terça-feira, 11 de novembro de 2014

SOBREVIVÊNCIA


"Se o mundo do futuro se abre para a imaginação, mas não nos pertence mais, o mundo do passado é aquele no qual, recorrendo a nossas lembranças, podemos buscar refúgio dentro de nós mesmos, debruçar-nos sobre nós mesmos e nele reconstruir nossa identidade; um mundo que se formou e se revelou na série ininterrupta de nossos atos durante a vida, encadeados uns nos outros, um mundo que nos julgou, nos absolveu e nos condenou para depois, uma vez cumprido o percurso de nossa vida, tentarmos fazer um balanço final. 
É preciso apressar o passo. 
O velho vive de lembranças e em função das lembranças, mas sua memória torna-se cada vez mais fraca. 
O tempo da memória segue um caminho inverso ao do tempo real: quanto mais vivas as lembranças que vem à tona de nossas recordações, mais remoto é o tempo em que os fatos ocorreram. Cumpre-nos saber, porém, que o resíduo, ou o que logramos desencavar desse poço sem fundo, é apenas uma ínfima parcela da história de nossa vida. 
Nada de parar. 
Devemos continuar a escavar! 
Cada vulto, gesto, palavra ou canção que parecia perdido para sempre, uma vez reencontrado, nos ajuda a sobreviver."

Norberto Bobbio, filósofo e jurista italiano.

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