sábado, 2 de novembro de 2013

POEMAS DE JÂNIO QUADROS"


Acabamos de "herdar" um volume da obra de Viriato de Castro que tem como título: "O FENÔMENO JÂNIO QUADROS", 1a. edição, 1959.
São mais de 50 anos, portanto.
A capa já está bastante rota e deslocada do resto do livro.
Existe na primeira página uma dedicatória a algum Epaminondas, que bem poderia ser Epaminondas Ambrósio, ex-presidente da Associação Comercial de Itapetininga.
Não tivemos o privilégio de conhecer o autor. 
Ficamos sabendo que hoje está com 76 anos de idade e reside em Brasília, através da jornalista Conceição Freitas que escreveu sobre ele no jornal "Correio Braziliense", edição de 15/05/2010 à qual tivemos acesso:
- "Em 1959, ele se casou com a mineira Maria Clementina, filha dos mais antigos moradores de Brazlândia. O casal se mudou para a casa, que já era quase centenária, e, para tanto, trocou o madeiramento do telhado. Foi a última grande reforma feita numa das mais antigas construções que ainda estão de pé no Distrito Federal. A mudança para a casa velha, rodeada de monjolos, aconteceu dois anos depois de Planaltina começar a receber agitados visitantes. Eram os primeiros candangos que iam à cidade em busca de alimentos, ferramentas, remédios, utensílios domésticos. “A gente ouvia falar (na mudança da capital), mas não acreditava. O avô de Viriato, também Viriato de Castro, havia sido guia da Missão Cruls, no fim do século 19. O pai, Velusiano, ajudou a erguer a pedra fundamental de Brasília, em Planaltina, em 1922".
Obrigada, Viriato!
Através do seu livro é que ficamos conhecendo o grande homem, gênio e poeta Jânio Quadros e queremos aqui dividir com supostos leitores admiradores do estadista, três poemas que fazem parte de tão preciosa obra.

      1. "MESTIÇO"

É a história da raça; o peito freme
À lembrança da marcha nas picadas
E chora no meu eu e chora e geme
O cativo saudoso das congadas.

Há medos no meu eu que anseia e treme;
Há soluços e pragas sufocadas.
Eu sinto em mim o sangue de um PAES LEME;
Eu sinto em mim a fome das estradas.

Eu sinto em mim a guerra aniquilante,
Movida pelo sangue bandeirante,
À mansuetude de africano, à calma.

E choro no silêncio percebendo 
Que vou passar a vida recolhendo 
Destroços do meu corpo e da minh` alma!

(Arcádia, abril 1938)

2. "RETRATO"

Ela chorou... Vi lágrimas fugindo
Dos seus olhos de pedra esmeraldina,
- Pérolas soltas do colar mais lindo
Jamais colhido nalgum mar da China!

Joia soberba de valor infindo
Que uma ganância atroz, cruel, ferina,
Roubou em dores e roubou ferindo
Os seus olhos formosos de menina...

Ela chorou... E após, maravilhado,
Vi uma luz fulgurar no esverdeado
Das pupilas brilhantes e doridas.

Enxugara-se o pranto. E, num segundo, 
Ela espelhava toda a dor do mundo
E os desenganos de um milhar de vidas!

(Arcádia, 1938)

3. E A MOCIDADE PASSA...

Não me fales da dor! Eu vivo a mocidade
Na embriaguez febril de um dia de partida,
Quando há alegria e pranto e sente-se a saudade,
Antes da despedida!

Não me fales da dor! Eu também sofro, amigo,
Quando agoniza o dia e à luz incerta e baça
Eu choro a mocidade que envelhece e digo:
- Mais um dia que se passa!

Não me fales da dor! Eu a sinto em meu peito
Quando descamba o sol e à curva do caminho,
Murmuro no silêncio do coração desfeito,
- Sou um moço velhinho!...

(Arcádia, 1939)
  

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