do Ministério Público Federal em Curitiba afirmou, por meio de nota, que como a PF e a Procuradoria-Geral da República (PGR) informaram que “as evidências dão conta de um ataque hacker criminoso sobre contas de aplicativos e não sobre o aparelho celular”, não haveria razão para periciar os aparelhos usados por Dallagnol e outros procuradores da Lava-Jato.
Na mesma nota, o MPF informou que os procuradores desativaram as contas do Telegram, tendo excluído inclusive o histórico de mensagens armazenado tanto no celular quanto em nuvem. “Houve reativação de contas para evitar sequestros de identidade virtual, o que não resgata o histórico de conversas excluídas”, afirmou a assessoria do MPF em Curitiba.
Ora, se Sérgio Moro apagou as mensagens que estavam armazenadas no celular e os procuradores adotaram procedimento idêntico, o que serviu de justificativa para não entregar os aparelhos para a necessária perícia, a investigação caiu no vazio. Principalmente porque o Telegram afirmou que a recuperação das mensagens dependia da existência dos diálogos em pelo menos um dos celulares usados na troca de informações entre o então juiz e os procuradores.
Além disso, tomando por válida a afirmação de que a PF e a PGR informaram que a suposta ação dos hackers ocorreu nos servidores do Telegram, não nos celulares de Moro e Dallagnol, dúvidas precisam ser esclarecidas pelos investigadores, pois apurar um caso como esse exige acima de tudo coerência e cuidado redobrado.
Isso posto, resta concluir que muitas peças não se encaixam no quebra-cabeça em que se transformou a mencionada investigação. 
Para um governo que é uma usina de destampatórios, toda cortina de fumaça é sempre bem-vinda.
Não se trata de defender o crime de violação de privacidade, mas de exigir doses rasas de lógica e bom senso no escopo da investigação. Sendo assim, o único crime comprovado, mas não admitido pelos autores, é o de desrespeito à lei por parte das autoridades.
Quando uma sociedade defende a violação da lei como forma de abrir caminho para o justiçamento, o Estado Democrático de Direito está sob grave ameaça. Se a investigação que levou à prisão dos quatro suspeitos for adotada como padrão, muitos serão condenados com base no “achismo”. É importante ressaltar que as transgressões cometidas por algumas autoridades da Lava-Jato tinham como pano de fundo um projeto de poder.
É preciso cautela ao apontar suspeitos como culpados, pois a condenação no tribunal da opinião pública é irreversível. Mirem-se no exemplo dos casos do “Bar Bodega” e da “Escola Base”, em São Paulo. Em ambos, os que foram inicialmente apresentados pelas autoridades como culpados eram inocentes.

Prisão de supostos hackers está baseada em possível clonagem de celulares, não em invasão de aplicativo.
Por Redação Ucho.Info/
24 de julho de 2019.


Diferentemente do que afirmam alguns exaltados e radicais, o UCHO.INFO não defende os verdadeiros responsáveis pela invasão dos celulares de autoridades envolvidas na investigação e no julgamento dos casos da Operação Lava-Jato. Nosso papel, enquanto órgão de imprensa, é defender a lógica investigativa e o Estado Democrático de Direito, sob pena de, assim não agindo, colaborar para o vale-tudo a partir da organização do Estado.
Deflagrada pela Polícia Federal para chegar aos verdadeiros culpados, a Operação Spoofing prendeu na terça-feira (23) quatro suspeitos de envolvimento no caso, o que não significa que sejam culpados. 
De tal modo, é preciso cautela com a apresentação dos suspeitos, para que esses não sejam julgados com antecipação pelo tribunal da opinião pública, já que o País vive um momento em que o radicalismo dita o tomo do cotidiano.
Se os suspeitos usaram a técnica do “spoofing” para clonar os celulares do ex-juiz Sérgio Moro e do procurador Deltan Dallagnol, entre outras autoridades, que sejam responsabilizados por seus atos de acordo cm a lei. 
O spoofing consiste no aproveitamento de falhas no protocolo da internet para, assumindo a identidade cibernética de terceira pessoa, acessar ou manipular o conteúdo do que é enviado através da rede.
Portanto, é prematuro afirmar que os suspeitos presos são responsáveis por acessar as mensagens trocadas entre Moro e Dallagnol através do aplicativo Telegram, as quais foram divulgadas pelo site The Intercept Brasil e demonstram, sem qualquer dívida, que houve flagrante violação da lei por parte das autoridades na condução de investigações e julgamentos. Isso significa que, fosse o Brasil um país sério e respeitador da legislação vigente, a Lava-Jato deveria ser anulada, pelo menos no âmbito dos julgamentos.
Para uma análise isenta é preciso considerar que o Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba afirmou, por meio de nota divulgada em 1º de julho, que “as evidências dão conta de um ataque hacker criminoso sobre contas de aplicativos e não sobre o aparelho celular”. Pois bem, se as evidências apontavam para um ataque nas contas de aplicativos, a aludida invasão dos celulares não ocorreu.
Também é importante levar em conta que o ministro Sérgio Moro (Justiça) declarou em depoimento em comissão do Senado, que apagou as mensagens por ser um contumaz comprador de “celulares baratos”. 
De tal modo, a permanência das mensagens nos servidores do Telegram dependia da existência dos diálogos em pelo menos um dos celulares usados pelos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato.
Na mesma nota divulgada pelo MPF em Curitiba, a força-tarefa informou que, com base em manifestações da própria PF e da PGR, as mensagens haviam sido apagadas, o que dispensaria perícia nos equipamentos. 
Se as vítimas do suposto ataque reclamavam da autenticidade das mensagens divulgadas pelo The Intercept, o mais coerente seria entregar os celulares para a necessária perícia.
O objetivo da Operação Spoofing é obter provas relacionadas à invasão de contas do aplicativo Telegram utilizadas por autoridades, entre elas o ministro Sérgio Moro, o desembargador Abel Gomes (TRF-2), o juiz federal Flávio Lucas (da 18ª Vara Federal do RJ) e os delegados federais Rafael Fernandes e Flávio Vieitez Reus. 
O nome do procurador Deltan Dallagnol não foi mencionado nos mandados judiciais de prisão e de busca e apreensão, pois o caso envolvendo o coordenador da força-tarefa da Lava-Jato está sendo investigado pela PF na capital paranaense.
Não há, por enquanto, qualquer indício de relação direta entre o spoofing que atingiu os celulares e o acesso às mensagens do Telegram. Na realidade, o que existe é a suspeita de que os detidos na operação da PF tenham alguma participação na invasão da conta de Sérgio Moro no Telegram.
Ora, se o ponto de partida da ação criminosa foi o celular do ministro da Justiça, que afirmou ter o hábito de apagar mensagens de aplicativos, a reinstalação do Telegram na linha de celular clonada proporcionaria acesso a um arquivo de mensagens vazio. 
O que não deixa de configurar crime.
A recomendação da PF, segundo o procurador Deltan Dallagnol afirmou em artigo, foi para apagar as mensagens dos celulares após a constatação do spoofing. Mesmo assim, os equipamentos deveriam passar por perícia, pois após a eliminação das mensagens o aparelho mantém registro dos diálogos na “memória cache”.
Vale ressaltar que não se tem acesso ao conteúdo das mensagens por meio da “memória cache”, mas pode-se confirmar os horários de envio e recebimento. O que provaria a autenticidade dos arquivos divulgados pelo The Intercept.
Há várias modalidades de spoofing: e-mail, IP, DNS, SMS e chamadas. O que se sabe até o momento, de acordo com relatos das vítimas, é que elas receberam chamadas telefônicas dos próprios números. 
Isso é spoofing de chamada (quando o hacker realiza chamadas se passando por um número conhecido da vítima ou o próprio número), o que não obrigatoriamente significa que houve invasão de contas de aplicativos.
O mais importante na esteira desse escândalo é reconhecer a necessidade de se analisar o caso como um todo e com a devida imparcialidade. 
Houve a prática de crime por parte dos que clonaram os celulares e dos que acessaram os diálogos trocados no Instagram, mas também houve inconteste desrespeito à lei por parte das autoridades, que, considerando os cargos que ocupam ou ocupavam, tinham conhecimento do ilícito.
Estivesse realmente interessado em esclarecer o caso, o ministro Sérgio Moro teria solicitado afastamento do cargo, pois causa estranheza o fato de a vítima comandar o órgão investigador. 
Afinal, a PF está sob o guarda-chuva do Ministério da Justiça e da Segurança Pública.
Da forma como a investigação está sendo levada adiante, a suspeita sempre existirá, em que pese reconhecer o brilhante trabalho da PF ao longo dos anos.


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