Dados do BC sobre investimentos diretos no País desmontam o discurso mentiroso de Bolsonaro na ONU.
Por Redação Ucho.Info/23 de setembro de 2020
O discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da 75ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na terça-feira (22), que ocorreu de forma virtual em razão da pandemia do novo coronavírus, continua repercutindo e causando vergonha ao País e ao povo brasileiro.
Logo após os cumprimentos protocolares, Bolsonaro abriu seu discurso com a seguinte frase: “É uma honra abrir esta assembleia com os representantes de nações soberanas, num momento em que o mundo necessita da verdade para superar seus desafios”.
É importante perceber que o presidente da República falou sobre a necessidade da verdade, mas protagonizou m espetáculo de mitomania sem precedentes e que foi alvo de críticas, desmentidos e chacotas por toda parte.
É compreensível o fato de Bolsonaro tentar defender seu governo com um palavrório que já é conhecido da opinião pública, até porque o cotidiano nacional é marcado por destampatórios oficiais de toda ordem, mas agarrar-se a um cipoal de mentiras para rebater as críticas que cresceram no rastro do desmatamento e das queimadas é sinal de desespero.
Que o discurso de Bolsonaro seria marcado por inverdades os brasileiros de bem já sabiam, pois no dia anterior à Assembleia-Geral o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), Augusto Heleno, havia sinalizado nessa direção ao participar de audiência pública sobre o meio ambiente no Supremo Tribunal Federal (STF). Na ocasião, Heleno afirmou que as críticas visam derrubar o governo.
“Não podemos admitir e incentivar que nações, entidades e personalidades estrangeiras, sem passado que lhes dê autoridade moral para nos criticar, tenham sucesso no seu objetivo principal, obviamente oculto, mas evidente para os não inocentes, que é prejudicar o Brasil e derrubar o governo Bolsonaro”, disse o chefe do GSI.
Apesar da globalização e das relações cordiais entre países, o comércio internacional tem suas armadilhas, todas conhecidas por aqueles que participam do escambo que movimenta a economia do planeta. E é natural que nações critiquem o Brasil na seara ambiental, com razão, como forma de proteger seus próprios produtores agrícolas. Contudo, é inaceitável que um chefe de Estado coloque tudo a perder por questões ideológicas e para salvar o próprio governo, que até então tem se mostrado uma usina de polêmicas e factoides.
Logo após sua participação, por vídeo, na Assembleia-Geral da ONU, Bolsonaro disse a interlocutores que se a imprensa estava a criticá-lo é porque o discurso fora bom. O presidente, como afirmamos em matéria anterior, perdeu a oportunidade de falar para a comunidade internacional, em nome de um discurso modulado para agradar seus eleitores e apoiadores.
Um dos momentos altos do devaneio presidencial envolveu investimentos diretos no País, sem que Bolsonaro ao menos tivesse consultado o Banco Central (BC) sobre o assunto. Disse o chefe do Executivo: “O Brasil foi, em 2019, o quarto maior destino de investimentos diretos em todo o mundo. E, no primeiro semestre de 2020, apesar da pandemia, verificamos um aumento do ingresso de investimentos, em comparação com o mesmo período do ano passado. Isso comprova a confiança do mundo em nosso governo.”
A milícia digital bolsonarista invadiu as redes sociais para defender o presidente da República, mas, como prega a sabedoria popular, é difícil “tapar o sol com a peneira”. Horas depois do espetáculo de mitomania protagonizado por Bolsonaro, a verdade veio à tona na esteira de informações do BC.
O BC disponibiliza em sua página na internet dados sobre investimentos internacionais, sejam eles financeiros ou em atividades produtivas e de infraestrutura. De acordo com a autarquia, em agosto os investimentos diretos tiveram recuo de 85%, na comparação com o mesmo mês de 2019. Em agosto deste ano, Em agosto deste ano, os investimentos diretos somaram US$ 1,4 bilhão, contra US$ 9,5 bilhões em agosto do ano passado. Na comparação mensal também é possível identificar redução nos investimentos. Em julho passado, quando o ingresso líquido de recursos alcançou US$ 2,7 bilhões, a queda foi de 48%.
Diante desse cenário desolador, cabe perguntar ao presidente a razão de tantas mentiras, pois o imediatismo das informações proporciona a possibilidade de acessar a verdade em questão de segundos.
Durante a campanha presidencial de 2018, o UCHO.INFO afirmou – e o faz até hoje – que Jair Bolsonaro, além de desprovido de competência e estofo para cargo de tamanha relevância e responsabilidade, era o que na política conhece-se como “mais do mesmo”.
Somos obrigados a fazer um mea culpa, pois Bolsonaro é muito pior do que sabíamos.
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