segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

ANO NOVO, PROPOSTA NOVA

Eudes Quintino de Oliveira Júnior

"A aproximação do novo ano, como num passe de mágica, faz com que as pessoas, num repente, mudem seus olhares e comecem a ver o mundo pelos olhos do coração. O próprio ambiente das luzes coloridas, os enfeites com seus apelos, os votos reciprocamente trocados, proporcionam um clima de esperança com força suficiente para espancar para bem longe as ameaças que sorrateiramente nos espreitam. Pelo menos por um breve período. Fica no ar um apelo de solidariedade e fraternidade, em que cada um imprime em seu gesto a tão sonhada grife da felicidade.
O movimento de alegria sempre traz a vontade de modificar o mundo estranho e conturbado em que vivemos, cada um quixoteando à sua maneira e investindo contra os moinhos de vento que se apresentam em suas andanças. Quer dizer, cada um repete as velhas fórmulas para modificar os erros acumulados e calcificados de uma sociedade que se esforça para expurgar seus males. Não há uniformização de pensamento. Cada um recita o texto que lhe cabe no drama ou na comédia, dependendo da vida que leva. Assim, nesta composição enviesada, o que se vê são notas musicais isoladas ziguezagueando os eus em busca do coro de nós. E faz lembrar o que dizia o Cavaleiro da Triste Figura: quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha junto é o começo da realidade.
Basta lançar uma pedra em um pequeno lago com águas serenas e observar na sequência que as ondas lentamente se propagam e alcançam a outra margem. E não param. E quanto maior a pedra, maiores as ondas. Retornam em revezamento e neste vai e vem dão uma nova imagem aquele remansoso lago. Tudo em razão de um pequeno movimento. Faz lembrar que o simples bater de asas de uma borboleta no extremo norte, pode provocar no sul uma tormenta em algumas semanas, segundo preconizado pela teoria do caos.
Em tempos de delações que tanto maculam o país e se dizem premiadas, da quase impotência de se lutar contra o dragão da corrupção, que lança suas chamas para o interior das empresas públicas, a pessoa, na sua individualidade, na dimensão "do si contra sigo mesmo", entoada por Guimarães Rosa, vê-se frustrada em sua cidadania. Mas não é motivo para desanimar. O momento é oportuno para propor uma reinvenção da vida, começando pela prática de bons atos, mesmo que sejam simples, ter paixão e entusiasmo para erguer a bandeira da retidão construtiva, e sentir dentro de si a força que projeta para o exterior. É um trabalho incessante e continuado de aprimoramento para descobrir novos caminhos, indicar atalhos e iluminar a zona de penumbra. O que se prometeu e se cumpriu no ano que se finda, teve o seu reconhecimento, pois a vida nada mais é do que uma sucessão de atos visando atingir o estágio de perfeição do ser humano.
A proposta é simples e não exige qualquer protocolo para sua execução. Se cada um procurar apagar as avessas pegadas deixadas pelas anteriores, irá exercer bem-vinda influência para a prática do bem, um verdadeiro arauto a anunciar por todos os ventos os valores fundamentais do bem viver, há muito cantado por filósofos e poetas. Já que se fala tanto em projeto nas relações humanas, pode ser rotulado como projeto de embelezamento do mundo. Uma verdadeira obra desenfreada de entusiasmo e solidariedade de talentos tendo à frente como arquiteto Aquele que despertou o sentimento humanitário do amor para se conquistar uma vida com abundância e bem-aventurança.
Um simples ato que seja significativo faz com que cada um se torne personagem da maravilhosa aventura da vida e coloque em seu espírito a tonalidade da fé e esperança e entre no novo ano com o coração contrito e a alma em festa. Assim, lançando a pedra, por pequena que seja, você irá patrocinar uma nova realidade, transformando a vida em uma sucessão prazerosa de atos simples que culminarão na multiplicação dos elevados projetos da humanidade. Ano novo, proposta nova, vida nova".


*Eudes Quintino de Oliveira Júnior é promotor de Justiça aposentado. Advogado e reitor da Unorp.

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