domingo, 17 de fevereiro de 2013

O VELHO E O NOVO

A crise revelada na Igreja pela renúncia de Bento XVI pode significar a volta do confronto ostensivo de décadas atrás entre conservadores e progressistas. Estes já haviam entregue formalmente os pontos, durante o pontificado de João Paulo II. Ilude-se quem supuser o novo Papa assumindo e logo autorizando o uso da camisinha, o casamento de padres, de homossexuais, a liberação do aborto ou a abertura do sacerdócio a mulheres. Muito menos a negação do inferno ou da existência do Capeta. Mas é por aí que o véu começa a romper-se, ainda que ninguém no Vaticano venha a admitir.
Dividiu-se o conservadorismo eclesiástico, inoculado pelo eterno e renovador germe do progresso. Não houve força nem vontade suficientes para demover Joseph Ratzinger de pedir as contas. Mantê-lo seria opção mais do que lógica para preservar as coisas como estavam e evitar o tumulto na instituição milenar, mas nem ao menos registrou-se alguma tentativa de vulto. Parece que ao seu redor esperava-se e até se estimulava a deserção, por conta da necessidade de renovação.
O presente embate, cheio de sutilezas, trava-se sob o rótulo de “o novo contra o velho”. Mais ou menos a mesma coisa do que entre conservadores e progressistas. Caso não perceba o fenômeno, o novo Papa se condenará a ser cada vez mais o bispo de Roma e menos o chefe da cristandade.

Carlos Chagas in Tribuna da Imprensa.

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