Norte-americanas explicam por que estão preocupadas com o novo presidente republicano.
Por Ingrid Matuoka, da Carta Capital
Neste sábado 21, um dia após assumir a presidência dos Estados Unidos da América, Donald Trump receberá um recado em alto e bom tom: as mulheres vão se fazer ouvidas durante os próximos quatro anos – por elas e por todos os grupos minorizados.
Reunidas na Avenida da Independência de Washington D.C., a poucos metros do Capitólio dos Estados Unidos, centro legislativo do governo, mulheres vão protestar por direitos humanos e igualdade entre todos, de qualquer etnia, gênero e religião. Questões como legalização do aborto, liberdade de imprensa, de acesso à saúde e por um desenvolvimento sustentável também estão na pauta.
A movimentação teve início logo após o resultado da eleição, em novembro. Inconformada com a vitória do magnata, a aposentada havaiana Teresa Shook lançou no Facebook um evento convidando mulheres a protestar na capital estadunidense após a posse do republicano.
Em entrevista ao Washington Post, Shook disse que nunca foi ativista e a ideia, apesar de despretensiosa, teve muitos adeptos. Doze horas após lançar o evento, já havia mais de dez mil confirmados. Hoje, são mais de 400 mil interessados apenas na página oficial. Outras marchas vão acontecer simultaneamente por todos os outros 50 estados, além de mais 30 países, inclusive no Brasil.
‘Alcançamos nosso eu completo abraçando inteiramente umas às outras’ (Arte: Kate Deciccio)
Em entrevista a Carta Capital, a norte-americana Jessica V., de 22 anos, afirmou que, assim como Shook, não costuma ir a protestos, mas acontecimentos recentes a fizeram mudar de ideia: “Das imagens de Billy Bush lançadas pouco antes da eleição até seu flagrante desrespeito às repórteres durante sua campanha, fica evidente que a igualdade de gênero não é sua prioridade”.
Jessica refere-se à polêmica conversa gravada entre Trump e Billy, parte da família Bush e apresentador de rádio e televisão, na qual o agora presidente americano fazia comentários depreciativos sobre mulheres. Trump também é conhecido por dar respostas agressivas à imprensa.
Jessica também se preocupa com os comentários de Trump sobre imigrantes, particularmente do México, e negros. Ela mora na capital estadunidense e afirma: “Já houve um rápido aumento de crimes contra negros, latinos, mulheres e grupos minorizados em todos os lugares”.
Esse senso de união é o que move boa parte das mulheres, que enfatizaram a necessidade de participação de todos, homens e mulheres, para evitar o retrocesso nos direitos humanos durante os próximos quatro anos.
“Eu quero mostrar solidariedade para as pessoas que estão preocupadas com sua saúde e segurança”, diz Lexie, de 24 anos. “Eu também quero que Trump saiba que não seremos ignorados, e que ele, como presidente, responde a nós, não apenas aos que votaram nele. Também me chama a atenção que mesmo que Trump não esteja pessoalmente degradando certos direitos humanos, as pessoas a quem ele está dando poder certamente estão”.
A estudante Kelly R., 29, acredita que marchar em união é uma forma de mostrar ao presidente que há força e unidade na diversidade americana. “Atacar um grupo é atacar a todos nós. E a melhor forma de proteger a liberdade, que pode estar em risco nos próximos anos, é colocá-la em exercício, como faremos na marcha”, diz Kelly.
O protesto deve ser o maior já visto nos EUA, em parte, pela alta reprovação de Trump. Ele tem apenas 40% de aprovação; índice mais baixo já registrado. Ao assumir o cargo em 2009, Barack Obama tinha 88% de aprovação. Mesmo os controversos George W. Bush e Bill Clinton registraram taxas mais altas; respectivamente, 61% e 67%.
A pesquisa, divulgada nesta segunda-feira 16 pela CNN, aponta que 53% da população desconfia da capacidade de Trump em governar o país. Meghan R., 24, se encontra nessa parcela da sociedade, e afirma que sequer pôde formar uma opinião sobre o presidente. “Nenhuma de suas opiniões ou das políticas que propôs foi baseada em fatos, em um julgamento fundamentado, ou mesmo em considerações que vão além de alguns minutos de discussão e talvez um ou dois slogans apelativos”.
Além da falta de experiência política, a estudante de políticas públicas Kelly também se preocupa com a retórica de Trump. “Ele tem uma tendência em usar argumentos ad hominem [que configuram ataques pessoais] e falsas informações para minimizar e distorcer questões complexas”.
Na análise de Jessica, a incerteza gera medo tanto por Trump e boa parte de seus nomeados não terem um passado político, como por termos poucos casos na história que combinam essa falta de experiência com o poder dado a ele e seu temperamento instável.
“Sua disposição de ignorar e, na pior das hipóteses, insultar parceiros em todo o mundo ressalta seu desejo de isolar os Estados Unidos em um momento em que isso já não é possível ou benéfico”, diz Jessica.
Para ela, os protestos pacíficos fazem parte da história americana, uma forma de expressão para o povo. “Os Estados Unidos são um país do povo e a marcha garante que nossos líderes não ignorem o que queremos”, conclui.
Em março de 1913, também em Washington, as mulheres foram pela primeira vez às ruas para exigir o direito ao voto, que só seria obtido sete anos mais tarde. A manifestação foi organizada por feministas brancas que, refletindo a mentalidade da época, eram segregacionistas. As sufragistas negras participaram do ato, mas foram colocadas atrás das mulheres brancas. Ao final da marcha, muitas manifestantes foram agredidas por homens e presas pela polícia.
O ato marcou o início do movimento feminista nos EUA e, desde então, várias outras marchas organizadas por mulheres aconteceram na capital estadunidense. Em 1960 pelo fim da Guerra do Vietnã, em 1970 pela igualdade de direitos entre mulheres e homens, em 1980 por direitos reprodutivos e ao aborto, em 1990 pela vida das mulheres e em 2000 contra a violência doméstica.
E em uma frase, a norte-americana Meghan resume o espírito da manifestação em Washington: “Quando eu protesto, eu não sou invisível”.
‘Ouça a nossa voz’ (Arte: Liza Donovan)
Por Ingrid Matuoka, da Carta Capital
Neste sábado 21, um dia após assumir a presidência dos Estados Unidos da América, Donald Trump receberá um recado em alto e bom tom: as mulheres vão se fazer ouvidas durante os próximos quatro anos – por elas e por todos os grupos minorizados.
Reunidas na Avenida da Independência de Washington D.C., a poucos metros do Capitólio dos Estados Unidos, centro legislativo do governo, mulheres vão protestar por direitos humanos e igualdade entre todos, de qualquer etnia, gênero e religião. Questões como legalização do aborto, liberdade de imprensa, de acesso à saúde e por um desenvolvimento sustentável também estão na pauta.
A movimentação teve início logo após o resultado da eleição, em novembro. Inconformada com a vitória do magnata, a aposentada havaiana Teresa Shook lançou no Facebook um evento convidando mulheres a protestar na capital estadunidense após a posse do republicano.
Em entrevista ao Washington Post, Shook disse que nunca foi ativista e a ideia, apesar de despretensiosa, teve muitos adeptos. Doze horas após lançar o evento, já havia mais de dez mil confirmados. Hoje, são mais de 400 mil interessados apenas na página oficial. Outras marchas vão acontecer simultaneamente por todos os outros 50 estados, além de mais 30 países, inclusive no Brasil.
‘Alcançamos nosso eu completo abraçando inteiramente umas às outras’ (Arte: Kate Deciccio)
Em entrevista a Carta Capital, a norte-americana Jessica V., de 22 anos, afirmou que, assim como Shook, não costuma ir a protestos, mas acontecimentos recentes a fizeram mudar de ideia: “Das imagens de Billy Bush lançadas pouco antes da eleição até seu flagrante desrespeito às repórteres durante sua campanha, fica evidente que a igualdade de gênero não é sua prioridade”.
Jessica refere-se à polêmica conversa gravada entre Trump e Billy, parte da família Bush e apresentador de rádio e televisão, na qual o agora presidente americano fazia comentários depreciativos sobre mulheres. Trump também é conhecido por dar respostas agressivas à imprensa.
Jessica também se preocupa com os comentários de Trump sobre imigrantes, particularmente do México, e negros. Ela mora na capital estadunidense e afirma: “Já houve um rápido aumento de crimes contra negros, latinos, mulheres e grupos minorizados em todos os lugares”.
Esse senso de união é o que move boa parte das mulheres, que enfatizaram a necessidade de participação de todos, homens e mulheres, para evitar o retrocesso nos direitos humanos durante os próximos quatro anos.
“Eu quero mostrar solidariedade para as pessoas que estão preocupadas com sua saúde e segurança”, diz Lexie, de 24 anos. “Eu também quero que Trump saiba que não seremos ignorados, e que ele, como presidente, responde a nós, não apenas aos que votaram nele. Também me chama a atenção que mesmo que Trump não esteja pessoalmente degradando certos direitos humanos, as pessoas a quem ele está dando poder certamente estão”.
A estudante Kelly R., 29, acredita que marchar em união é uma forma de mostrar ao presidente que há força e unidade na diversidade americana. “Atacar um grupo é atacar a todos nós. E a melhor forma de proteger a liberdade, que pode estar em risco nos próximos anos, é colocá-la em exercício, como faremos na marcha”, diz Kelly.
O protesto deve ser o maior já visto nos EUA, em parte, pela alta reprovação de Trump. Ele tem apenas 40% de aprovação; índice mais baixo já registrado. Ao assumir o cargo em 2009, Barack Obama tinha 88% de aprovação. Mesmo os controversos George W. Bush e Bill Clinton registraram taxas mais altas; respectivamente, 61% e 67%.
A pesquisa, divulgada nesta segunda-feira 16 pela CNN, aponta que 53% da população desconfia da capacidade de Trump em governar o país. Meghan R., 24, se encontra nessa parcela da sociedade, e afirma que sequer pôde formar uma opinião sobre o presidente. “Nenhuma de suas opiniões ou das políticas que propôs foi baseada em fatos, em um julgamento fundamentado, ou mesmo em considerações que vão além de alguns minutos de discussão e talvez um ou dois slogans apelativos”.
Além da falta de experiência política, a estudante de políticas públicas Kelly também se preocupa com a retórica de Trump. “Ele tem uma tendência em usar argumentos ad hominem [que configuram ataques pessoais] e falsas informações para minimizar e distorcer questões complexas”.
Na análise de Jessica, a incerteza gera medo tanto por Trump e boa parte de seus nomeados não terem um passado político, como por termos poucos casos na história que combinam essa falta de experiência com o poder dado a ele e seu temperamento instável.
“Sua disposição de ignorar e, na pior das hipóteses, insultar parceiros em todo o mundo ressalta seu desejo de isolar os Estados Unidos em um momento em que isso já não é possível ou benéfico”, diz Jessica.
Para ela, os protestos pacíficos fazem parte da história americana, uma forma de expressão para o povo. “Os Estados Unidos são um país do povo e a marcha garante que nossos líderes não ignorem o que queremos”, conclui.
Em março de 1913, também em Washington, as mulheres foram pela primeira vez às ruas para exigir o direito ao voto, que só seria obtido sete anos mais tarde. A manifestação foi organizada por feministas brancas que, refletindo a mentalidade da época, eram segregacionistas. As sufragistas negras participaram do ato, mas foram colocadas atrás das mulheres brancas. Ao final da marcha, muitas manifestantes foram agredidas por homens e presas pela polícia.
O ato marcou o início do movimento feminista nos EUA e, desde então, várias outras marchas organizadas por mulheres aconteceram na capital estadunidense. Em 1960 pelo fim da Guerra do Vietnã, em 1970 pela igualdade de direitos entre mulheres e homens, em 1980 por direitos reprodutivos e ao aborto, em 1990 pela vida das mulheres e em 2000 contra a violência doméstica.
E em uma frase, a norte-americana Meghan resume o espírito da manifestação em Washington: “Quando eu protesto, eu não sou invisível”.
‘Ouça a nossa voz’ (Arte: Liza Donovan)
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