sexta-feira, 29 de novembro de 2013

UM POEMA DE ULYSSES MELGES


"EU VI MINHA INFÂNCIA" 

Eu vi minha infância nascer numa longa viagem 
Num carro de boi em plena selva, com bela paisagem.

Tudo foi deslumbrante, o que ficou gravado na memória.
Meus pais como pioneiros, entrando em selva bruta.
Com a família no fim da picada, disposto a luta
Teve início para mim, esta verídica história.
Eu vi, quando tinha apenas três anos
Meu pai com esperança, desconhecia os enganos

Com a família num carro de boi, entrou selva a dentro.
Eu e meus irmãos, como gatinhos enrolados no cueiro
Viajando no fundo do carro, ouvíamos o berro do carreiro
Que falava os nomes dos bois, para dar alento.
Eu vi, a grande mata que sobre nós passava
Como monstros a beira da estrada, enquanto o carro andava
Assim me parecia, que as árvores estavam andando.
Nesta longa viagem, que durou o dia inteiro
Os bois arrastavam as patas, enquanto gritava o carreiro
E lado a lado do caminho, as árvores iam ficando.
Eu vi, nesta viagem longa de muito calor
A estrada chegar ao fim, em lugar desolador
Que só grandes matas se via, em todos 
quadrantes.
Senti que o sofrimento me chegou bem cedo
Com toda minha infantilidade tive medo
Que até hoje sinto arrepios, do passado relevante.
Eu vi, começar em minha família, a grande luta
Em lugar inóspito, no meio da selva bruta
E nada eu poderia fazer apenas observar.
Minha mãe doentia, cuidava do serviço caseiro
Enquanto meu pai, enfrentava o sol o dia inteiro
E ainda à noite fazia trabalhos, sem descansar.
Eu vi, o estado de desconforto, que minha família
estava
Meu pai como artesão, tudo ele fabricava
Sem tecnologia, usando apenas sua criatividade.
Tudo era rústico, apenas para superar os problemas.
Num trabalho intenso, dentro de seu esquema
Chegando a vencer tudo, com seu amor e habilidade.
Eu vi os longos anos passarem, até que um dia findou
Aquele sofrimento que em minha família marcou
Uma desilusão, deixando um misto de saudade.
Que com gosto de mel e fel, ficou na lembrança
Daquele tempestuoso tempo, até que chegou a bonança
Para minha infância que passou, em inteira tempestade.
Eu vi, naqueles dias de sol, para mim em alegria
Mas para os demais, luta insana, nas horas que corria
Num trabalho interminável, o dia inteiro.
Mas um dia Deus pôs fim naquela luta
E transportados numa carroça, saímos da selva bruta
Para lugar distante, mas com destino certeiro.

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