terça-feira, 29 de maio de 2018

COM A PALAVRA, O REINALDO AZEVEDO

Por: Reinaldo Azevedo
: 29/05/2018 - 9:08


Todos por aqui balançam o peru. Saudade da ditadura atinge o píncaro…

Jair Bolsonaro, pré-candidato de um tal PSL à Presidência, só prospera nestes dias porque o lava-jatismo alimenta o discurso, o som e a fúria da extrema-direita mais abjeta, e os demais candidatos, exceção feita aos de esquerda, também se sentem obrigados a pagar tributo à dita-cuja, que, ao esmagar a política, alimenta um candidato como… Jair Bolsonaro.
Há, em suma, uma equação da qual os candidatos não-esquerdistas e não-fascistoides não conseguem sair. 
O mesmo ocorre com os movimentos que dizem se identificar com o liberalismo — uma espécie de falsidade ideológica em sentido… ideológico! 
Liberais, na democracia, respeitam o Estado de Direito. Apoio a exceções profiláticas é coisa de liberal eventual, que pode ser eventualmente fascistoide. Pfui…
Mas sigamos. 
Bolsonaro parece a mulher vista pelos olhos de Oscar Wilde, um gay: é uma esfinge sem segredos. Sem querer ofendê-lo, claro, ao colocá-lo entre seres que não tem, assim, aquela grandeza masculina e, bem, hétera…
Bolsonaro dá passos absolutamente óbvios. 
Escrevi ontem às 16h16:
Estou contando as horas para Jair Bolsonaro emitir uma “palavra de conciliação” aos irmãos caminhoneiros. O general da reserva Antonio Mourão, aquele…, já resolveu entrar no debate.
Como não é doido, embora aparente, repudia, claro!, a deposição do governo por um golpe militar, como pedem alguns que interditam a estrada. Não se faz de rogado, claro!, e trata o governo aos chutes e pontapés.
Leio na Folha a seguinte fala do general:
“Eu não defendo que o país entre no caos. O país não pode entrar no caos. Não podemos aceitar o caos. Vai ser prejudicial para todos. A partir do momento em que começar o caos, aí entra a violência. E não sabemos como vai terminar isso. Tem que garantir os serviços essenciais. Você [greve] está tornando a população refém. Tem pessoas com filhos em colégios que amanhã não sabem se vão para a escola. É uma situação muito ruim”.
É um bolsonarista de primeira hora. Com o peso de quem envergou a farda, está amaciando o terreno para a fala do suposto pacificador.

A reação
Bem, não deu outra coisa que não o ululante. Em entrevista à Folha de hoje, Bolsonaro afirma: “A paralisação tem de acabar; não interessa a mim, ao país”
Entendi. 
Interessasse a ele, então, talvez fosse o caso de pensar.
Já havia uns espíritos de porco da dita “elite brasileira” — quase sempre uma contradição em termos — que estavam a flertar com o rapaz… 
Pois é. 
Como costumo dizer, uma pessoa ou uma proposta não se esgotam em si. 
É preciso ver quais sentimentos mobilizam e quais valores prodigalizam. 
Esses tais da “elite” viram bem do que Bolsonaro, que apoiou o locaute, e seus seguidores são capazes. 
Gustavo Bebbiano, seu braço direito, fez comício em piquete de caminhoneiro.
Com a sua notável capacidade de entender o processo econômico, o pré-candidato reflete sobre o ovo e a galinha:
Eles [caminhoneiros] estão sabendo que, se morrerem centenas de milhares de galinhas por falta de ração, para aquela granja voltar a ter galinha, são seis meses. Isso vai encarecer o ovo. A coisa chegou num ponto que precisa refluir. Aí entra o aspecto político. Não interessa, acredito eu, para mim, para o Brasil, para quem quer a democracia, o caos agora.
A fala do gênio vai deixando pistas. 
“Agora”, o caos não interessa para ele. 
Está certo. Agora!
Um notório defensor de golpes se diz avesso à intervenção militar. Agora…
Isso vem de um grupo pequeno. 
No desespero, cara, você pede qualquer coisa. 
Na minha opinião, dos meus amigos generais, se tiver de voltar um dia, que volte pelo voto. Aí chega com legitimidade, não dá essa bandeira para o PT dizer “Abaixo a ditadura” ou “Foi golpe”, porque aí foi golpe mesmo. Não passa pela minha cabeça e eu não vi isso passar pela cabeça de nenhum general.
Bolsonaro tenta ser, como se nota, a voz do Exército, o que não é.
Convidado a refletir sobre política, economia, golpismo, greve, a conversa acabou redundando em “balançar o peru no banheiro”. Ao dizer por que as pessoas teriam saudade do regime militar, afirmou:
“O que o pessoal tem saudade é dos valores, era uma época diferente. Hoje tem um desgaste de valores. Aí o [ex-governador paulista e presidenciável tucano Geraldo] Alckmin aceitou a questão de que qualquer pessoa que se sinta mulher vai para banheiro feminino [resolução de 2014 garante o uso de sanitários em escolas públicas baseado na declaração de gênero]. 
Que porra é essa, pô? Eu tenho uma filha, ela vai no banheiro e vai ter um cara balançando o peru lá dentro? Querem que eu aceite? A mulher que se sente homem não vai no banheiro dos homens. Duvido que uma mulher gay, bonita, vá no banheiro dos homens na rodoviária.”
Perfeito! Caso o sujeito do peru decida não balançar a estrovenga, cai a saudade.
Ocorre-me que a gente poderia criar o IBP da Saudade da Ditadura: o “índice Balança o Peru”.
Oscar Wilde estava errado sobre as mulheres — na verdade, uma tirada literária. Mas não sobre Bolsonaro se o conhecesse. 
Essa esfinge, definitivamente, não tem segredos. 
Qualquer que seja o tema, a conversa termina em gay ou em peru.

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