quarta-feira, 22 de maio de 2013

" O CEGO E O PARALÍTICO"

Foi uma infelicidade para a família inteira, aquele infortúnio que assaltou o Praxedes, aos dezoito anos de idade; uma nuvem foi, aos poucos, lhe descendo sobre os olhos, até que o pobre rapaz se viu, na flor da idade, completamente cego.
Recolhido a uma casa de saúde, foi-lhe fácil arranjar um amigo. A infelicidade é o verdadeiro esperanto da humanidade, e foi ela quem aproximou do Praxedes o Antônio de Barros, que errava pelos salões do hospital, completamente paralítico, e apenas com o uso da língua, sobre uma pequena cadeira de rodas.
Tornados íntimos, o Praxedes, com o seu bom humor habitual, fazia o possível para distrair o companheiro.
E, um dia, propôs:
- Sabe de uma cousa, meu velho? Vamos casar?
- Com quem?
- Ora, com quem!... Com uma mulher, está bem visto.
- Com uma só?
- Com uma só... Então?
E alegre, com os seus olhos apagados:
- Você olha... e eu abraço!
Anos depois, ficaram bons, os dois. E fizeram o negócio.

In "Grãos de Mostarda", de Humberto de Campos.

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