quarta-feira, 18 de março de 2015

FACEBOOK, O MURAL DA MISÉRIA HUMANA


Um grande professor que tenho, dizia que a miséria humana vem à tona nas delegacias e nos consultórios de psiquiatria. Assombrados como vivemos hoje em dia pela falsa necessidade de permanente conexão à rede; essa mesma miséria humana, antes escondida, está superexposta nos maiores murais da infelicidade humana que já tive o desprazer de conhecer: as famigeradas redes sociais, em particular, o Facebook, o melhor local para estudar o comportamento do Abominável Homem Conectado.
Humanos que somos, nos sabendo fracos, egoístas e covardes, criamos mitos de deuses incondicionalmente bons, amorosos, tremendamente poderosos (e paradoxalmente humildes). 
Nestes deuses, os desesperados, quando pouco inteligentes, se apegam, buscando pela salvação, que não virá nunca. 
Enquanto esperam, demonstram a angústia banal de sua carência afetiva, neste infeliz painel da internet (o Facebook), geralmente de maneira monótona, superficial e pouco criativa, projetando seus pobres sonhos, seus desejos infantis, suas frustrações, na forma de falso otimismo, destemor e segurança. Pelo que escrevem, até poderia parecer que as pessoas se amam, que são boas e ajudam umas às outras. Que acreditam em Deus, que seguem seus mandamentos, e por isso são respeitáveis.
Desconfio muito de gente que fala bem de si mesma e do mundo hostil em que vivemos. 
Isso explica a repulsa por mensagens pretensamente otimistas. Fotos de paisagens bonitas, animais felizes em harmonia com árvores frondosas, debaixo de um Sol de brilho quase sorridente, emocionam idiotas românticos aos montes, e ilustram muito bem o desejo de transformar um mundo interno sombrio naquele falso paraíso que vemos nos desenhos de Bíblias para crianças, onde o Leão não é feroz, mas mansamente sorridente, e olha para o veadinho ao seu lado sem a intenção de matá-lo e simplesmente comê-lo, seu real (e negado desejo). 
A beleza dócil das boas intenções que proliferam no facebook encontra sua contrapartida na solidão de quem nele perde seu tempo.

Maurício Fernandes Lúcio, in MEDICINA DA ALMA

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