Geógrafo, sempre teve c
onsciência precisa do seu papel na geografia brasileira.
Aziz Nacib Ab’Saber nasceu no município de São Luís do Paraitinga, fruto do amor entre um mascate libanês e uma brasileira.
Uma vez residindo com a família no Bairro do Tatuapé, em São Paulo, ingressou na USP para estudar Geografia e História, saindo de lá Bacharel e especialista em
Geografia Física.
Ao longo de sua carreira, sempre fez questão não só de ir a campo, mas de levar seus alunos a conhecer in situ a realidade brasileira.
Docentes e discentes do Depto de Geografia da USP lembram suas aulas e seus pronunciamentos em auditórios repletos, ou no espaço central entre os departamentos, cheio e disputado.
Estabeleceu parcerias com especialistas de outras áreas para trabalhos conjuntos, resultando, por exemplo, na formulação da teoria dos refúgios com Paulo Vanzolini, uma de suas maiores contribuições às ciências ambientais.
Quando as lutas pela preservação das florestas tropicais se iniciavam no mundo todo, professor Aziz propôs o tombamento da Serra do Mar, maior conjunto contínuo de florestas úmidas Atlânticas da América do Sul e fenômeno único no mundo ou, como ele gostava de dizer “maior conjunto de escarpas úmidas florestadas do Atlântico Sul”.
Suas propostas conservacionistas sempre foram fundamentadas no conhecimento científico da geografia, mas nunca deixou de considerar a paisagem como produto da herança física e cultural, dai o seu olhar cuidadoso para as ocupações humanas e a inscrição nas paisagens.
O pequeno livro Escritos Ecológicos é um despertar para aqueles que pouco sabem das questões ambientais e um verdadeiro estimulo ao aprofundamento aos que pensam conhecê-las.
Foi com bastante franqueza que um dia criticou o então Presidente Lula, após ter sido próximo dele em seus tempos de oposição:
------- “É uma situação delicada. Não quero ofender o Lula. Mas, ao mesmo tempo, tenho verdadeira indignação com a incompetência, de modo geral, do primeiro escalão do governo. Incompetência técnica, científica, administrativa e social”.
Da mesma maneira, Aziz entrou com força em debates sobre duas questões controvertidas, a transposição do rio São Francisco e a reforma do Código Florestal, em ambas se dispondo contra a posição oficial, pensando nos efeitos em longo prazo:
-------
“Não se faz qualquer projeto de interesse nacional pensando apenas em favorecer de imediato só uma geração do presente, em termos de especulação com espaços ecológicos, mesmo porque somos de opinião que devemos pensar no sucesso de todos os grupos humanos, ao longo de muito tempo”. (“Uma questão de bioética com o futuro”, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, 29/07/2010.
No caso das discussões sobre a reforma do Código florestal – sua última batalha – ele não viu o desfecho final, mas se opunha às visões egoístas que queriam liberdade para desmatar e produzir em massa commodities de baixo valor unitário, sem se preocupar com uma riqueza muito maior, a biodiversidade e sua preservação.
Um bom exemplo desta visão é o artigo“Do Código Florestal para o Código da Biodiversidade”, no site da SBPC.
Aziz Nacib Ab’ Saber foi homenageado inúmeras vezes pela contribuição à pesquisa científica no país: recebeu a comenda Rocha Lima; foi titular três vezes do Prêmio Jabuti, duas na categoria de ciências humanas e uma na de ciências exatas; fez parte da
Academia Brasileira de Ciências; foi presidente da SBPC
1993/ 1995; foi r
epresentante da ABC na ECO-92; recebeu a
Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico; recebeu o Prê
mio Nacional de Ciência e Tecnologia, além do P
rêmio Santista (Meio Ambiente),
Prêmio Nacional de Ciência e Tecnologia,
Prêmio Fundação Conrado Wessel 2005 (Ciência Aplicada ao Meio Ambiente).
Tornou-se professor Honoris Causa da Universidade Estadual Paulista, em outubro de 2006.
Suas pesquisas se restringiram apenas a temas brasileiros, tanto que sua reputação não ultrapassou as fronteiras nacionais, o que é lastimável tanto para ele como para a difusão de seus trabalhos.
O geógrafo Aziz Ab’Saber morreu às 10 horas e 20 minutos do dia 16 de março de 2012, aos 87 anos, em sua casa em Cotia.
Fonte: site Confins.
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