sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

A LENDA DO SABIÁ


Sabiá cantou lá na beira do rio. Passou água, passou flor, passou tábua de pescador… E o sorriso na boca do peixe namorador a correnteza levou. Levou pro lado de lá do mar de maré cheia. Ôo Oxumaré… Alumeia ô alumeia.
Sabiá cantou lá na beira do rio. Passou barquinho de papel, passou ingá, passou carinho de Iemanjá… E a estrela caída do céu a correnteza levou. Levou pra terra dos botos, dos brotos e das sereias. Eê rainha do mar… Entonteia. 
Sabiá cantou lá na beira do rio. Passou chuva de corrupio, passou vento de assobio… E quando menina marilene chegou, uma sirene ordenou e a correnteza parou. Chegou com cabelo dourado e olhos alaranjados que até o velho sabiá, gaguejou: Eê Oxum… Vê se me ajuda a voar. 
Sabiá cantou lá na beira, o rio virou… E as flores, os barquinhos e os ninhos voltaram do mar. E veio até cavalo marinho cavalgando de lá. Veio arraia, veio golfinho, veio conchinha só pra enfeitar o vestido de louça da moça de corpo rosa chá. Ah! Oxossi abre os caminhos do bosque… O amor vai chegar. 
Sabiá voou e cantou em dó flechado por um pataxó, ou por um guarani ou por um cupido carimbó. Sabiá caiu no rio e sumiu num fio de luar pra mó de nunca mais voltar. Tudo porque a menina entrou no rio de vestido branco balonê e se engravidou do canto daquelas águas como quem diz: E baluaê… O amor há de vingar. Eê Xangô… Vê se me devolve pro ar. 
O céu desvirginou quando a menina cantou na beira do rio. Sol relampejou, lua trovejou e o rio transbordou. E o destino de cá e de acolá, junto do lá do sabiá, a correnteza carregou. Menina deitou, dormiu, sonhou nos braços de um tempo que, de tanto amor, pecou. Ôo Oxalá… Clareia seu candiá que o dia serenou. 
O rio se levantou e alecrins, cupidos, querubins, gemidos sustenidos e passarins passaram num bloco de ganzá enquanto o mundo passava em marilene ma ri lê neá. E eram arlequins e colombinas em línguas de serpentina sem começo e sem fim. Eê Iansã… Cadê a manhã, cadê o perfume de jasmim, cadê o ciúme da maçã? 
Lua cheia sangrou e o mundo chorou nas mãos da parteira que a correnteza carregou pra beira. E do ventre poente daquela menina raiou o amor ardente do canto do sabiá. Oô axé Oxumaré! O di lá, saravá rei Oxalá! E quem nasceu cresceu amou voou sonhou cantou na areia do rio. Oô menina, rainha do mar, incendeia. 
Sabiá cantou lá na beira do rio. Passou água, passou flor, passou tábua de pescador… E o sorriso na boca do peixe namorador a correnteza levou. Levou pro lado de lá do mar de maré cheia. Ôo Oxumaré… Alumeia ô alumeia. 

Fonte:
Arquivado em aves, Folclore Brasileiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário