quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

"PRÁXIS"


Era um louco metido a cientista,
Que fazia pesquisa alucinada,
Buscando a glória vã de uma conquista
Universal, que sempre dava em nada.

A meditar na cela de um hospício,
O cigarro crestava-lhe seus dedos,
Enquanto, em baforadas de suplício,
A fumaça compunha mil enredos.

O louco, certo dia, após o ensalmo,
Pediu ao zelador do manicômio
Uma fitinha elástica, de um palmo,
Prá fugaz medição de um polinômio.

E soprando as volutas do seu fumo,
Vendo a composição de mil fantasmas,
Corria saltitante no seu rumo,
A mensurar quiméricos miasmas...

Era a força do acaso ou do destino !...
Esse infeliz, numa agonia aflita,
Ora premindo, ora espichando a fita,
No extremo desatino

Dos requebros num baile dos apaches,
Acabava, afinal, por descobrir a práxis !

Adolfo de Vasconcelos Noronha, poeta e escritor, ajudou a fundar a Academia Guarulhense de Letras em 1978.

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