quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

THEOPHILO DE SOUZA CARVALHO ESCREVEU:



“SUJEITINHO IMBUSTERO” 
(escrito por Theophilo de Souza Carvalho, que prometia lançar o livro “Ferro Velho”, em preparo no ano de 1.972, mas parece que não aconteceu) 

Quando comecei no Magistério, minha primeira escola era no bairro do Pinhal, em Itapetininga. Nesse lugar havia poucos moradores. 
Na sede do bairro havia uma capelinha, a venda do Pedro Lopes e uma casa onde funcionava a escola. 
No fim de cada mês havia terço na capelinha. Ali se reunia, então, todo o pessoal do bairro. 
Havia reza, briga, tiros, facadas e até alguma prisão. 
Isto porque sempre comparecia ali o famoso Belarmino Velho, um caboclo destemido, briguento e provocador. 
Estava uma tarde na venda do Pedro Lopes, conversando com alguns dos seus fregueses, quando ali surgiu a figura sinistra do Belarmino Velho. 
Adentrou o estabelecimento e, sem dizer adeus a ninguém, mandou encher um “martelo” de pinga, olhou para todos os presentes e depois dirigiu-se para mim: 
- “Seja servido, perfessô!” 
- “Muito obrigado!” – respondi com delicadeza. “Não tomo bebida alcoólica, porque me faz mal”. 
- “Ara, que mar o que!” – disse rindo. “Pinga é remédio! Beba!” 
- “Obrigado, senhor... Eu não posso mesmo beber” – tornei. 
- “Bebe, sim, senhor. Aonde já se viu alguém enjeitar das mão do Belarmino Veio!? Bebe ou conta pra que não qué”. 
Diante da fama do ofertante, achei melhor tomar um gole. E o fiz com enorme sacrifício, pois a pinga foi me queimando garganta abaixo, como se houvera ingerido uma dose de ácido sulfúrico... 
Depois desse dia, não soube mais do desordeiro. 
Também não voltei mais à vendinha do Pedro Lopes. 
Num fim de semana houve um casamento no bairro e fui convidado. Lá pelas tantas da noite, enquanto o pessoal dançava no terreiro, pois a casa era pequena e no seu interior só ficavam as mulheres e as crianças, a mãe da noiva serviu licor de canela a todos os presentes. Quando chegou perto de mim, ela falou-me, enquanto estendia a bandeja com alguns cálices vazios e apenas um cheio: 
- “Seja servido, seo perfessô!”. 
- “Agradeço-lhe muito, mas não posso tomar bebida que tem álcool” – respondi com toda delicadeza. 
- “Mais é fraquinho este licor, tem poca pinga” – insistiu a mulher. 
- “Não quero mesmo, dona Liduína. Muito obrigado!”. 
E a mulher se retirou para dentro da casa. 
Ali perto da porta em que encontrava, ouvi uma voz de velha rabugenta que murmurava para outras mulheres ouvirem: 
- “O perfessô diz que num bebe coisa que tem arco? Mentiroso! Como é que estrudia ele tava bebendo pinga c’o Belarmino Veio na venda do Pedro Lope!?. 
E, como ninguém dissesse nada, aprovando a sua malévola informação, deu um suspiro e acrescentou: 
-“Credo! Que sujeitinho imbustero!”.


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