Desejando voar para sentir a sensação, Dédalo, da mitologia grega, um dia resolveu fazer asas para si e para seu filho Ícaro.
Ajustadas as asas com cera aos corpos, então, ambos iniciaram o voo, partindo da Ilha de Creta.
O pai, espírito humilde, não se aventurou muito. Passeou por sobre o mar, sondou toda sua beleza e imensidão, alcançou a cidade de Cumes, na Itália, e ali erigiu um templo.
Ícaro, ao contrário, moço intrépido e orgulhoso, quis voar mais alto e mais alto, mirando o sol, nele querendo chegar e, exultante, já saboreando seu pioneirismo, sua heroicidade, o primeiro de todos a colocar os pés naquele corpo estelar desconhecido.
Aconteceu o que não previra: a cera acabou derretendo-se, desprendeu as asas do corpo do rapaz e este caiu em pleno mar, num estrondoso tombo.
Quem conhece a lenda sabe que ela serve para dar uma lição aos incautos que pecam por tanto orgulho e tantas ambições neste mundo.
Meu avô dizia que o orgulho se assemelha ao jequitibá que pensa poder resistir, sozinho e inflexível, à força dos tufões, aos tenebrosos vendavais, à irascividade da natureza quando esta decide mostrar do que é feita, mas que, coitado!, um dia tomba e deixa-se ficar exposto desde a raiz.
Já a humildade, completava meu avô, é como uma tábua que se curva, se inclina submissa ao sabor das catástrofes, mas, afinal, depois que tudo passa, volta a permanecer tranquila e ereta no mesmo lugar.
Portanto, se alguém quer ser o primeiro, que seja o último de todos, o servo de todos.
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