quarta-feira, 25 de abril de 2018

PESSOAS NASCEM E MORREM. SERÁ DIFÍCIL UM MALUF NASCER DE NOVO!

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São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002
LILIAN CHRISTOFOLETTI/ 
DA REPORTAGEM LOCAL 
MAURICIO PULS/ 
DA REDAÇÃO 

Empresário que se projetou durante o regime militar, Paulo Maluf acredita que a fórmula para o sucesso é a repetição incessante de seus slogans, mas já perdeu sete das dez eleições que disputou.
O político mais insistente só tem medo de perder de novo.
"Em política, a fórmula do sucesso é a insistência e a repetição", acredita Paulo Maluf. 
A fórmula não tem funcionado bem, e seus fracassos vêm se repetindo (sete em dez eleições). 
Em 1990, revelou: "Estaria mentindo se dissesse que não tenho medo de perder".
Projetou-se no regime militar, e esse estigma tem pesado em suas derrotas. Apesar disso, nunca trocou de partido. Seu partido é que trocou de nome: Arena para PDS, PDS para PPR, e deste para PPB.
Maluf nasceu em São Paulo em 3 de setembro de 1931, filho de empresários de ascendência libanesa, e estudou no Colégio São Luís, onde foi cruzado e congregado mariano: "Adorava matemática, não gostava de filosofia".
Seu pai, Salim Farah Maluf, morreu no Natal de 1943. 
Seu irmão Roberto, aos 17 anos, deixou a escola para dirigir as empresas, e Maluf prosseguiu os estudos. Ingressou na Escola Politécnica da USP em 1949. Em 1953, elegeu-se diretor do Grêmio Politécnico.
Formou-se em 1954 e passou a ser diretor-superintendente das empresas da família, comandadas por seu irmão. 
No ano seguinte, casou-se com Sylvia Lutfalla, sua vizinha. Em 1964, tornou-se vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo. Tomou posse em 30 de março, um dia antes da queda de Jango. 
O sogro de Maluf, Fuad Lutfalla, era um dos líderes do Ipes, órgão que articulou o golpe. Maluf não se envolveu diretamente, mas apoiou o movimento.
Sua carreira política começou graças à amizade com o general Arthur da Costa e Silva. 
O general tomou o Ministério da Guerra no dia 1º de abril de 1964: não foi escolhido presidente, mas Castello Branco não conseguiu tirá-lo do cargo. 
Em 1966, foi eleito presidente pelo Congresso e, no ano seguinte, indicou Maluf diretor da Caixa Econômica Federal em São Paulo. Dois anos depois, quando o governador Abreu Sodré precisou nomear um prefeito de São Paulo para um mandato de dois anos, Costa e Silva indicou Maluf.
Tomou posse em 8 de abril de 1969. 
Concentrou mais de 60% do orçamento em obras viárias. A principal foi o Elevado Costa e Silva. Tentou persuadir o novo governador, Laudo Natel, a mantê-lo no posto. Não teve êxito, mas virou secretário de Transportes.
Não conseguiu concluir a rodovia dos Imigrantes, mas ampliou seu apoio entre os prefeitos da Arena e, em 1974, tentou ser indicado candidato ao Senado. Falhou porque o presidente, Ernesto Geisel, já havia escolhido Carvalho Pinto, e o obrigou a desistir.
Retomou suas atividades na Associação Comercial e, em 1976, foi eleito presidente da entidade. 
Começou sua campanha para governador. Apostou na candidatura à Presidência do ministro do Exército, Sylvio Frota, militar da linha-dura. Geisel, que apoiava o general João Baptista Figueiredo, demitiu Frota em outubro de 1977.
Sem esperança de ser indicado pelo presidente, Maluf visitou todos os 1.261 delegados que iriam votar na convenção da Arena. 
Em abril, Geisel escolheu Laudo Natel, amigo de Figueiredo. Confiante, Laudo nem procurou os delegados. 
Na convenção, em 4 de junho de 1978, Maluf cumprimentava todos os arenistas chamando-os pelo nome. Venceu por 617 votos a 589. 
Laudo alegou que Maluf era inelegível, mas perdeu na Justiça Eleitoral. 
Em 1º de setembro de 1978, foi eleito governador pelo Colégio Eleitoral.
Maluf assumiu o governo em 15 de março de 1979. 
Criou a Paulipetro, estatal destinada a extrair petróleo, que consumiu US$ 500 milhões na perfuração de 21 poços, mas só achou água e um pouco de gás. Comprou a Light e fez a rodovia dos Trabalhadores.
Para reforçar sua candidatura ao Planalto, passou a distribuir ambulâncias a prefeituras e flores a parentes de delegados do PDS. 
Em 1982, disputou uma vaga de deputado federal para fazer campanha ("gosto mais de fazer estrada que projeto de lei"). Seu candidato ao governo perdeu, mas Maluf foi eleito com 672.629 votos.
O novo presidente seria eleito em 1985 por um Colégio Eleitoral, no qual o PDS tinha leve maioria, suficiente para ganhar, se o partido ficasse unido. Mas, para ser indicado candidato, Maluf tentou cooptar parlamentares descontentes com seus líderes. Criou profundos ressentimentos: "Numa eleição, só é feio não vencer".
Seus adversários eram o vice-presidente Aureliano Chaves e o ministro Mário Andreazza. Aureliano era popular nas bases do PDS, e Andreazza era apoiado pelos governadores. Depois que a direção do PDS descartou uma prévia para eleger o candidato, Aureliano e 45 parlamentares deixaram o PDS para criar a Frente Liberal. 
Em julho, o grupo anunciou seu apoio à candidatura de Tancredo Neves (PMDB).
Com essa manobra, o PDS perdeu a maioria no colégio.
Maluf ainda venceu Andreazza na convenção do PDS, em 11 de agosto, mas os governadores optaram pela oposição. 
Pediu ajuda a Figueiredo, que foi negada: "Maluf não faz meu gênero". 
Maluf recorreu ao TSE para exigir a fidelidade dos dissidentes. Perdeu. 
No dia 15 de janeiro, no Colégio Eleitoral, Tancredo venceu por 480 votos a 180.
Tentou voltar ao governo paulista em 1986: "Pobre não é ideológico, é fisiológico: vota em quem faz". 
Além das obras, prometeu segurança: "Em meu governo, lugar de bandido será na cadeia". Mas ficou atrás de Orestes Quércia (PMDB) e Antônio Ermírio (PTB). 
Em 1988, liderou as pesquisas a prefeito de São Paulo até a última semana, quando foi superado por Luiza Erundina (PT).
Em 1989, Maluf tentou a Presidência outra vez. Um ex-malufista, Fernando Collor, disparou nas pesquisas dizendo que iria moralizar o país, enquanto Maluf exibia suas obras. O "moralizador" teve votos em todo o país, o "construtor" só foi bem em São Paulo. Ficou em quinto lugar.
Enfrentou nessa campanha a repercussão negativa de sua famosa frase: "Se tem vontade sexual, tudo bem: estupra, mas não mata".
Em 1990, voltou a disputar o governo paulista, com o apoio de Collor. Perdeu para Luiz Antônio Fleury Filho (PMDB). 
Era chamado pelos adversários de candidato competente: compete, compete e nunca vence. 
A sucessão de derrotas não foi em vão: seu eleitorado dobrou entre 1986 e 1990.
Em 1992, tentou novamente a Prefeitura de São Paulo. Ajudado por Duda Mendonça, Maluf disse que não era mais o mesmo: "Eu mudei". 
Cooptou ex-comunistas, visitou áreas carentes da periferia, chegou a tocar cavaquinho nos palanques. Foi eleito no segundo turno com 58% dos votos válidos. 
Assumiu em janeiro de 1993. 
Imaginava que seria o principal adversário de Lula (PT) em 1994. 
Em abril de 1993, articulou a fusão PDS-PDC, que criou o PPR: isso lhe daria mais tempo na TV. Buscou o apoio do PFL, mas este fechou com Fernando Henrique Cardoso, que preparava o Plano Real. Procurou o PTB, que também escolheu FHC. Desistiu em março de 1994: "Eu adoro uma disputa, mas desta vez tive que usar a cabeça e não o coração".
Planejou se candidatar ao Planalto em 1998. 
Construiu conjuntos habitacionais, túneis e avenidas, elevando a dívida pública de R$ 2,2 bilhões para R$ 7,6 bilhões. 
Em 1995 e 1996, a prefeitura chegou a gastar mais que o Ministério dos Transportes. 
Em setembro de 1995, articulou a fusão PPR-PP, criando o PPB (Partido Progressista Brasileiro) e, no ano seguinte, elegeu Celso Pitta.
Surgiram denúncias de irregularidades contra Pitta, e sua gestão ficou paralisada pela dívida. 
Em 1997, novo revés: apesar de dizer que "bicada de tucano não machuca", não pôde impedir a aprovação da emenda da reeleição.
Resignado, fechou um acordo com FHC em junho de 1997, apoiando sua reeleição, recebendo em troca o do PFL. 
Em 1998, tentou se afastar de Pitta. No horário eleitoral, criticou o sucessor - dois anos, havia dito: "Se o Pitta não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim". Foi derrotado por Mário Covas (PSDB).
Pitta rompeu com ele após a derrota. Demitiu os secretários fiéis a Maluf e deixou o PPB, em 1999. 
O pior golpe veio quando Nicéa Pitta deu uma entrevista acusando Maluf de ter recebido verbas desviadas. Ele negou tudo e processou Nicéa, mas o estrago foi grande. 
Caiu do segundo para o terceiro lugar nas pesquisas, foi abandonado por aliados.
Não desistiu. 
Prometeu consertar os erros de Pitta ("se eu sujei, deixa eu limpar") e ficou em segundo lugar, 7.691 votos à frente de Geraldo Alckmin (PSDB). 
No turno final, atacou Marta ("de sexo ela entende; de administração, não"). Perdeu, mas vai continuar insistindo: "Se eu fosse olhar para o passado, iria ser historiador". 

OBS: O resto se conhece...

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