Não chorei a morte de José Wilker, nem lastimei. Também não fiquei deprimida, mas sim, serena, porque ele teve a morte dos abençoados: morreu dormindo.
Que prêmio!
- Claro, por merecimento.
Agora, minha cara leitora vai ficar chocada com o que vou escrever, mas hipocrisia não combina comigo.
Agora, minha cara leitora vai ficar chocada com o que vou escrever, mas hipocrisia não combina comigo.
Detesto quem elogia velhice, tecendo mentiras em torno de uma tragédia.
A velhice é o maior castigo que cai sobre a humanidade.
É a hora de pagar todos os nossos pecados.
É preciso ser muito calhorda para chamar a velhice de “melhor idade”. E não estou me referindo à estética, às rugas, à decadência do corpo, se é gorda, se é magra ou parece um cadáver.
Perdemos a fisionomia.
Me olho no espelho e penso: quem é essa velha que me encara? São poucos os que escapam do diabetes, do infarto, das terríveis dores reumáticas, da pressão alta, do Alzheimer.
É o mapa do inferno!!!
Qual velho e lúcido inteligente que não abomina sua condição de arremedo de vida!
E quando a gente começa a sentir que precisa depender dos outros?
E quando a gente começa a sentir que precisa depender dos outros?
- Esse é meu maior pavor!!!
O horror quando vou ao médico e a enfermeira começa a me chamar com voz mansinha de queridinha, bonitinha – tudo no diminutivo – e já vou dizendo “sou velha, mas não sou retardada”.
E todos os olhares de impaciência quando você demora a abrir uma bolsa, por exemplo.
Ser velho passou a ser xingamento.
Por tudo isso, não choro mais quando um companheiro vai embora, volta para casa.
Um homem brilhante como José Wilker, ator deslumbrante, culto e sensível, se alguém lhe perguntasse se queria viver, mesmo que doente, tenho certeza que ele escolheria a morte. Voltou para casa, numa viagem em que fechou os olhos e acordou na casa do pai.
Ele merecia!
Já pensou José Wilker velhinho com problema de próstata usando fraldão?
Transcrito da revista Ana Maria.
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