segunda-feira, 20 de maio de 2013

Doce do caule do JARACATIÁ vira patrimônio paulista

DANIELA SANTOS
DE RIBEIRÃO PRETO
FOLHA DE SÃO PAULO

O sabor lembra o de coco, a textura se assemelha à do doce de sidra e, quando o açúcar é queimado, a cor remete à do doce de banana. 
Mas uma das sobremesas típicas das Folias de Reis não tem nenhum desses frutos.
Produzido pela mesma família há três gerações, o doce de jaracatiá não tem coco, nem sidra, nem banana: é feito do caule e da raiz da árvore que lhe dá nome.

Edson Silva/Folhapress 
Na motosserra: Adauto Assis serra caule de jaracatiá para fazer o doce.
Graças a um pedido da família Assis, o jaracatiá e suas derivações (incluindo o doce de caule) foram reconhecidos como patrimônio imaterial da culinária paulista pela Comissão Nacional do Folclore neste ano.
O doce é produzido em um sítio que fica a cerca de cinco quilômetros de Santo Antônio da Alegria, interior paulista, onde vive a família.
Depois que a árvore é arrancada, retira-se a casca do caule, que é cortado, lavado e ralado. 
É então colocado em tachos de cobre em fogão a lenha, com água. 
A mistura ferve por duas horas, a água é escorrida e, em fogo baixo, adiciona-se açúcar.

Edson Silva/Folhapress 

No tacho: no fogão a lenha, caule cozinha com açúcar queimado e ganha coloração escura.
A sobremesa é parte da tradição da Folias de Reis -festa folclórica e religiosa típica do interior realizada todo dia 6 de janeiro- em Santo Antônio há pelo menos 80 anos.
O produtor de café Adauto Augusto de Assis, 47, é um dos responsáveis pelo sucesso que o doce faz em Santo Antônio da Alegria e por sua disseminação cultural.
No ano passado, ele participou do festival Revelando São Paulo, que difunde a cultura tradicional do Estado. 
Levou o doce para as cidades de Iguape, Atibaia, São José dos Campos e à capital.

Edson Silva/Folhapress 

Na bandeja: em Santo Antônio, sobremesa é servida nas comemorações da Folia de Reis, em janeiro.
Assis conta que, quando pequeno, acompanhava o avô Antônio Leocárdio da Silveira durante todo o processo da produção. Com a morte do anfitrião, aos 78 anos em 1988, ele passou a também produzir o doce.
Desde então, todo ano no mês de dezembro Assis e o tio Arlindo Francisco da Silveira, 58, arrancam um jaracatiá para a produção da sobremesa para as festas da região.
Assis disse que arrancou cerca de 20 árvores e plantou outras 800 nas áreas rurais e urbanas da cidade e de municípios vizinhos. 
Hoje, tem um viveiro com mil mudas.
Segundo o produtor, o tronco de uma árvore pode render de 500 kg a 1,5 tonelada de doce. 
Além da sobremesa feita do caule, Assis também produz o jaracatiá em calda e desenvolveu uma geleia com o sabor da fruta.
Há cerca de três meses, ele resolveu deixar uma quantidade do fruto de molho na pinga para criar o licor de jaracatiá. 
A invenção ainda está em desenvolvimento, mas em poucos dias, Assis pretende provar o "novo produto".
ONDE COMPRAR
Sítio São Jorge: Comunidade dos Pinheiros, em Santo Antônio da Alegria, tel. 0/xx/16/9997-9263; de R$ 5 (600 g) a R$ 80 (10 kg).

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