sexta-feira, 29 de setembro de 2017

" A FLORESTA ENCANTADA", DE JOSÉ RENATO FRANÇA


A FLORESTA ENCANTADA - TRECHO
AUTOR: JOSÉ RENATO FRANÇA

Há muito tempo, numa floresta feia e suja, surgiu do eco uma fada.
Todos os habitantes da floresta esquecida ficaram lisonjeados com a ternura da pequena, que recebeu o carinhoso nome de Fadilea.
Fadilea adorou o lugar, que era calmo e fresco, e logo o transformou numa das maravilhas do mundo. Célia, uma menina feia, suja, chata e sardenta, logo se transformou em uma linda menina, bela como princesa. As árvores, já idosas, ficaram aparadas, belas e poéticas. O pequeno espantalho, que já estava estraçalhado e não tinha mais brilho, coloriu-se por inteiro. Todos os animais ficaram mais espertos, e toda a vegetação, mais pura e limpa, já que lá sempre foi um lugar não explorado pela mão do homem.
Tudo, realmente, se transformou. As flores se abriram, o Sol iluminou toda a floresta. Pedrinho, o menino fraco, ganhou pique e vitalidade e teve um grande despertar: começou a cuidar da plantação floresteira.
Mas, no meio disso, a roseira Cassilda ficou alheia a tudo. Continuou como era: fofoqueira, feia e espinhenta.

Se você quiser conhecer um lugar
Rodeado de felicidade por todos os lados...
Se você quiser descansar
O corpo, a mente... 
Vá à Floresta Encantada!

Os pássaros, as plantações, 
Se você quiser conhecer
Tudo o que tem de melhor nessa vida,
Vá à Floresta Encantada!

O alvorecer, a madrugada, o prazer...
Se você quiser ouvir 
O canto da passarada ao entardecer,
Você já sabe aonde ir.

Onde não há melancolia, tristeza, solidão
Onde o Sol nasce mais cedo,
Onde você, num leve toque de magia,
Chega lá... 
É a Floresta Encantada!

Amanhece. Célia, as árvores e a roseira comentam a vida geral da floresta:
MARILU — Ronalda, como esta floresta é mesmo encantada e sossegada! É uma delícia viver aqui, você não acha? 
RONALDA — É mesmo, Malu. Aqui não há brigas e tudo se resolve facilmente. Parece um paraíso!
CASSILDA — Eu não acho, metidas! Esta floresta não é mais a mesma; tudo aqui já sofre uma transformação!
CÉLIA — Não seja radical, Cassilda! O que é isso? Cale a boca e não brigue com as árvores!
CASSILDA — Vocês, humanos, são mesmo é puxa-sacos de árvores, não têm opinião própria e não vivem sem elas.
CÉLIA — Claro... elas nos abrigam e nos consolam. Elas nos acolhem nos momentos mais difíceis. Agora você, Cassilda, só serve para criticar, para dar espinhos; acho que está ficando velha.
CASSILDA — Ai, donzela... eu ornamento as igrejas, bailes e outros lugares em geral. Sou famosíssima. Chiquitíssima. Ouviu, horrorosa?
CÉLIA — Xiiiiiiiii... mas ultimamente você não serve mais para nada. Eu acho que perdeu o senso. Coitada!
CASSILDA — Cruzes... como é difícil aguentar essas meninas puritanas. Ai, meu Deus, socorra-me!

E agora, todos os moradores da floresta saúdam com alegria o novo amigo que chega:
SOL — Bom dia para todos! Eu estou aqui novamente para iluminar suas vidas, dando paz, alegria e esperança a todos vocês!
TODOS — Bom dia!!!
PEDRINHO — Que Deus ilumine toda a floresta! Que Deus proteja todos os animais e plantas aqui existentes! Que Deus abençoe este lugar!
RONALDA — Viva o Sol, que traz energia à natureza!
PEDRINHO — Que bom você chegar, Solzinho! Nós estávamos morrendo de saudade! Nossa plantação sempre se alegra em recebê-lo!
MARILU — Mas você custou, Sol! Pensei que tinha nos esquecido!
SOL — Nunca eu me esquecerei de amigos tão calorosos como vocês, que marcam nossas vidas e enchem nossos corações de muita alegria e prazer! 
RONALDA — Nós gostamos muito de você, Solzinho!!!
SOL — Vocês também estão guardados em meu coração! Então trago o meu coraçãozinho para esquentá-los.
CASSILDA — Solzinho, eu não gosto de você, pois vem para queimar as minhas pétalas e atormentar meus espinhos. Um horror! Um horror!
RONALDA — Cassilda, seja mais gentil! Hospitaleira!
MARILU — O Sol sempre nos alegra, Cassilda!
CASSILDA — Ai, meu Deus! Eu não aguento mais esse jogo, esse tal jogo de cintura! Que sociedade hipócrita!
CÉLIA — Não ligue para ela, Sol. Ultimamente, ela está sendo um pouquinho rejeitada pela sociedade floresteira. As suas pétalas andam caindo pelo nosso chão abençoado.
PEDRINHO — Fique à vontade, Sol! Divirta-se na floresta!
SOL — Esta floresta é a minha casa!
CÉLIA — Ai, gente, o nosso grande amigo Sol bronzeará todo o meu corpo para eu poder frequentar os bailinhos da floresta!
CASSILDA — Não sei o que irá fazer em bailes... você assustará todo o pessoal, pois não sabe nem dançar.
CÉLIA — Amor, eu farei muito sucesso, ouviu? Mostrarei minhas roupas novas, ensinando todas essas roseiras da floresta a se vestirem muito bem. Está bem?
CASSILDA — Ai... você dará o maior vexame e assustará todos. Nem quero estar lá! Será um escândalo! Cuidado com a coluna social!
CÉLIA — Ai, gente, eu estou tão ansiosa pela hora do bailinho! Não vejo a hora do bailinho chegar!
CASSILDA — Ninguém dançará com você, sua menina feia! Todos escolherão Cassilda! A Poderosa!

PEDRINHO — Vejam! Que beleza! Ele é o nosso grande amiguinho, o protetor da plantação floresteira. Uma das maravilhas da floresta!
TODOS — Viva !!!
PEDRINHO — Meu amiguinho, não fique bravo, amanhã mesmo eu trarei uma espiga de milho para você, pois tem trabalhado bastante e merece recompensa. Parabéns, Gustavo! 
SOL — Muito bem, Pedrinho, você é um amigo da floresta!
PEDRINHO — Amigo Sol, todos nós aqui amamos a natureza... os animais... as plantas! Conversamos com as plantas!
CASSILDA — Irritam as plantas. É isso que os humanos fazem. Irritar as plantas! Só irritar!
CÉLIA — Falar em plantas... Está na hora de seu banho, jovem Cassilda.
CASSILDA — Banho?! Eu não tomo banho!
CÉLIA — O banho deixa as plantas fresquinhas e saudáveis!
CASSILDA — Mania de humano, tomar banho!
CÉLIA — Você ficará mais bonita ainda. Não é você quem enfeita os coquetéis, as igrejas...
CASSILDA — Eu só tomo banho quando chove!
CÉLIA — Então você ficará espinhenta e seca!
CASSILDA — Naturalmente seca, queridinha!

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