sábado, 26 de dezembro de 2015

BRASIL- BERÇO DA PREGUIÇA


O brasileiro, no período colonial, não era muito afeito ao trabalho.
“São piores do que a peste” – foi com estas palavras que Duarte Coelho, o desolado donatário da capitania de Pernambuco, se referiu, em 1546, ao enorme número de degredados que aportou em suas terras trazendo-lhe grandes problemas. 
Daí – a meu ver – a tão decantada diferença existente entre nosso País e os “States”, ambos colonizados no século XVI. 
Nos séculos subsequentes, XVII e XVIII, tanto os brasileiros (nativos) como os reinóis (portugueses) preferiam biscatear, ou viver às custas do trabalho escravo, desprezando o convencional. Muitos certamente dirão: já era a falta de empregos que até hoje assola o País, nesta segunda gestão dilmista. 
Pode até ser verdade. 
O certo, no entanto, é que desde o século XVII já se notava a indolência generalizada tomando conta dos patrícios. 
Em 1654, no Maranhão, o festejado orador sacro e missionário padre Antônio Vieira acusava: ------------ “Não há terra no mundo quem mais incline ao ócio ou à preguiça” e, portanto, nem gente “mais preguiçosa no mundo”, pois que todos passam o tempo “deitados na sua rede”. 
Um comerciante francês, L. F. Tollenare, que nos visitou em 1817, com pinceladas de bom humor, observou que “o brasileiro ocioso levanta-se ao nascer do sol, não tem toilette a fazer porque não despe a roupa; fica de ceroulas e a fumar junto à porta que só deixa para ir se embalar na rede. Estende vagamente o braço para receber a sua magra ração de farinha de mandioca. Perguntai-lhe onde mora seu vizinho e não saberá dizê-lo. Falar fatiga-o tanto quanto pensar”. 
A inglesa Maria Grahan (dizem que era amante da princesa dona Leopoldina), que passou uma longa temporada na Bahia e no Rio, de 1821 a 1822, sem perder a fleuma britânica, nos deixou uma visão do comerciante carioca daquela época. ------- “Divirto-me com a visível apatia dos caixeiros brasileiros. Se estão empenhados, como atualmente não é raro, em falar em política ou a ler jornais, ou simplesmente a descansar nos fundos da loja, preferirão dizer, na maior parte das vezes, que não têm a mercadoria pedida a se levantarem para procurá-la. E se o freguês insistir e apontá-la na loja, é friamente convidado a apanhá-la, ele próprio, e deixar o dinheiro. Isto aconteceu várias vezes enquanto procurávamos algumas ferramentas em nosso percurso ao longo da Rua Direita”. 
Essas observações, pouco elogiosas, sobre a preguiça do brasileiro nos referidos séculos foram feitas por vários historiadores, desbravadores, cientistas, naturalistas, que nos visitaram, entre os quais se destacam Saint Hilaire, Debret, Thomas Lindley, John Loccok etc., que viam o nosso País como sendo o “berço da preguiça”. 
Outro dia, li num jornal que a vigarice vem dessa época. 
A expressão conto-do-vigário, que significa aplicar golpes para subtrair dinheiro fácil dos incautos, surgiu em 1814. 
Um português de nome Antonio Theodoro chegou ao Brasil, acho que no Rio de Janeiro, dizendo-se herdeiro de um tio que era vigário. Enquanto esperava a herança, Theodoro conseguia dinheiro emprestado junto aos membros da nobreza da época. Quando descobriram que não havia vigário rico, era tarde demais. 
Lendo o “Dicionário de datas comemorativas”, de André de Carvalho, vi, com gozo intenso, que no nosso querido Brasil, terra do futebol, já há nada menos que 195 datas comemorativas, sem falar nos feriados nacionais e religiosos, instituídos por decretos e consagrados pela tradição religiosa. 
Desse modo, tem dia para tudo nesta terra abençoada por Deus “onde em tudo se plantando dá”, no dizer de Pero Vaz de Caminha. 
Dia do fotógrafo (08/01); dos enfermos (14/01); da religião (21/01); da saudade (30/01); do turista (20/02); do circo (15/03); do consertador (19/03); do cacau (26/03); da mentira (01/04); do disco (20/04); do boi (24/04); da empregada doméstica (27/04); do silêncio (07/05); do vidraceiro (18/05); do café (24/05); do massagista (25/05); do caboclo (24/06); do pescador (29/06); dos hospitais (01/07); do soldador (09/07); do futebol (16/07); da caridade (16/07); da amizade (20/07); da vovó (26/07); do selo (01/08); do tintureiro (03/08); do pároco (04/08); do garçom (11/08); do hoteleiro (11/08); do encarcerado (14/08); da injustiça (23/08); do feirante (25/08); do barbeiro, do cabeleireiro, do alfaiate (06/09); da seresta (12/09); da fauna (22/09); da tia solteirona (25/09); do idoso (27/09); do aposentado (08/11); do doador de sangue (24/11); do samba (02/12); do pedicuro (04/12); do vizinho (16/12); do órfão (24/12) etc. 
Li, não me lembro à época, no Diário Oficial do Município de Belo Horizonte no qual se acha publicada a Lei Municipal nº 7.061, de 30 de março de 1996, votada pelos preclaros e operosos vereadores de Belô, e sancionada pelo Prefeito, instituindo o “Dia Municipal da Luta de Braço”, a ser comemorado no dia 27 de agosto. 
O brasileiro, para não fugir da tradição, continua operoso, trabalhador e dotado de muita criatividade...

Texto de Luiz Augusto Sampaio
Transcrito do site União Brasileira de Escritores

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