sábado, 14 de janeiro de 2017



OHackers ameaçam governos democráticos
Ataques digitais que semeiam desinformação e manipulam a opinião pública são a nova ameaça a democracias
BRUNO FERRARI, COM PAULA SOPRANA
13/01/2017 - 20h08 - Atualizado 13/01/2017 20h18
No meio da tumultuada entrevista coletiva dada nesta semana pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, recheada de frases fortes, uma ganhou destaque: “Acho que foi a Rússia”, disse o republicano
Trump reconhecia pela primeira vez a participação do governo de Vladimir Putin nos ataques de hackers ao Partido Democrata, de sua oponente Hillary Clinton, durante a campanha eleitoral. 
Naquele episódio, em setembro de 2016, invasores digitais acessaram os computadores do Comitê Nacional Democrata e de diversos líderes do partido, entre eles o chefe de campanha de Hillary, John Podesta. 
Os documentos obtidos não eram especialmente comprometedores, mas foram entregues ao site Wiki­Leaks, tornaram-se públicos e causaram ainda mais dano à já desgastada campanha de Hillary. 
Segundo uma avaliação feita pela Central de Inteligência dos Estados Unidos, a CIA, os ataques foram perpetrados por hackers ligados ao governo russo. A intenção na divulgação do material, segundo a CIA, era ajudar Trump a vencer a eleição. Ainda na coletiva, Trump afirmou não ter nenhum laço ou pendência que pudesse justificar uma preferência russa por ele. O governo russo nega as acusações e não há certezas sobre as intenções dos hackers. 
O episódio, porém, encaixa-se perfeitamente numa lista de evidências preocupantes sobre uma nova ameaça a democracias.

 
NAS SOMBRAS - Vladimir Putin, presidente da Rússia e ex-agente de inteligência. 
Governos ocidentais o acusam de iniciar uma ofensiva digital para influenciar a política e a opinião pública em outras nações (Foto: Arte/Época)

Nos últimos meses, diversos relatórios de empresas de segurança digital e agências governamentais apontam para ataques hackers e campanhas de desinformação como uma estratégia das agências de inteligência da Rússia. 
Os relatos ocorrem em nações em que Putin tem interesses políticos e econômicos. 
O Instituto Sueco de Relações Exteriores, principal autoridade de política internacional do país, divulgou, em 5 de janeiro, um relatório de 44 páginas a respeito. O documento detalha a ação de grupos ligados ao governo da Rússia para influenciar a opinião pública sueca. Enumera ações como distribuição de documentos forjados e notícias falsas, assim como o uso tático de sites fantoches em russo e em sueco, com o objetivo de manter a Suécia fora da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança ocidental criada em 1949 para fazer frente à União Soviética. 
“A adesão da Suécia à Otan teria implicações militares e políticas que exigiram da Rússia uma retaliação”, disse Maria Zakharova, ministra das Relações Exteriores da Rússia, em 2015.
Segundo os autores do estudo, reportagens mentirosas foram publicadas em veículos de origem russa e depois repercutidas pela versão sueca no Sputnik, veí­culo que defende os interesses da diplomacia russa. Depois, foram replicadas por sites suecos. “Estabelecemos as intenções das ações, as narrativas dominantes e os padrões comportamentais que têm estreita correlação entre a diplomacia russa, o que sugere que se trata de uma ação coordenada”, concluiu o relatório. 
O documento lista também o uso, pelo governo Putin, de táticas “tradicionais” da geopolítica, como agentes infiltrados e ameaças militares.

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