quarta-feira, 1 de outubro de 2014

CARTAS DE MONIZ BANDEIRA

Em nova carta ao presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, o historiador e cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira voltou a adverti-lo sobre os riscos da candidatura Marina Silva, advertindo-o para uma possível interferência da Open Society Foundation, do magnata George Soros, a New Endowment for Democracy ou a própria USAID, entre ONGs, que assumiram a função de promover regime change e patrocinaram demonstrações na chamada Primavera Árabe e na praça Maidan, em Kiev, Ucrânia”.
Leia a seguir a segunda carta de Moniz Bandeira a Roberto Amaral:

Prezado Professor Roberto Amaral:
Rogo-lhe que, por favor, não tergiverse.
Não mais se trata de premonição, mas de fato. Algo que previ (não sabia o que), a partir de alguns acontecimentos e circunstâncias, e confirmou-se, infelizmente, sob a forma de um desastre de avião, acidental ou não. Nada se pode afirmar, mas tudo se pode supor. No caso, tudo é possível.
A Sra. Marina Silva, que tinha um percentual maior de intenções de voto, tornou-se assim a candidata à presidência do Brasil, na legenda do PSB, que a abrigou.
Desde meus 15/16 estive envolvido nos meios políticos, trabalhei sempre nessa área, em vários jornais, e a partir do início de 1960, quando tinha apenas 24 anos e a completar os estudos de Direito, desempenhei a função de editor e analista político do Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, até o golpe de 1964, após o qual asilei-me no Uruguai juntamente com o presidente João Goulart e centenas de outros .
Em tais circunstâncias, com a experiência de militância contra a ditadura, que me levou a passar dez anos de minha vida entre exilado, clandestino, semiclandestino e preso (dois anos) pelo CENIMAR, de cujo pelotão participava um americano, bem como com o conhecimento da realidade internacional, o que previ foi a possibilidade de que algo (não imaginava o que) pudesse incapacitar o governador Eduardo Campos, cuja candidatura me parecia inviáverl, e que eventualmente a Sra. Marina Silva assumisse a cabeça da chapa.
E aconteceu.
A Sra. Marina já havia disputado da eleição de 2010 e obtivera uma expressiva quantidade de votos. Novamente, nas pesquisas para o pleito desse ano, 2014, manteve um percentual de intenções de voto superior ao do governador Aécio Neves, para o qual não se vislumbrava perspectiva de vitória. Daí é possível inferir que ela se tornou a esperança das forças mais conservadoras do país, acobertada pela histórica legenda do PSB.
É fato que a Sra. Marina Silva acervou em três anos R$ 1,6 milhão (um milhão e seiscentos mil reais), apenas com conferências, e se recusa a revelar a fontes que tanto lhes pagaram, alegando exigência de confidencialidade, conforme a Folha de São Paulo noticiou.
Por que a confidencialidade? As fontes não constam de suas declarações anuais de imposto de renda? Por que não as revela publicamente, como requereu a Folha de São Paulo? É estranho.
O segredo induz à desconfiança de que algumas das fontes possam ser a Open Society Foundation, do magnata George Soros, a New Endowment for Democracy ou a própria USAID, entre ONGs, que assumiram a função de promover regime change e patrocinaram as demonstrações da chamada Primavera Árabe e na praça Maidan, em Kiev, Ucrânia.
Tudo se pode imaginar.
Também constituem fatos as declarações da Sra. Marina Silva, em favor da privatização do Banco Central, contra o Mercosul, de interferência nos assuntos internos de Cuba, contrariando as linhas da política exterior do Brasil e, inter alia, de realinhamento com as diretrizes de Washington. Elas não são compatíveis com as tradicionais linhas ideológicas do PSB, do qual fui membro antes do golpe militar de 1964.
Confome consta no texto da entrevista que concedeu à Associated Press e publicada pelo jornal Latin Post, em 18 de setembro de 2014, as relações do Brasil com "Cuba, China, Iran and Venezuela may see a different focus if Silva becomes president", o que significa que o país se submeterá às diretrizes Washington.
Não sem motivo Michael Shifter, presidente da entidade Inter-American Dialogue, com sede em Washinton, declarou: "If elected, she has such a remarkable personal story that she'd come to the presidency with a lot of legitimacy, tremendous excitement and high expectations".
O Brasil é um dos fundadores do banco dos BRICS, cujo objetivo é criar um novo sistema financeiro e sair da área de predominância do dólar, como fiat currency, única moeda internacional de reserva, com qual se processam mais de 60% ou 7% das transações de óleo e gás, o alicerce da hegemonia política e militar dos Estados Unidos, que somente Federal Reserve Bank, em Washington, pode imprimir.
Como o key-country da América do Sul, o Brasil, por conseguinte, configura um campo da batalha da nova guerra fria e daí a necessidade de regime change, por via eleitoral, após as demonstrações de junho de 2013 e outras, que tão espontâneas certamente não foram, embora justas causas e razões houvesse, mas desde muitas décadas antes.
Por fim, não se pode descartar a forte probabilidade de que Sra. Marina Silva, se eleita, renuncie à produção de urânio enriquecido, para concorrer no mercado internacional, ao programa do submarino nuclear e de rearmamento das Forças Amadas do Brasil, de modo a recompor suas relações com os Estados Unidos.
Prezado Prof. Roberto Amaral, não se trata de simples premonição, mas um raciocínio de um cientista político, com vasta experiência e conhecimento dos bastidores da história, diante de fatos. O Sr., como um homem honrado, socialista, concorda com as declarações da Sra. Marina Silva sobre a privatização do Banco Central, ingerência em Cuba e afastamento da China etc.? 
Cordialmente e com todo o respeito,
Prof. Dr. Dres. h.c. Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira.

In "Olhos do Sertão".

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