terça-feira, 14 de maio de 2019

PRIMEIRO, O PREFEITO LUIZ VÁLIO MANDOU PLANTAR UM JACARANDÁ; VEIO OUTRO PREFEITO, O CIRICO FOGAÇA, QUE MANDOU DERRUBAR O JACARANDÁ E CONSTRUIR UM MONUMENTO EM HOMENAGEM AOS EX-PRACINHAS. AGORA, O NOVO PREFEITO, QUE NEM CONHECE A HISTÓRIA, MANDOU ARRANCAR O MONUMENTO.

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O texto abaixo é de Luiz Válio Júnior, meu pai, que também se assinava Ferdinando Cipó Júnior:

“Logo após o término da guerra passada, a chamada Segunda Guerra, o comando das nossas Forças Armadas determinou às prefeituras do Brasil todo a plantação ou transplantação de uma árvore em homenagem aos expedicionários brasileiros.
Não tomamos conhecimento se a determinação foi cumprida à risca, como seria o caso, no país. Agora, o que temos certeza é que ela foi cumprida aqui em minha terra natal, pois a presenciei.
Era uma manhã amena, de um sol cálido a iluminar os olhos dos são-miguelenses que se reuniram, na ocasião, em frente à Igreja Matriz localizada no coração da cidade.
Isso foi no ano de 1.945, lá pelo mês de agosto ou setembro.
Um grupo de gente constituído de crianças da escola primária, única existente na época, autoridades pertencentes a Executivo municipal (ainda não tínhamos no país o Legislativo), policial e demais pessoas de destaque na comunidade e os pracinhas locais que participaram do conflito. Estes, garbosamente ostentavam suas fardas de batalha e condecorações, sem esconder certa emoção que se aprofundava em suas almas de heróis.
Um tenro e belo pé de jacarandá foi fincado no local. 
Ele foi extraído da Fazenda Bom Retiro, então propriedade de Luiz Válio, que na ocasião exercia o cargo de Prefeito Municipal, nomeado pelo saudoso Fernando Costa, interventor em São Paulo.
O nobre jacarandá dos versos de Guilherme de Almeida incrustado no Hino ao Expedicionário, ali permaneceu até as ordens funestas de Francisco Fogaça de Almeida, que o decepou, substituindo-o por uma lápide fria. 
Já estava atingindo uns quinze metros de altura o espécime vegetal dos mais apreciados pela natureza brasileira e das fábricas de móveis finos. 
Isto se deu às vésperas de um pleito em que postulava o cargo de prefeito um primo do prefeito derrubador do jacarandá.
A política naquele tempo desenrolava-se em um clima bastante agitado devido a rixa familiar então existente entre as facções em disputa eleitoral. E, justamente por isso, depois de picado, o adorado jacarandá dos pracinhas José Expedito Machado, Gabriel Ferreira de Proença, Antonio Hermenegildo, Ibraim José Nader, Rachid Elias Nader e Adib Miguel foi arrastado na rabeira de vários veículos pelas ruas da cidade, na mais grotesca provocação que a história de São Miguel Arcanjo registrou, mas que por capricho do destino da política obscurantista, apagou-se talvez, até esta crônica que temos a oportunidade de escrever.
E ela veio à tona em virtude de uma notícia aqui da terrinha sobre o caso, publicado no dia 14 de outubro, neste jornal, que infelizmente trocou as bolas sobre o fato, em vários tópicos.
Não deixamos de pensar que pesa um grande remorso na memória do cassador dos direitos de existência do querido jacarandá dos pracinhas de São Miguel Arcanjo, assim como imaginamos que se tal crime se desse hoje o destruidor do símbolo vegetal estaria às voltas com o Código Florestal, que agora é mais severo com as derrubadas de árvores, principalmente as que são consideradas monumentos.
Não deixamos também de pensar que houve uma vingança por parte do magnetismo corrente, talvez, exercido pelo vácuo sentimental da alma do jacarandá, porque, tentando sua volta à Prefeitura, numa outra eleição, quase subsequente, Francisco Fogaça de Almeida, vendo-se derrotado e desfibrado politicamente, deixou a terra indo para outros confins.
No lugar do jacarandá, ele deixou a pedra calada. 
Sem folhas. 
Sem aroma. 
Sem sombra. 
Sem o tronco amado. 
Sem os galhos para os pardais”.


OBS DE LUIZA VÁLIO: O aludido monumento, no ano de 2.000, foi quebrado por vândalos, mantendo-se por longo tempo esquecido na praça.
De nada valeu a cobrança de Armando Fogaça, poeta e compositor local, num jornalzinho que havia na época, intitulado O PALCO.
As 
autoridades só tomaram providência muito tempo depois, mas tão mal feito foi o serviço que a marca ficou ali para sempre no monumento da praça, como se fora uma c
icatriz da história.
Agora me disseram que o monumento foi extirpado dali; ficou apenas um buraco.
Para onde levaram, com pedestal e tudo?
Até este momento, 11 horas e seis minutos, o monumento permanece do lado de fora da Casa do Sertanista. 
No aguardo que a dona Maria Perpétua vá lá para abrir a porta e eles adentrarem aquilo tudo para dentro do imóvel.
Disse uma estagiária que a Prefeitura vai mandar construir outro monumento em inox.
Quem viver, verão.
Mandando daqui os parabéns ao rapaz que comanda o setor de CULTURA local, que também nada sabe sobre a história.


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