quarta-feira, 29 de agosto de 2012

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALAMOS DE FOLCLORE:


 "O CAUSO DA MULA PRETA"                                               

Esta nos foi contada por José da Glória Borges,  morador no Bairro do Guararema, no município de São Miguel Arcanjo, quando contava com 80 anos de idade, no ano de 2.008.
O João Mariano, marido da Nhá Cota, tinha uma fazenda pelos lados do Rio do Turvo.
Era tropeiro e, de vez em quando, descia até o Rio Grande do Sul para buscar tropas. 
Uma vez, comprou uma das maiores tropas que se viu no sul do país. De um criador de mulas, gaúcho da gema. A promessa era de pagar tão logo vendesse os muares na feira de Sorocaba. 
O tempo, porém, foi passando e nada do João Mariano voltar ao Rio Grande para pagar ao amigo. 
Meio adoentado e necessitado do dinheiro, o gaúcho resolveu vir atrás do tropeiro paulista para buscar o que lhe pertencia. 
Tão logo ouviu as palmas no portão, Nhá Cota atendeu pela porta da frente, dizendo ao cobrador que sentia muito, pois o marido havia falecido há quase dois anos, já, e, como não havia deixado recibo de crédito nenhum, não poderia pagar a dívida. 
O gaúcho, desconsolado, pôs-se andar a esmo pela vila. 
Como é que voltaria para casa sem o dinheiro? Foi quando, de repente, uma mula preta marchadeira, toda ornada de prata, parou e, de cima dela, um homem muito garboso, lhe perguntou: 
- O que é que estás a cismar, homem? 
Com vontade de extravasar a dor que sentia, nem percebeu que acabou contando tudo ao recém-chegado, que lhe respondeu: 
- Então, vosmecê queres falar com o João Mariano? Pois eu te levo o senhor para onde ele está. Monta na minha garupa, fecha os olhos e num instante, já, já, chegamos lá. 
Com efeito, chegaram. E viram o João Mariano sentado num toco de pau e os amigos dele, cada um no seu próprio toco, jogando truco. 
Era o Antonio de Campos, o pai da Carula, os irmãos Pedro Paulo, João Paulo, Belarmino Paulo, e outros meio desconhecidos do gaúcho. 
Era truco pra lá, era truco pra cá. 
O cavaleiro misterioso apeou da mula, cochichou no ouvido do João que olhou detidamente pelos lados do gaúcho, deu uma cuspida no chão avermelhado, escreveu alguma coisa num papel escuro e entregou ao mensageiro. 
Quando o gaúcho deu por si, estava lá de novo, em frente à porta da Nhá Cota, com um recibo na mão. 
A mulher leu o que estava escrito e lhe disse: 
- Agora sim, pago ao senhor, porque a letra é do meu finado marido, mesmo. 
O recibo estava todo manchado de sangue.
Nhá Cota jamais desmentiu esta história.






OBS: 
Até dezembro, sai o volume 2.

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