Propina não é o único tipo de corrupção.
O Brasil paga ao mercado financeiro uma taxa de proteção anual que corresponde a 10% do PIB, centenas de vezes maior que vulgares propinas, MAS são operações tão complexas e refinadas que o público normal nunca entenderá.
Por Andre Motta Araujo/
17/06/2019
Propina não é o único tipo de corrupção
por André Motta Araújo
A velha estória do “pega ladrão” se aplica ao movimento moralista contra a corrupção. Mas qual corrupção? A velha corrupção da propina, gasta, tosca, primária… Enquanto se faz barulho contra a propina navega tranquila a mega corrupção, muito mais sofisticada, das transações financeiras estruturadas, só acessíveis a grandes esquemas com bancos, multinacionais com planejamento tributário e “cortinas” de compliance para blindar qualquer investigação.
O Brasil paga ao mercado financeiro uma taxa de proteção anual que corresponde a 10% do PIB, centenas de vezes maior que vulgares propinas, MAS são operações tão complexas e refinadas que o público normal nunca entenderá.
Vamos ver como o mercado financeiro sangra o Brasil:
1.META DE INFLAÇÃO CADA VEZ MAIS BAIXA para valorizar os ativos financeiros e deixar baratos os ativos reais. A RECESSÃO É UM PARAISO DE OPORTUNIDADES. Prédios, fazendas, empresas industriais podem ser compradas baratas por quem tem Reais valorizados. Para isso a inflação na meta é fundamental, com a consequente recessão que quebra empresas, enfraquece a economia e faz empresários venderem suas empresas.
2.MÃO DE OBRA BARATÍSSIMA POR CAUSA DO DESEMPREGO. Bons engenheiros no desespero viram taxistas, pode-se contratá-los com salários de fome.
3.O BANCO CENTRAL NA MÃO DO MERCADO FIXA JUROS DESNECESSARIAMENTE ALTOS PARA A DÍVIDA PÚBLICA, títulos públicos federais brasileiros, com risco zero, chegam a pagar 14% ao ano, poderia pagar 2% ao ano, o mercado não tem opção para 4 trilhões de Reais de liquidez sem aplicação visível.
4.RESERVAS INTERNACIONAIS ABSURDAMENTE ALTAS PARA GARANTIR ESPECULADORES ESTRANGEIROS. O Brasil tem pouca dívida externa em moeda estrangeira, não precisa ter reservas internacionais de 400 bilhões de dólares que rendem 2% ao ano, para o comércio exterior reservas de 150 bilhões seriam suficientes, o excesso de reservas é para dar conforto aos que entram e saem do Brasil para aproveitar a diferença brutal de juros, captam a 1,5% e aplicam no Brasil a 9 ou 10%, com a segurança que o Banco Central dá pelas reservas, sabem que o dinheiro entra e sai sem risco. O excesso de reserva custa ao País a diferença entre o que o Tesouro paga para financiar a dívida interna e o que recebe na aplicação das reservas. 80 a 100 bilhões de Reais/ano, só essa diferença em dez anos significa mais que a Reforma da Previdência, apresentada falsamente como a chave do crescimento.
5.NÃO TAXAÇÃO DE DIVIDENDOS – Uma maravilha para o mercado financeiro. Os dividendos pagos aos acionistas controladores de bancos chegam às contas pessoais limpinhos, sem desconto de um centavo. Só uma das famílias controladoras de um grande banco recebeu R$5,6 bilhões em dividendos sem qualquer imposto de renda descontado. No mundo, além de paraísos fiscais, só Brasil e Equador dão essa absurda vantagem a acionistas.
6.INEXISTENCIA DE CONTROLES CAMBIAIS PARA ENTRADA E SAÍDA – O Brasil é pais emergente, não é Pais como a Suíça ou a França, é da natureza de País emergente ter controle de câmbio, mas para favorecer o mercado não há controle algum, dólares entram e saem livremente, qual a vantagem para o Brasil? Dizem os economistas de mercado que é bom para a economia, mas então porque o País está em recessão há 5 anos? Não adianta mais culpar governos passados, recessão geralmente dura 1 ou 2 anos, não dura 5 anos, SEM PERSPECTIVA ALGUMA DE REVERSÃO. Há algo de errado no modelo de dar excessivas vantagens e garantias ao mercado financeiro, o Brasil não ganha nada em troca, dá vantagens e segurança, recebe recessão.
7.COMPRA DE ATIVOS POR VALORES IRRISÓRIOS – Na esteira do Plano Real grandes bancos estaduais como BANESPA, BANERJ, Estado do Paraná, BEMGE, Estado da Bahia e outros foram entregues a bancos privados praticamente de graça, sob pretexto que estavam quebrados, o BAMERINDUS, com 667 agências, foi entregue a um banco estrangeiro, o HSBC por quase nada, sob a mesma alegação, altamente contestada. Por baixos valores foram vendidas empresas históricas e de grande porte como CSN e ainda com o pagamento a prazo, tudo isso beneficiando o capital financeiro e em prejuízo do Estado.
Como resultado dessa venda de bancos, o BANCO DO BRASIL, que era maior que qualquer banco privado brasileiro, em 1965 era maior que os dez principais bancos privados somados, hoje é menor do que o ITAU e o Bradesco, o que mostra como o mercado financeiro ganhou riqueza à custa do Estado e da população sem em troca proporcionar crescimento e prosperidade, que é a alegação que os neoliberais apresentam como vantagem para o País.
Na velha propina, sem defendê-la obviamente, havia no final da linha uma obra, um navio, uma refinaria, uma estrada, uma usina hidroelétrica. Na transferência de riqueza ao mercado financeiro NÃO SOBRA NADA para o País, ao final é corrupção com luvas de pelica e casa em Miami.
Ao comparar-se dois momentos da economia brasileira, 1994 e 2019, sendo que em 1994 o “mercado” assume o controle da política econômica que se mantém até hoje, a União detinha o controle de estatais estratégicas como VALE, CSN, USIMINAS, COSIPA E OUTRAS 104 que foram vendidas por US$109 bilhões, recursos que evaporaram nos gastos correntes, ao mesmo tempo a União praticamente não tinha dívida pública interna.
Em 2019 a União deixou de ter um vasto patrimônio, vendido em 1994 a 1996, e enquanto isso o passivo da União chega hoje a mais de R$4 trilhões, dívida em títulos mais precatórios, o que ao final do dia significa que os ativos passaram ao “mercado” e o passivo tem como credor o mesmo “mercado”.
A União empobreceu nas duas pontas, ATIVO e PASSIVO e o “mercado” enriqueceu nas mesmas duas pontas.
Além disso, as poucas empresas privadas brasileiras que sobraram, mais de 600 foram vendidas a multinacionais, estão hoje mais endividadas do que nunca, sendo credor o mesmo “mercado”, todos perderam, menos o “mercado”.
O País como um todo, o Estado, as empresas e as pessoas físicas, empobreceram e estão endividados enquanto no mercado a riqueza explodiu, os bancos tem lucros recordes a cada trimestre em meio a uma recessão de 5 anos, o MODELO NEOLIBERAL FOI UM MONUMENTAL FRACASSO PARA O BRASIL e hoje o País se encontra, COM ESSE MODELO, em um abismo de recessão sem fim, desemprego inédito, empobrecimento de 80% da população, desmonte dos serviços sociais mais básicos, desindustrialização, a lógica neoliberal não serve a Países com alto nível de pobreza, a prova é a REALIDADE.
AMA
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