domingo, 25 de março de 2018

AS VOSSAS EXCELÊNCIAS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

EDUARDO SIMBALISTA *

A ira, que já contaminara uma desembargadora, sobe agora, em grau de recurso extraordinário, à Alta Corte. 
É inacreditável. Não pode ficar na constatação simplória do “a que ponto chegamos”, regredindo das troças em luvas de pelica às bofetadas de ofensas e grosserias, ou nas referências ingênuas às vergonhas que estariam fazendo tremer em suas tumbas Rui, Clóvis, Teixeira de Freitas, Sobral Pinto ou Pontes de Miranda.
Entende-se, como sinal dos tempos, o quanto o clima deve estar ruim nos gabinetes, em todos os gabinetes; afinal, aqui nas calçadas que abrigam mendigos e nas ruas onde perambulam desempregados ambulantes, a coisa anda muito feia também. 
Compreende-se, ainda, o esgotamento emocional das pessoas, em qualquer nível e em variadas situações, quando o silêncio que amargam não pode mais calar. Afinal, o pavio anda curto. 
Nessa era do desencanto brasileiro, era pedra cantada a desconstrução das instituições e o enfraquecimento dos poderes constituídos. 
Sabia-se que uma vez demonizada a política, o próximo passo seria desmoralizar a Justiça. 
Só não se esperava o suicídio entre pares: “quando não há inimigos interiores, os inimigos externos nada podem”. 
O juiz é o guardião das leis e da moral que regem os homens. Mesmo quando derrotados os soldados na guerra, escravizados os operários na luta e calados os intelectuais na utopia, deve ele resistir à barbárie e impedir que os ideais percam o sentido e as virtudes percam o valor, restaurando, com o rigor e o respeito, a esperança e o sonho. 
O barraco no Supremo, o bate-boca em crescendo, o “down, down, down no high society”, é a negação da civilidade e parece não ter sido a primeira vez. 
Como coisa de colegiais em briga de recreio. 
A bílis, o ódio, o mau sentimento, com ou sem pitadas de psicopatia, não cabem nos autos da justiça superior, como não cabem em qualquer ato de qualquer poder constituído. 
Não se trata de pudicícia ou falso moralismo republicano; há uma comoção moral: as vossas excelências estão entre pedir o chapéu ou um pedido de desculpas à nação. 

*Jornalista

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