No derradeiro capítulo da convenção republicana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deixou o supremacismo branco com a claque que se esparramou pelos jardins da Casa Branca.
Durante o evento, na noite de quinta-feira (27), o presidente americano encerrou a convenção partidária aceitando oficialmente a nomeação para ser o candidato da legenda na corrida presidencial de 3 de novembro próximo.
Sem avexar-se por usar a estrutura da sede do governo para a convenção partidária e recorrendo a inúmeras mentiras, o mandatário estadunidense aproveitou a ocasião para atacar seu adversário, o democrata Joe Biden.
No vácuo de enfadonho e mitômano discurso de 70 minutos, proferido sobre enorme palco montado no gramado da Casa Branca, Trump disse que aceitou a indicação do partido com o “coração cheio de gratidão e otimismo ilimitado”. Não sem antes rotular a próxima eleição como “a mais importante da história de nosso país”.
Em declarado ataque a Biden, o presidente americano disse que jamais houve “uma escolha mais clara entre dois partidos, duas visões, duas filosofias”, e prosseguiu com a descrição da agenda democrata como “o conjunto mais extremo de propostas de todos os tempos apresentado por um candidato de um grande partido”.
“Joe Biden não é o salvador da alma dos Estados Unidos. Ele é um destruidor de empregos dos EUA e, se tiver a chance, será o destruidor da grandeza americana”, afirmou Trump. “Joe Biden passou toda a sua carreira terceirizando os sonhos dos trabalhadores americanos, terceirizando empregos, abrindo suas fronteiras e enviando seus filhos e filhas para lutar em guerras internacionais sem fim.”
O presidente ainda repreendeu o rival democrata por levantar a possibilidade de futuras paralisações na economia como medida para combater o avanço da Covid-19, acusando-o de buscar “se render” ao novo coronavírus.
Trump insistiu que a economia e as escolas públicas devem voltar à normalidade rapidamente, embora pesquisas de opinião pública apontem que a maioria dos americanos teme uma rápida reabertura em meio à pandemia.
Trump, abusando do comportamento bufão que o acompanha há décadas, voltou a entoar o discurso do medo utilizado na eleição de 2016, ao mesmo tempo em que ignorou o estrago promovido pela Covid-19 no país em razão do seu negacionismo tosco e populista. Mas o presidente não deixou de incluir a China em seu discurso marcado pela beligerância quando disse que Joe Biden é “made in China”.
“O melhor ainda está por vir”
Depois de tratar com zombaria a pandemia, Trump comprometeu-se a derrotar o novo coronavírus, apesar de os Estados Unidos, sob sua gestão, terem se tornado de longe o país mais afetado pela crise sanitária provocada pelo vírus SARS-CoV-2, Sem ter qualquer evidência ou prova, Trump afirmou que os EUA terão uma vacina pronta “até o final do ano, ou talvez até antes”.
O presidente também afirmou que o país alcançará “prosperidade recorde” se ele for reeleito e prometeu “reconstruir novamente a maior economia da história”. A campanha de Donald Trump em 2016 foi embalada pelo slogan “Make America great again”, mas quatro anos depois percebe-se que tudo não passou de um embuste de marqueteiro.
Ao fazer referência à inquietação social e aos protestos contra o racismo e a brutalidade policial contra negros nos EUA, Trump disse que nenhum presidente fez mais pelos afro-americanos do que ele, e prometeu que “o melhor ainda está por vir”. A dissimulação e a mitomania são de tal forma marcantes em Trump, que ele conseguiu a proeza de dizer que em três anos fez muito mais pelos negros do que Joe Biden ao longo de 47 anos de carreira política.
Supremacismo branco
Quem acompanhou a ópera bufa em que se transformou o discurso de Donald Trump percebeu se qualquer esforço que a plateia que o aplaudia, como claque amestrada, era eminentemente formada por cidadãos brancos, que sequer se importam com a violência policial contra os negros. Os afrodescendentes que estavam na plateia eram minoria e em muitos momentos externaram desconforto com algumas declarações do republicano acerca de racismo.
Para confirmar esse desvario social que emoldura a gestão Trump, o vice-presidente Mike Pence defendeu, na quarta-feira, a polícia e cobrou o fim dos distúrbios, como se os negros, achincalhados por policiais e atacados bestas brancas armadas, não tivessem direito ao protesto. “Sob o presidente Trump, sempre estaremos com aqueles que estão na fina linha azul. Não vamos tirar dinheiro da polícia. Nem agora nem nunca”, disse o supremacista Pence.
Para endossar um governo que não consegue olhar para as minorias e tentando atrair o eleitorado negro para a campanha de Trump, vários oradores afrodescendentes discursaram na convenção republicana, dando a entender que os últimos acontecimentos na seara do racismo é obra do imaginário.