Fazia um bom tempo que não me lembrava de Paulo Lébeis Bomfim, o príncipe dos poetas brasileiros, que nasceu em 30 de setembro de 1.926.
Seus poemas sempre me acompanharam na adolescência, aquela fase meio besta da vida da gente, quando tudo parece difícil e sem motivo.
Depois, na luta pela sobrevivência, nem me dei conta mais dos versos-verdades de Paulo.
Esqueci.
Achei que ele já havia partido "antes do combinado", mas na verdade Paulo Bomfim continua na ativa: em julho do ano passado, o Tribunal de Justiça fez até uma homenagem ao poeta que é assessor especial da Presidência do TJSP e trabalha no Judiciário paulista há quase 50 anos.
Quem não sentirá um baita orgulho por Paulo Bomfim ser brasileiro?
Só louco!
Abaixo, uns sonetos dele.
1. "SONETO DOS MUITOS EUS"
Um eu ficou no mar aprisionado
E deixou-me por pés as nadadeiras;
Outro ficou nas nuvens caminheiras,
Por isso bato os braços no ar parado.
Um eu partiu menino ensimesmado
E ofertou-me palavras verdadeiras,
Outro amou suas sombras companheiras,
Outro foi só, e um outro de cansado
Caminhou pelos becos.
Há também
Aqueles que ficaram na poesia,
Nos bares, na rotina, o eu do bem,
Do mal, o herói, o trágico, o esquecido.
Eu gerado por mim na liturgia
De um todo para tantos dividido!
2. "SONETO DO MORRER DIÁRIO"
Mato-me por descuido ou de cansaço,
Como alguém que saltasse dividido,
(Um eu premeditado, um eu perdido,)
Em divórcio irreal em seu espaço.
Morro de morte inútil. Cada traço
De meu rosto fiel jaz diluído
Na emboscada do espelho, repetido
No olhar dos saltimbancos onde passo
Como um filme qualquer, um filme mudo
De atores com vontade de partir,
E sentimentos que perderam tudo.
Morro assim, dia a dia, e meus segredos
Serão círios ardendo quando abrir
Uma rosa de estafa entre meus dedos.
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