segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O MUNDO PERDEU O GRANDE POETA PHILIP LEVINE

Philip Levine

Pequeno Villon

Diz-me ele que em Banguecoque o roubam
Por ser branco; em Londres porque é preto;
Em Barcelona, judeu; em Paris, árabe:
Em todo o lado e a qualquer hora, e ele defende-se.

Ergue sete dedos grossos e pequenos
Para me mostrar que vem em sétimo lugar a nível mundial,
E não há qualquer paixão na sua voz, nem raiva
No liso dos olhos castanhos raiados de sangue.

Pede-me que lhe conte tudo o que me lembrar
Do meu pai, seu tio; fala da guerra
No Norte de África e do que veio depois,
A perda do pai, a perda do irmão,

As mantras da padaria partidas, e o pão fresco
Polvilhado de vidro, o cheiro quente a centeio,
Tão forte que ele comia até ficar com a boca cheia de sangue.
Eles vivem aqui, vivem aqui e não morrem,

E aponta a cabeça negra sulcada
De anéis de cabelo preto. Toca-me o cabelo,
Diz-me para nunca desprezar
As duras cerdas que protegem a cabeça do lutador.

De dedos tristes, percorre-me a cara,
Como sou claro, diz-me, e macio.
Ficamos de pé até ao fim desta primeira e última visita.
Duro, 50 quilos, um metro e meio,

Não era maior que uma rapariga, agarra-me pelos ombros,
Beija-me na boca, os olhos ainda abertos,
Meu irmão imaginário, meu primo,
Eu próprio de outra forma, por toda a sua dor.

Philip Levine, nascido em 10 de janeiro de 1928 e morto no último dia 14 de fevereiro de 2015.
A tradução é de Hugo Pinto Santos.

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