segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

UNIR, JAMAIS. DESUNIR SEMPRE

25 de fevereiro de 2019
(*) Carlos Brickmann




A proposta de reforma da Previdência não foi ainda integralmente enviada ao Congresso, e a parte que foi enviada está sob análise de quem entende: não é de um dia para outro que se vai avaliar toda a reforma. Mas, mesmo assim, mesmo sem saber muito bem de que se trata, o mercado se animou: já aceita receber juros menores em títulos do Tesouro (caíram de 13,5% para 9,5%) e o dólar deu uma boa descida diante do Real.
A base parlamentar de Bolsonaro é insuficiente para garantir a vitória da reforma – mas a força de sua expressiva vitória eleitoral, somada à boa reação do mercado, pode perfeitamente levar o Governo à vitória, a menos que, insatisfeita pela fraqueza da oposição, a família do presidente a reforce. É o que está ocorrendo: o senador Flávio, o filho 01, propõe que o Congresso mude a reforma. Se o filho do presidente deixa de defender suas propostas e sugere mudanças, como convencer quem nem parente é?
Todo o planejamento da reforma está baseado na redução das diferenças entre aposentadorias, hoje imensas: funcionário público aposentado recebe o salário integral dos ativos, filha de militares tem direito a manter a pensão após a morte do pai, assalariados da iniciativa privada têm limite bem mais baixo. Pois o senador 01 quer igualar os guardas municipais, para fim de aposentadoria, a policiais. Pode ter razão, mas não é essa a reforma que o Governo de seu pai propõe. Com união é difícil. Sem união, impossível.

No rumo
Valeu a pena ver, pela TV e pelo YouTube, as cenas da fronteira entre o Brasil e a Venezuela nos últimos dias, antes do fechamento da fronteira pelo presidente Nicolás Maduro. Muita gente cruzava a fronteira, sempre no sentido Venezuela-Brasil; ninguém no sentido Brasil-Venezuela. 
Se não há problemas na Venezuela, como afirmam os bolivarianos brasileiros, por que há tanta gente saindo? Vale conferir as imagens no YouTube.

Estranha coincidência
Não houve, nos últimos dias, alterações de preço nas refinarias da Petrobras. O dólar caiu. Mas, de quarta para quinta, em Brasília a gasolina passou de R$ 3,80 para R$ 4,23 – de repente, as marcas de todas as grandes distribuidoras tiveram alta parecida, sem maiores explicações. Diz o colunista Cláudio Humberto (www.diariodopoder.com.br) que, por causa deste surpreendente evento, espera-se que Bolsonaro autorize os produtores de álcool e as refinarias a fornecer combustível diretamente aos postos, sem precisar entregá-lo a distribuidoras que só elevam os custos.

Justiça x distribuidoras
O repórter Cláudio Tognolli foi processado por críticas duras que fez às distribuidoras de combustíveis – entre outros termos, usou “assalto ao consumidor” para definir a atitude das empresas. A Associação Nacional de Distribuidoras de Combustíveis, Lubrificantes, Logística e Conveniência – Plural – que reúne BR, Shell e Ipiranga, donas de 70% do mercado, entrou na Justiça acusando-o de difamação. O juiz José Zoéga Coelho, do Juizado Especial Criminal, decidiu pela absolvição sumária. Uma derrota importante da Plural: o repórter bateu duro e ficou claro que nada mais fez exceto investigar e descrever os fatos que havia investigado e confirmado.

O falso herói
O principal repórter da principal revista alemã era uma farsa: inventava histórias magníficas e as publicava como se fossem verdadeiras. A revista, com todo seu sistema de controle de qualidade, publicou tudinho, sem nada questionar. E, se não fosse um repórter cujo prestígio não se comparava ao do falso herói, tudo se manteria sem problemas, enganando os leitores.
O principal repórter, um dos mais conhecidos e conceituados da Alemanha, era Claas Relotius; a revista, respeitadíssima, é Der Spiegel. E o jornalista que desmontou a farsa, Juan Moreno, também da Der Spiegel, foi quase massacrado ao colocar em dúvida as verdades do grande repórter. E, no entanto, tinha razão: hoje, a Der Spiegel adverte no site, onde há matérias de Relotius, que não há como garantir que sejam verdadeiras.

Lutar e provar
Moreno, jornalista nascido na Espanha e criado na Alemanha, desconfiou de Relotius depois de uma reportagem que fizeram juntos. Moreno deveria acompanhar um grupo de migrantes até a fronteira e contar a viagem; Relotius, nos Estados Unidos, se infiltraria num grupo civil de milicianos dispostos a bloquear a passagem dos migrantes. Estranhou as informações do colega e começou a verificá-las. Aos poucos, descobriu que Claas Relotius entrevistara pessoas que nunca havia visto, descrevia locais em que nunca havia estado. Demorou até que alguém prestasse atenção no que dizia; nesse período, perdeu oito quilos.
Hoje, a Der Spiegel reformulou seu controle de qualidade e abriu uma investigação interna: como pôde ser tão enganada por tanto tempo?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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Fonte: UCHO.INFO

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