domingo, 18 de agosto de 2013

AS AVÓS NÃO REZAM MAIS...

O que fazer num domingo frio e sem graça?
Sair por aí a perturbar outras pessoas?
Ou receber pessoas em casa para comer, fofocar e assistir TV?
Que nada!
O negócio é assistir uns filmes (não vale comédia!), empoleirada no sofá da sala, tendo por companhia unicamente uma gata malhada enrolada num antigo cachecol.
Cachecol lembra minha avó Lila.
Lembro que nos dias frios como os deste inverno, minha avó orava bem mais do que estava acostumada.
Como eu era a única "criança" que permanecia na casa dela, e jamais lhe dei trabalho algum, porque então eu ficava lendo ali num cantinho, olhando de vez em quando para aquele rosário de contas grandes que ela carregava nas mãos sendo engolido lentamente pelas suas preces.
Mas demorava um montão. 
Às vezes, ela rezava dois, três terços, embalada em mística alegoria, sentada no seu cadeirão de balanço.
Parecia entrar em transe, cabeça baixa, mão por sobre a testa. 
Pode ser até que dormia, quem vai saber? 
E quem ousaria falar com ela naquele estado? 
Se dormia, depois acordava e começava tudo de novo, não havia mal nenhum.
Eu achava que um dia minha avó ainda se tornaria santa de tanto rezar, mas não foi assim, nem milagres ela fez. 
O verdadeiro milagre seria se ela jamais tivesse que partir, pois nós nos amávamos tanto!
Obrigada, minha avó!

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