segunda-feira, 4 de junho de 2012

AINDA A BADERNA DA RUA

...Em 1960, um grupo de rapazes decidiu protestar em plena Praça Tenente Urias em São Miguel Arcanjo, por conta da energia elétrica fraca, num domingo quando a fila do cinema já se fazia extensa e composta na maioria de adolescentes deslumbrados com a atriz Grace Kelly, a qual era nessa fita "Sissi, a imperatriz". Grace Kelly era puma espécie de Sandy para a garotada daquela geração. Pouco antes de começar a sessão, a energia acabou e o tumulto começou. A garotada saiu munida de lata velha gritando palavra de ordem, discursando e defecando no coreto. Resultado: não ficou um banco da praça em pé, e nem os globos das luminárias do jardim que viraram cacos.
...No outro dia, a Praça Tenente Urias estava devastada parecendo um campo de guerra. O delegado da época era nomeado. Ocupava esse o cargo José Seabra, pai do saudoso Aylton do Banco pessoa simpática, dono do Hotel Ipiranga, mas severo com respeito a justiça. Ao lado dele, o comissário de menor Paulino Hermínio Brisola saiu à cata dos guris com menos de dezoito que estivessem participando da arruaça. Não sobrou um para contar história. Todos foram ajoelhar diante da autoridade. Os adultos ganharam uma cela, fiscalizada de hora em vez pelo "Chico Sordado". No outro dia, por volta das quatro da tarde, veio grupo de presos para levantar o banco derrubado ao som do Hino Nacional que se fez ecoar do alto falante cinema, atingindo até os remotos recantos.
...Esses "arruaceiros" conforme foram rotulados pelas pessoas de bem, se revoltaram e foram até as últimas conseqüências com a arma que ele tinham para a reivindicação de uma melhoria que se fazia necessária desde 1907, quando foi implantada a Sul Paulista. Bastava trovejar no Turvinho para acabar a energia. Depois desse alvoroço, a história de São Miguel Arcanjo não registrou nenhum episódio semelhante. Logo veio a Revolução com seu guante e com sua mordaça colocando as coisas no calabouço das idéias. Os meninos dos anos 60, primeiros alunos do Ginásio Estadual Nestor Fogaça eram rebeldes com causa.
...Na rolança do tempo se foram 51anos dessa histórica derrubada de bancos, mas eis que surge na treva das idéias, na noite da ignorância destes últimos tempos os rebeldes sem causas, as bestas apocalípticas do som alto de mil decibeis. Garotos fúteis que tem na cabeça apenas dois neurônios um para comer churrasco o outro para tomar cerveja, com seus carros possantes e som ensurdecedor, desconhecendo que a liberdade de um termina quando começa a liberdade de outro, azucrinando os moradores da cidade pacata em plena madrugada, queimando baseado e falando palavrões em altas vozes, enquanto as autoridades fazem vista grossa, ou porque são filho de gente muito importante e por essa razão permanecem omissos e submissos, se esquecendo do cidadão comum que paga os seus impostos e por isso tem direito a tranqüilidade. Já passou da hora de meter na cadeia esses giramundos da noite, notívagos fantasmas perambulando sem eira e nem beira, apenas satisfazendo o próprio ego doentio com a demonstração do seu poder aquisitivo que nada vale para quem tem brio, contando com a impunidade da lei.
...Nas noites de sábado não há quem durma nas adjacências das ruas Julio Prestes e Siqueira Campos em São Miguel Arcanjo. Nem está neste contexto as quebra garrafas da praça, muito menos as festas "Rave". Questionado na última semana, na madrugada, através do telefone 190, o policial de plantão alegou a falta de viatura. Oras... Quando falamos à respeito dos depredadores de banco do passado, é bom lembrar que os policiais daquele tempo não tinham condução. Os "arruaceiros" de então foram conduzidos ao "xilindró" que nem gado, cercado por um soldado de cada lado. Havia apenas o Laurindo, o Orestes o Alfredão e Chico comandados pelo Benê, recentemente chegado na cidade. A primeira viatura, um jipinho preto e branco só apareceria um ano depois.
...Houve um tempo, nos anos 70, que o destacamento intimava o uso de veículo do cidadão comum, isso sem contar o abastecimento de viaturas mantidas pela Prefeitura em todos os tempos, de forma a suprir a escassez de recurso da Secretaria de Segurança. Nesse tempo, o que podia se registrar como perturbação do sossego era um entrevero com o Joaquinzão e o Tozinho lá na Vila Nova, uma briga no lupanar da Maria Pontes, as firulas de valentão do Zé de Campos para exibir seu corpo avantajado, ou um bate boca mais acirrado no fim de um baile no clube. Mas o povo dormia sossegado.
...São Miguel Arcanjo desejava tanto ser comarca e hoje a gente pergunta pra que? O povo não sabe o que fazer com ela. Para continuar multiplicando o processo de terra e sedução? Aliás, sedução é termo um tanto fora de moda. É hora daqueles que se sentem prejudicados com essa ação invasiva de música em altos decibéis na porta da casas, reunir o visinho e provocarem o Ministério Público. "Provocar" é um termo jurídico. Às vezes por causa do termo, o pessoal fica com medo. Ou então, um abaixo assinado o Juiz de Direito da Comarca, pedindo o patrulhamento ostensivo nos finais de semanas nesses lugares referidos, que queiram ou não, é a única área nobre da cidade e onde se concentra a população de mais idade a qual mais precisa de sossego.
..Ao cidadão comum cabe fiscalizar com cautela anotando placa de veículos contumazes a freqüentar o quadrilátero da balbúrdia, o nome dos seus proprietários e fazer uso do telefone sem se identificar, mesmo que tenha ou não viatura;. É direito seu. Quem está errado é aquele que abre o volume no último em frente da sua residência. Ele sabe que está errado, mas continua fazendo porque tem certeza que o povo simples tem medo. E aí então, eles se impõem. É hora de acabar com essa farra pelas noites de fim de semana em São Miguel. Qual turista acostumado à tranqüilidade de Campos de Jordão permaneceria num lugar com essa característica? É hora de acabar com a triste incultura da bebedeira até perder a noção do limite, da mesma maneira que se deve acabar com o triste culto ao rodeio, dois ícones que representam o que há de mais primitivo à fomentar a nossa ignorância.
...Até a semana. 
Orlando Pinheiro 
PS: Em 1962 só havia uma viatura. Parece que 50 anos depois continuamos na mesma.

PIOR, AMIGO JORNALISTA, PORQUE A QUANTIDADE DE HABITANTES AUMENTOU, VEIO MUITA GENTE DE FORA, GLOBALIZAMOS...

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