sexta-feira, 24 de abril de 2015

JACOB BAZARIAN HOMENAGEADO COM NOME DE VIA PÚBLICA EM ITAPETININGA

Fiquei muito feliz com a aprovação pela edilidade itapetiningana do projeto de lei 
de autoria dos vereadores Jair Sene e Fuad Isaac, dando o nome do professor, filósofo e sociólogo à via urbana que dá acesso a
o Vale San Fernando, com início na Faixa de Preservação da Rodovia Raposo Tavares, Km 162,5 e com término na Rua Diamante.
Fui aluna dele quando frequentei o Curso de Ciências Jurídicas da Fundação Karnig Bazarian, em Itapetininga, época de mui gratas lembranças.
Jacob Sagh Bazarian nasceu aos 02 de outubro de 1.919, na pequena cidade de Marach, na Turquia.
Com a família, expulsa do país pelos turcos, refugiou-se na Síria, no Líbano, na França e no Brasil, onde esteve em São Paulo e, finalmente, em Itapetininga, onde veio a falecer.
Na mocidade foi coroinha, mascate, balconista.
Cursou o Primário, o Ginasial e a Escola de Comércio.
Fez Filosofia pura na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, licenciando-se em 1.945.
Cursou Medicina por dois anos.
Foi Seminarista, mas abandonou a doutrina, pois ela "não resolvia o problema do homem", afirmava ele.
Nunca teve medo de nada. 
Vícios, teve-os muitos. Dentre eles: sexo, amor, bebida, prazer, política...
Pelas idéias socialistas, sua vida foi um constante recheio de fugas, viagens, exílios, ao lado dos amigos Oswald de Andrade, Menotti Del Piccia, Caio Prado, Jorge Amado. 
No ano de 1.943 é que começou a frequentar a casa de Oswald nos famosos saraus que este patrocinava aos poetas e filósofos da época. 
Num desses saraus veio a conhecer aquela que se tornaria sua primeira esposa, a escritora Mary Apocalypse, com quem se casou apenas no civil, sem festa e sem bolo.
O padrinho Oswald os levou para jantar num restaurante no velho centro de São Paulo.
A segunda esposa foi Zinaida Pachetkina, com quem teve dois filhos: Alexander, que se tornou decorador e Anita, economista. 
Esse casamento aconteceu depois que ele, expulso da Escola de Sociologia e Política e da Associação Cristã de Moços, onde lecionava, por ter-se filiado ao Partido Comunista Brasileiro, que ainda era ilegal, foi morar em Moscou.
Jacob Bazarian sempre lutou para implantar no mundo uma sociedade mais justa, mais democrática, mais desenvolvida espiritualmente, sem fronteiras, sem preconceitos religiosos, sem racismos...
Adorava a nova geração por ela não nutrir os mesmos preconceitos da sua.
Afirmava sempre que "gostaria muito de ter nascido agora".
Sobre as drogas, era radicalmente contra aquelas que transformam os seres humanos em robôs, em farrapos, em bestas humanas.
Seus ídolos? 
Lenine, Engels, Spinoza.
Sobre as mulheres brasileiras dizia que "elas são muito materialistas" e isso torna "difícil uma convivência pacífica com elas".
Por isso mesmo Jacob dizia: "Minha amante é a Filosofia, a quem serei fiel e dedicado até à morte".
Bastante envolvido na problemática do homem como ser humano temporal, Bazarian nos deixou uma verdade: a luta principal do futuro é entre a Democracia e a Tirania, entre a Liberdade e a Servidão.
Foi através de sua iniciativa que se fundou em Itapetininga a AJORI - Associação dos Jornalistas e Radialistas de Itapetininga - no ano de 1.982, sendo seu p
rimeiro Presidente. Um ano depois, criava também a Casa da Cultura de Itapetininga.
No ano de 1.998, patrocinou um encontro em sua residência com um grupo seleto de pessoas tais como: Alberto Isaac, Hélio Rubens de Arruda e Miranda, Silas Cardoso e Carlos José de Oliveira, daí saindo a decisão de fundar o Museu da Imagem e do Som.
Conheci o professor no ano de 1.971, quando frequentei o Curso de Ciências Jurídicas da Fundação Karnig Bazarian, me formando Bacharel em Direito em 1.974. Depois disso, fui embora para São Paulo. 
Quando voltei para cá, no ano de 1.997, fui a Itapetininga e ajudei a fundar o "Jornal Cidade", de Maria Aparecida Rodrigues dos Santos, irmã de Osmar, um dos sócios do jornal A Hora de São Miguel Arcanjo. 
Foi o último jornal feito em linotipo na cidade. Nele, idealizei 
várias colunas. Entre elas, a de entrevistas. 
Foi num desses trabalhos que revi meu velho professor de Sociologia Jacob Bazarian. Já estava com problemas de saúde: o mal de Parkinson o afetara. 
Diferente de todas as residências, diante da sua havia uma plaquinha com os seguintes dizeres: "Residência de Jacob Bazarian". Achei muito chique!
Na época, ele me propôs o trabalho de organizar um grande número de pastas que ele vinha arquivando para o seu próximo livro sobre a quinta essência do ser. Ele queria que eu me mudasse para Itapetininga, permanecendo exclusivamente à disposição de sua inspiração que não tinha dia e nem hora para brotar. 
Claro que não acreditei e nem achei correta a sua proposta, mas houve um motivo de força maior para que definitivamente eu lhe desse uma negativa: minha mãe já não estava bem de saúde e eu havia me comprometido com ela. 
Se não me engano, parece que o livro foi organizado por um outro grande jornalista, Silas Gehring Cardoso.
Marcou-me profundamente, um fato: depois da entrevista, ele me disse, olhando firmemente nos meus olhos: - "Em 40 anos de jornalismo, você é a melhor entrevistadora que jamais conheci". 
Hoje, ao lado de Venâncio Ayres, Fernando e Júlio Prestes, Abílio Victor, Anézia Pinheiro, Ataliba Leonel, Domingos José Vieira, Jair Barth, José Ozi, Teddy Vieira, Simão Barbosa Franco e outros, Jacob Bazarian é patrono de uma das cadeiras da Academia Itapetiningana de Letras e de outra cadeira no Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga, cadeira esta ocupada pelo atual presidente e antigo amigo, Hélio Rubens de Arruda e Miranda.
A lacuna deixada pelo poeta, professor, filósofo, sociólogo, jornalista e escritor falecido em janeiro de 2003, jamais será preenchida por nenhum outro itapetiningano.
Saudade, professor!


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