domingo, 7 de julho de 2013

CONHECENDO CERTAS MULHERES:

                    
A NOSSA EDUCAÇÃO

Contribuir para o progresso das luzes e aperfeiçoamento moral, tal deve ser o empenho daqueles que aspiram um elevado destino à pátria, e sentem quando ela se acha ainda dele distante.
A atividade consciente  racional que é o apanágio do homem, tem operado neste século a mais admirável transformação, quer no mundo físico, quer no mundo intelectual, mas o triste preconceito que infelizmente predomina em muitos espíritos antagonistas do nosso desenvolvimento físico, intelectual e moral, conserva-nos ainda comprimidas nos acanhados moldes de educação que nos legou a Idade Média.
Com raríssimas exceções, os pais com uma glacial indiferença olham para o importante assunto da educação de suas filhas, esquecidos de que elas são as mães da Humanidade, e que, privado do desenvolvimento da razão e da reflexão, o espírito que não recebeu na infância a impressão profunda e indelével da virtude gravada pela natureza e pela educação, abandonado às suas más impressões, será eterno ludibrio de erros e paixões.
"Se, como diz Mme. Stael, a vitória da luz foi sempre favorável à grandeza da Humanidade, por que recusá-la a essa metade do gênero humano, que, exercendo a notável influência sobre os costumes dos homens, produziria uma feliz modificação na outra metade? Mas é que certos espíritos refratários do progresso social não querem compreender que, trabalhando desveladamente pela educação de suas filhas, e modelando-a pelo estado de progresso e modo de ser da sociedade atual, trabalham para a sua própria felicidade. 
Relativamente a eles podemos dizer como Chateaubriand: " O gosto e a admiração do estacionário provém dos juízos falsos que forma  acerca da verdade dos fatos, porque ele supõe que os costumes antigos eram mais  puros que os modernos, completo engano acerca da natureza do homem, porque não quer ver que o espírito humano é perfectível".
Entretanto, seria injustiça não reconhecermos por entre as camadas profundas dessa apatia quase geral de muitos, dessa indiferença e obstinação de outros, homens distintos e esclarecidos, que animados dos mais nobres e generosos intuitos, tem prestado adesão a nossa causa, marchando a par dos povos mais adiantados e acompanhando assim as grandes ideias do século.  
Educar a mocidade, filtrar as almas são princípios tão raros hoje em dia, reprimir ou sequer moderar o pendor vulgaríssimo à fome das riquezas e sede das delícias é, na condição de um particular, servir o público utilmente, tal é o pensamento de Sêneca.
A nossa primeira educação, aquela que devia ser dirigida por elevadas vistas, e que devia ser preferida na ordem do aperfeiçoamento, por ser a que tem mais influência sobre o resultado das outras; essa boa ou má, foi o que a incúria dos nossos antecessores quis que fosse, e pode-se assim dizer que a nossa moral nasceu ao acaso, no abandono.
Dir-me-ão talvez que os vastos horizontes do saber estão hoje patentes aos nossos olhos e que, apesar de excluídas do templo de Thenis, todavia existem estabelecimentos onde possamos haurir uma instrução variada e profícua; mas colocando de parte o limitadíssimo número daqueles que o podem conseguir, toda a ciência que coroa o escasso ensino que nos dão consiste na leitura, escrita, contabilidade, música, canto e dança: quanto ao estudo das leis naturais que constitui a higiene, a fisiologia, a história natural, a economia e a moral, são coisas em que ninguém pensa.
É com justa razão que os homens censuram-nos à pouca ou nenhuma importância que ligamos às coisas sérias, ao passo que manifestamos sempre grande predileção pelas futilidades.
A razão disto provém de que desde a infância consideradas como ídolos destinados a brilharem na sociedade, e a se alimentarem de incenso, em vez de incutirem-nos virtudes na alma e vigor no espírito, ensinam-nos o gosto da ostentação do luxo e das banalidades, sendo que a lição de maior alcance que recebemos é agradar exclusivamente pelos atrativos do corpo. E assim, sem luzes, sem experiência, sem princípios e sem ideias que nos guiem na vida e nos desviem do cairel do abismo, quando assumimos a nobre e elevada missão de mãe comprometemos e sacrificamos por vezes a felicidade e o bem estar dos entes que nos são mais caros.
"É desta forma, diz um autor de notas, que vemos tantas vezes desaparecer a vida da família, que tem tanta doçura e encantos para as almas que podem ter em comum sentimentos elevados e congregarem-se em torno de uma ideia santa; desta maneira, a moral que só se cria na família, se extingue gradualmente e deixa entrar hábitos, instintos, usos de convenção, costumes artificiais, sem raízes na verdadeira natureza do homem, sem norte nem relação ao fim verdadeiro, que enfraquecem a energia primitiva, sujeitando a vida a fórmulas caprichosas e a modos humilhantes."
Se esses podem ser os tristes resultados da nossa educação descurada, não devemos, contudo, perder a coragem e nem renunciarmos o papel sublime que nos foi designado por Deus na família; assim, longe de ficarmos na hirta inanição dos colossos egípcios, cumpre-nos remediar o mal que ameaça a nova geração, convergindo todas as nossa forças a fim de guiarmos com mais carinho a educação da infância no seu primeiro estado, e, com isso podemos retribuir em parte um tanto ou quanto de dedicação que devemos a nossa pátria.
ANÁLIA FRANCO

Extraído do jornal "A Família", propriedade de Josephina Alvares de Azevedo, de 25 de maio de 1.889. 


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