sexta-feira, 4 de outubro de 2013

SÃO JOAQUIM DA BARRA: RELEMBRANÇAS DE UM EX-PADRE - PARTE I


Não há livro que não inspire.
Muito bem escrito, bem que merecia esta autobiografia do padre, aliás, ex-padre Aníbal Pereira Reis, tornar-se filme, a exemplo de "Marcelino Pão e Vinho".
Nascido em 1.924 e morto em 1.991, ele escreve sobre muitas coisas. 
Dentre elas, um punhado de "reminiscências sobre festas religiosas e tipos populares" do seu tempo, quando vivia em São Joaquim da Barra, sua terra natal, as quais vamos aqui transcrever:


" Os estrangeiros não conseguiram implantar em São Joaquim da Barra as tradições de suas pátrias. Os portugueses se limitaram aos fados entoados, em horas de lazer, nas portas dos patrícios.
Os italianos fizeram mais força, sobretudo com a fundação da Sociedade Italiana que os reunia em grandes comemorações na ocorrência das datas patrióticas do seu país.
O ponto alto das celebrações era sempre o banquete em que os convivas, brutalmente, comiam macarronada e, com sofreguidão, bebiam vinho, soltando impropérios e xingando o governo brasileiro que não se importava mais com o café.

Prédio da Sociedade Italiana, inaugurado em 20 de setembro de 1922. Na foto vemos: Otávio Maito,?????, João Maria Basso, Domingo Russo, Clemente de Lollo, Ermínio Stori, Ernesto Barbanti, Fioravanti Della Vechia, Fidelis rossini, João Volpini, Luiz Consoni, Pedro Meneguini, Sponton, Barrilim e Bonavena.

O Ermínio Stori, impreterivelmente, vomitava blasfêmias contra o Bepim Badagnan porque nunca lhe permitia sair do segundo lugar na classificação do concurso de gastrônomos.
A Banda Musical Dante Alighieri, nessas oportunidades, apresentava-se impecável.
O vigário da cidade, descendente de italianos, nunca faltava como orador oficial e como exímio competidor nos campeonatos de "bocha".
Quando a Itália venceu a guerra contra a Abissínia, a Sociedade promoveu festas jamais vistas.
Os pobres dos pretos nem podiam por a cara na rua.
Os rojões atroavam os ares, acordando ecos distantes para completar a emoção dos assentos marciais da "Giovenezza, Giovenezza! Primavera di Bellezza!"
À estação da missa, o padre falara com tanta vibração que os lenços ficaram empapados de lágrimas.
"Os canhões italianos são vitoriosos! As bençãos do Papa Pio XI fecundaram nas gargantas dos nossos canhões essas vitórias! Vitórias! Mil vitórias para nossa amada Itália!!!"
A vida dessa Sociedade, porém, teve aspecto intermitente. E acabou morrendo, em 1.942, quando o Brasil entrou na guerra contra a Itália. 
Coitados dos italianos que perderam as salas onde falavam mal do governo porque não se interessava pelo café!
O povo apreciava mais as tradições brasileiras que aos poucos conquistaram a simpatia, o entusiasmo e a adesão absoluta dos estrangeiros.
Os seus filhos foram levados de roldão pela torrente das vibrações brasileiras que dispõem da capacidade formidável de absorver o entusiasmo daqueles que vem radicar-se aqui.
Desafios à viola...
Canjerês...
Canas verdes...
Mutirões...
Congadas...
Batuques...
O arrasta-pé dos bailes puxado à sanfona de 120 baixos..."

As fotos são do Blog CRÔNICAS DE SÃO JOAQUIM DA BARRA, DE LÚCIO DE OLIVEIRA FALLEIROS.

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