Onde hoje se situa a Fazenda Dom Bosco, estrada que vai de São Miguel Arcanjo para Itapetininga, sentido Distrito de Gramadinho, que antes se chamava Serra Velha, e hoje, simplesmente Bairro do Facão, ali viviam dois irmãos, o Adelino e o Pedro Boava.
Pinguços que só vendo. Mas pinguços do tipo cultos, pois quando ‘altos’, garravam a fazer discurso, e se abraçavam e se beijavam. Eram dois rapazes que se queriam muito.
Nem pareciam irmãos, pois nunca brigavam entre si e com ninguém.
No trabalho, não tinha páreo para eles. Eram paus para toda obra.
Um dia, o Pedro foi picado por uma cobra das venenosas, mas não dava tempo de levar o pobre para tomar o soro do Butantã.
Adelino ficou desnorteado.
Não sobreviveria ao irmão querido.
Precisava salvá-lo.
Mais que depressa.
Ligeiro, afiou uma faca de ponta e foi cavocando, cavocando o braço do moribundo.
Veneno escorria, ele corria atrás do veneno.
Quanto mais ligeiro o veneno escorria, mais a faca cavocava.
E os dois irmãos gritavam e choravam juntos, num lastimoso pedido de socorro.
Quando o Pio Válio chegou, ele que era curador, mas também amante de umas pinguinhas, tratou logo de jogar no caminho feito pela faca aquele preparado cor de sangue que só ele mesmo sabia como era feito.
A língua enrolada, parece que rezava um terço, dois terços, três ou quatro mais.
Ao final, os dois amigos acabaram desfalecendo de tanto suar e de tanto cansaço.
Quem presenciou o acontecido, achou que os três haviam morrido.
Só pela hora da Ave Maria é que os homens foram abrindo os olhos, mexendo os braços e estranhando aquela situação.
Disse o Pedro:
- Sonhei que Nossa Senhora das Águas veio me abençoar. Me fez até prometer nunca mais por uma gota de pinga na boca.
E, virando-se para o irmão:
- Me ajuda, né, Adelino?
Dizem que dessa vez em diante os Boava nunca mais beberam.
O amigo Pio?
Esse dizia que só deixaria de beber quando sonhasse com a Nossa Senhora das Águas do Pedro.
Mas Pio nunca acreditou em Iemanjá!
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