quarta-feira, 8 de março de 2017

SÓ ECOA O "TRANS" NO DISCURSO VAZIO DE DAVIS


Angela Davis, uma das autoras do texto que convocou uma greve geral internacional das mulheres para este 8 de março. Confira abaixo o discurso proferido pela filósofa e ativista, autora de Mulheres, raça e classe, na Marcha das Mulheres [Women’s March] contra Donald Trump realizada no dia 21 de janeiro de 2017, em Washington. 
A tradução é de Juliana Borges. 
Em um momento histórico desafiador, vamos nos lembrar que nós somos centenas de milhares, milhões de mulheres, transgêneros, homens e jovens que estão aqui na Marcha das Mulheres. 
Nós representamos forças poderosas de mudança que estão determinadas a impedir as culturas moribundas do racismo e do hetero-patriarcado de levantar-se novamente.
Nós reconhecemos que somos agentes coletivos da história e que a história não pode ser apagada como páginas da Internet. Sabemos que esta tarde nos reunimos em terras indígenas e seguimos a liderança dos povos originários que, apesar da massiva violência genocida, nunca renunciaram a luta pela terra, pela água, pela cultura e pelo seu povo. 
Nós saudamos hoje, especialmente, o Standing Rock Sioux.
A luta por liberdade dos negros, que moldaram a natureza deste país, não pode ser apagada com a varredela de uma mão. 
Nós não podemos esquecer que vidas negras importam. 
Este é um país ancorado na escravidão e no colonialismo, o que significa, para o bem ou para o mal, a real história de imigração e escravização. 
Espalhar a xenofobia, lançar acusações de assassinato e estupro e construir um muro não apagarão a história.
Nenhum ser humano é ilegal!
A luta para salvar o planeta, interromper as mudanças climáticas, para garantir acesso a água das terras do Standing Rock Sioux, à Flint, Michigan, a Cisjordânia e Gaza. A luta para salvar nossa flora e fauna, para salvar o ar – este é o ponto zero da luta por justiça social.
Esta é uma Marcha das Mulheres e ela representa a promessa de um feminismo contra o pernicioso poder da violência do Estado. 
E um feminismo inclusivo e interseccional que convoca todos nós a resistência contra o racismo, a islamofobia, ao anti-semitismo, a misoginia e a exploração capitalista.
Sim, nós saudamos o ‘Fight for 15’. 
Dedicamos nós mesmas para a resistência coletiva. Resistência aos bilionários exploradores hipotecários e gentrificadores. Resistência a privatização do sistema de Saúde. 
Resistência aos ataques contra muçulmanos e imigrantes. Resistência aos ataques contra as pessoas com deficiência. Resistência a violência do Estado perpetrada pela polícia e através da indústria do complexo prisional. 
Resistência a violência de gênero institucional e doméstica, especialmente contra mulheres trans negras.
Direitos das mulheres são direitos humanos em todo o planeta. E é por isso que nós dizemos ‘Liberdade e Justiça para a Palestina!’. 
Nós celebramos a iminente libertação de Chelsea Manning e Oscar Lopez Rivera. 
Mas também dizemos ‘Liberdade para Leonard Peltier! Liberdade para Mumia Abu-Jamal! Liberdade para Assata Shakur!’
Nos próximos meses e anos nós estamos convocadas a intensificar nossas demandas por justiça social e nos tornarmos mais militantes em nossa defesa das populações vulneráveis. Aqueles que ainda defendem a supremacia masculina branca e hetero-patriarcal devem ter cuidado!
Os próximos 1459 dias da gestão Trump serão 1459 dias de resistência: Resistência nas ruas, nas escolas, no trabalho, resistência em nossa arte e em nossa música.
Este é só o começo. 
E termino nas palavras da inimitável Ella Baker: ‘Nós que acreditamos na Liberdade não podemos descansar até que ela seja alcançada!’ 
Obrigada.

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