Meu pai, o saudoso Gijo Válio, que foi de tudo nesta vida, no tempo em que se votava fazendo um x no quadradinho ao lado do candidato, assim filosofava:
Enquanto o Presidente Collor faz exercícios na avançadíssima Suécia atentando preferencialmente à sua saúde.
Enquanto o Ministro do Trabalho passeia de braços dados com duas lindas garotas em Estocolmo.
Enquanto verbas assustadoras são destinadas aos usineiros do Nordeste.
Enquanto os ladrões da Previdência estão à solta com seu dinheiro bem guardado esperando, obviamente, o momento propício para ser despejado ao seu bel- prazer.
Enquanto os deputados federais e estaduais engordam cada vez mais seus salários.
Senadores, nem se fale.
Prefeitos se valem do cargo para o proveito próprio.
Vereadores idem com seus vencimentos...
Enquanto...Enquanto... É essa a situação do nosso país.
Enquanto a safadeza se esparrama em seus quatro cantos, de uma forma ou de outra, os aposentados, notadamente os rurais, sofrem a desilusão com tudo que lhes dizem respeito aos seus direitos adquiridos pela Constituição recém aprovada.
A gente que leu sobre as barbaridades daquela Idade Média onde os senhores feudais tinham lindos castelos para morarem e gozavam seus dias, possuíam escravos à disposição para tudo, faziam banquetes a rodo, dispunham de mulheres à vontade, claro, sabe que isso aconteceu há muitos séculos. Porém, de certa forma, esses costumes só foram mudados mesmo em países que se civilizaram.
O povo, principalmente o trabalhador, o que constrói, o que efetivamente produz produtos e bens materiais ou alimentares para o resto da população, acha-se beneficiado pelas leis que o protegem, adquiridas pela sua capacidade de reivindicação desses seus direitos.
Entretanto, em países como o nosso, tudo parece estar sob aquelas condições da Idade Média.
Um terço da nossa gente, senhores absolutos, vivem na mordomia com privilégios escancarados sob outro tanto que são uns coitados que se batem a vida toda indo atrás da sobrevivência.
Os programas gratuitos dos partidos políticos tem a coragem de mostrar os aposentados e os demais sofredores com suas caras carcomidas, estorricadas pelo tempo e pela fome, cuja comparação não se pode fazer nem de leve com as dos magnatas da hipocrisia que se agarram na política e nos tantos e tantos meios de enriquecimento ilícitos.
Os rostos deles - eles não tem caras, tem rostos!- são coloridos, macios, todos eles maquiados pela própria consistência adquirida pelo empanturramento a que são submetidos através das regalias da vida, pelo fácil acesso às delícias que o dinheiro pode proporcionar.
É duro imaginar que existe um Deus no céu e não vê tudo isso.
O Deus nosso de cada dia, Aquele que está no nosso coração, no coração dos puros, está vendo, porque nos corações maus, hipócritas, insaciáveis, Ele não existe.
E então a gente fica pensando no Juízo Final onde o sofrimento será excluído e a nossa alma será salva.
Enquanto isso não ocorre, o que se espera é reza e rezar com afinco para buscar amenidade ao sofrimento com a esperança divinal.
Penso que essa incongruência é pura e simplesmente fruto da ignorância.
Enquanto existir essa intransigência na vida dos homens, dos homens de países como o nosso, repito, tudo será como sempre foi: pobreza, ingratidão, safadeza e outros bichos.
É por isso que venho teimando para que os homens de consciência se ajustem na educação do nosso povo, justamente porque na hora que ele souber fazer, com a devida sabedoria, o X no quadrado, este quadro vai mudar.
Continuaram, ainda piores, porém, todas as outras coisas por você um dia enumerou.
Mas, meu pai, graças a Deus que o país ainda se chama Brasil. Essa referência não podemos perder jamais.
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