quinta-feira, 25 de setembro de 2014

E AS DUAS PANELAS DE LA FONTAINE


A panela de ferro e a panela de barro


Panela de ferro propôs à de barro 
Que juntas fizessem pequena excursão; 
Mas esta escusou-se, julgando prudente 
Ficar no seu posto, juntinho ao fogão.

"Um toque (diz ela) reduz a pedaços 
Meu todo argiloso, tão frágil e inerme; 
No entanto, a senhora não teme os embates, 
Pois é protegida de rija epiderme." 

PANELA DE FERRO 
"Prometo-te amparo; irei afastando 
Os corpos que danos te possam causar; 
Porei de permeio, passando por eles, 
Meu bojo que o embate lhe dá de afrontar." 

Tentada da oferta, panela de barro 
Ao lado da sócia começa a jornada; 
Três pés arrastando, coxeiam, tropicam, 
E - tem-te, não caias - lá vão pela estrada. 

Encontram-se, esbarram a cada momento, 
Sofrendo a de barro, que em risco se viu; 
Mal andam cem passos, ao muito, a de ferro, 
A outra a mil cacos no chão reduziu; 

E nem a de barro podia queixar-se. 
Do forte a amizade não queiras jamais; 
Aos grandes ligado terás esta sorte: 
Procura os amigos no rol dos iguais. 

Moral da Estória: 
Nunca se ligue o fraco ao poderoso, mas somente entre iguais deve procurar companhia, pois o fraco sucumbe sempre ao forte.

Jean de La Fontaine

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