Bolsonaro, o ‘anticorrupção’ (sic), diz que “o pessoal quer pegar fantasmas e rachadinhas o tempo todo”.
29 de outubro de 2019.
Há um ano, em 28 de outubro de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República em segundo turno, a reboque do falso discurso de combate à corrupção. Em 1º de janeiro passado, ao tomar posse na Presidência, Bolsonaro disse: “Uma de minhas prioridades é proteger e revigorar a democracia brasileira, trabalhando arduamente para que ela deixe de ser apenas uma promessa formal e distante e passe a ser um componente substancial e tangível da vida política brasileira, com o respeito ao Estado Democrático.”
Contudo, 365 dias depois, os seguidos alertas do UCHO.INFO acabaram se confirmando, para a infelicidade geral da nação: Bolsonaro é mais do mesmo, é conivente com os corruptos que lhe são caros e desrespeita constantemente a democracia e o Estado de Direito.
Na última etapa da sua mais recente agenda internacional, o presidente brasileiro parou seus afazeres para, em entrevista aos jornalistas, reclamar das notícias sobre escândalos envolvendo o clã presidencial. “O pessoal quer pegar fantasmas e rachadinhas o tempo todo”, disse Bolsonaro, que se irrita quando os escândalos que alcançam os filhos e a e ele próprio surgem no noticiário.
É bom lembrar que não foi a imprensa que obrigou Jair Bolsonaro a prometer combate implacável à corrupção, assim como não coube aos jornalistas sugerir que o presidente protegesse os filhos e apaniguados.
Sem ter como cumprir as muitas promessas de campanha, Bolsonaro mergulha cada vez mais na espiral do descrédito, em especial porque realiza manobras nada republicanas para proteger os filhos, que, sabem os leitores, agem como se o Brasil vivesse uma monarquia em pleno século XXI.
Diz a sabedoria popular que a polícia só ganha quando os bandidos se desentendem. Pois bem, se áudios de Fabrício Queiroz, ex-assessor do agora senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), vazaram à imprensa é porque alguém ficou com a menor parte no momento da divisão do butim.
Nos áudios divulgados pelo jornal “Folha de S.Paulo”, Queiroz mostra preocupação com as investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre as tais “rachadinhas”, afirma que ninguém se movimentou para defende-lo (referência inominada à família Bolsonaro) e demonstra intimidade com o presidente da República ao tratar da exoneração de Cileide Barbosa Mendes, servidora do gabinete do vereador carioca Carlos Bolsonaro.
Cileide, para quem não sabe, trabalhava como doméstica para a família do presidente e esteve lotada (sic) no gabinete de Carlos Bolsonaro de 2001 a 2019. Ou seja, o vereador usou dinheiro público para pagar o salário da funcionária que prestava serviços na casa da família, a exemplo de Walderice Santos da Conceição, a “Wal do Açaí”, que durante 12 anos constou na lista de servidores da Câmara dos Deputados como secretária parlamentar de Bolsonaro, mas na verdade tinha como missão dar água e ração aos cachorros que o presidente mantém em sua casa na Vila História de Mambucaba, em Angra dos Reis, no litoral fluminense.
Se a política brasileira não é para amadores, segundo afirmam os que acompanham a atividade com maior proximidade, de igual modo vale o dito popular “para bom entendedor meia palavra basta”.
Se o presidente da República não compreendeu os áudios divulgados pela Folha – ou se fez de inocente –, Fabrício Queiroz mandou alguns recados em sua fala com interlocutor não identificado.
Ao dizer que ninguém saiu em sua defesa e mencionar a exoneração de Cileide Mendes, a doméstica que passou dezoito anos travestida de servidora de gabinete, Queiroz deixou claro nas entrelinhas que sente-se abandonado pelos Bolsonaro e que sabe muito mais do que o presidente gostaria.
Ao tentar explicar o inexplicável, Jair Bolsonaro tornou mais difícil o que já não era fácil.
Disse que Cileide sabia da possibilidade exoneração caso ele e Flávio não fossem eleitos, mas esqueceu que a doméstica (dublê de assessora parlamentar) trabalhava (sic) no gabinete do filho Carlos.
Em outras palavras, o Brasil continua o escândalo de sempre, agora sob nova direção.
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