A vida é feita de períodos.
Mas não é justo que a gente chegue numa certa idade em que precisa ir-se despedindo das coisas, não é mesmo?
Por exemplo, das comidas que gosta, do esporte que ama, dos decotes, das saias curtas, das agitações e loucuras momentâneas com os amigos; mesmo que estes sejam apenas amigos da onça que habita no fundo de um copo cheio de álcool e que nos arrebata, nos envolve num enlevo que se parece com vida, mas é morte mesmo, como só agora percebemos.
Parece que de repente até o amor faz mal, e, bem assim, a ansiedade da espera que adoece o coração batendo numa vontade de aconchego.
Porque os órgãos vão se atrofiando, os ossos endurecendo, os movimentos tornando-se cada vez mais lerdos, os pensamentos voando longe da realidade, mais para o passado, para as coisas que já foram sonhadas e vividas, para os erros que precisaram existir.
Os sons vão ficando distantes e aborrecidos e as palavras mais raramente saem da boca.
Ah! O abandono das mãos, a falta de vontade, as dores que acordam junto com o amanhecer depois de uma noite insone, a insensibilidade que se encarrega de esfriar o termômetro da vida lentamente.
A introspecção ruminativa da solidão.
A falta de carinho real e a sabedoria que derruba por terra todas as ilusões e a certeza de que, afinal tudo foi passageiro e cada trem que para na estação pode ser aquele que definitivamente nos levará de volta ao ventre da terra.
Tem um trecho inquisidor que fala assim:
- Aí pergunto a Deus: - Escute, amigo, se foi pra desfazer, por que é que fez?
Assim como a dupla, não tivemos a intenção de deprimir ninguém com este texto, não, porque é a pura verdade.
Mas não alonguemos mais do que isso, porque a vida segue seu curso.
Boa tarde, amigo.
Envolva-se com a vida!
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