Foi na década de 80 que minha amiga Maria Perpétua recebeu um presente inusitado.
Aconteceu que um certo caçador vindo de fora estacionou por aqui, especialmente nas matas próximas ao Rio Taquaral, onde construiu um pequeno barraco.
O povo achava estranho o fato desse homem não cultivar nada por lá. Nem milho, nem um pé de couve ou limão.
Na realidade, ele caçava macacos.
No mato mesmo ele limpava os bichinhos, jogava fora o bucho que depois os urubus vinham comer, arrumava as carnes numa vasilha grande e rumava para as cidades da região.
Naquela época, havia muita gente que comia macaco. Dizem que bem preparadinha, a carne é muito saborosa.
Quem já observou um macaco pelado pode dizer que é idêntico ao ser humano; teria a carne de ambos o mesmo gosto!
Então, um dia, estava o tal caçador atarefado no mato, lidando com os bichos, que nem reparou quando a polícia chegou. Denunciaram o cara!
Deu um dó danado no "seu" João, um policial que servia por aqui naquela época, ao ver a baciada de carne. Mas o que mais o emocionou foi um macaquinho que estava ao lado da baciada de carne. Por certo, a mãe dele também havia sido morta pelo caçador!
"Seu" João colocou aquela baciada de carne na perua, carregou o macaquinho e levou tudo para a casa dos parentes da minha amiga Maria Perpétua.
Gente fez até fila para buscar carne de macaco para comer naquele dia.
Já o macaquinho tornou-se o mascote da família, o bicho de estimação da Maria Perpétua, aliás, o primeiro filho dela.
Naquela época, o prefeito de São Miguel Arcanjo chamava-se Policarpo Torrel Neto. Foi ele quem ajeitou com o Ibama para que ela pudesse ficar com o animal. Tudo documentado, tudo validado.
Quando ela se casou, o macaco foi morar junto, na Rua Campos Sales.
Fez lá um fechadinho para ele, que nem adiantava muito, porque ele pulava tudo que era cerca.
Muitos não gostavam nada de ver aquilo. O macaco rasgava tudo que era roupa que via estendida pelos varais da vizinhança.
Ainda hoje, ela se lembra dele com lágrimas nos olhos. Era mansinho, nunca ficava nervoso.
Comia de tudo: pão, bolacha, banana, sorvete, vinho, cerveja. Gostava de chupar ovo. Para isso, ele dava uma quebradinha no ovo e fazia um furinho com a unha (às vezes, alguém o ajudava a furar o ovo, porque ele demorava bastante, coitado!).
Dormia no galinheiro junto com as galinhas, abraçado com as galinhas.
Lavava roupas, só que depois rasgava tudo.
Pois não é que quando Serginho, o filho de Maria Perpétua, nasceu, ele até ajudava a cuidar da criança? Subia na cama e ficava demoradamente olhando para o menino.
Jamais fez nenhuma maldade.
Só que os vizinhos - alguns tinham até um pouco de inveja talvez porque não possuíam um animal desses no quintal - não estavam nada satisfeitos.
O que fizeram?
Aproveitando um dia em que ninguém estava na casa, soltaram para dentro do quintal dois cachorros dos mais bravos.
Questão de minutos.
Eles estraçalharam o macaco!
Era o dia 24 de agosto de 1.988.
Maria Perpétua jamais se esqueceu.
Na foto, o macaco, ajeitando-se para uma soneca na estante junto com as peças que a professora arrecadava por aí, a fim de montar o seu museu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário