quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

ALEX FERRER EM REPORTAGEM NA "ÉPOCA"

"Meu pai era branco. Minha mãe era negra. Minhas quatro irmãs são mulatas, e meu único irmão também. Na infância, eu tinha cabelo claro e era muito branco. Hoje, tenho cabelos castanhos. Fui adotado ainda no hospital em que nasci, em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília. Fui abandonado lá por minha mãe biológica. Meus pais adotivos, José Joaquim de Souza e Adalgiza Ferreira, eram vizinhos da enfermeira que cuidou de mim. Não queriam aceitar um menino branco. Quando me viram, mudaram de ideia. Não passei por orfanato. Eles simplesmente foram me buscar. Seis dias depois, me registraram como filho"...
 
"Acho graça quando ouço que o Brasil é um país mestiço e, por isso, sem preconceitos. Não guardo rancor, mas simplesmente sei que não é assim"...
"Hoje sou dono de uma agência de assessoria de imprensa e relações públicas em Balneário Camboriú. Organizo eventos, estratégias de marketing e dou assessoria para personalidades e empresas. Tenho minha casa e um padrão de vida confortável. Viajo muito, compro o que quero. Meus irmãos estão muito bem. Minhas quatro irmãs são funcionárias públicas em Brasília. Uma delas tem um cargo alto no governo. Meu irmão é policial, como meu pai foi".
"Todos aprendemos a conviver com a diferença de raças. O que nunca mudou foi a discriminação por causa da classe social. De todos os tipos de preconceitos que vivenciei, nenhum foi mais forte e perene que o preconceito contra a pobreza. É algo que está em nossa cultura. Mesmo quem é pobre tem preconceito com quem é ainda mais pobre. Quem tem a casa mais feia da rua e as roupas mais pobres é maltratado. Até entre os ricos, o tratamento muda de acordo com as posses. A cultura no Brasil é simples: quem tem mais merece mais respeito"...
"Recentemente, decidi adotar uma criança. Quero retribuir o acolhimento que recebi da minha família. Ainda não iniciei o processo nem discuti com meu namorado que papel ele quer ter nessa escolha. Deixarei idade, sexo e etnia em aberto no formulário. Sei que sofrerei novo preconceito: ser um homem gay criando uma criança. Não tenho medo nem vergonha. Ensinarei meu filho ou minha filha a não ter também".

Foto de Caio Cézar para a revista Época: Alex Ferrer, em Balneário Camboriú.
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