A panela de ferro e a panela de barro
Panela de ferro propôs à de barro
Que juntas fizessem pequena excursão;
Mas esta escusou-se, julgando prudente
Ficar no seu posto, juntinho ao fogão.
"Um toque (diz ela) reduz a pedaços
Meu todo argiloso, tão frágil e inerme;
No entanto, a senhora não teme os embates,
Pois é protegida de rija epiderme."
PANELA DE FERRO
"Prometo-te amparo; irei afastando
Os corpos que danos te possam causar;
Porei de permeio, passando por eles,
Meu bojo que o embate lhe dá de afrontar."
Tentada da oferta, panela de barro
Ao lado da sócia começa a jornada;
Três pés arrastando, coxeiam, tropicam,
E - tem-te, não caias - lá vão pela estrada.
Encontram-se, esbarram a cada momento,
Sofrendo a de barro, que em risco se viu;
Mal andam cem passos, ao muito, a de ferro,
A outra a mil cacos no chão reduziu;
E nem a de barro podia queixar-se.
Do forte a amizade não queiras jamais;
Aos grandes ligado terás esta sorte:
Procura os amigos no rol dos iguais.
Moral da Estória:
Nunca se ligue o fraco ao poderoso, mas somente entre iguais deve procurar companhia, pois o fraco sucumbe sempre ao forte.
Jean de La Fontaine
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