segunda-feira, 23 de agosto de 2021

E SEGUE LULA PELO NORDESTE:

 

Em visita ao Maranhão, Lula movimenta o tabuleiro político de olho em possível “xeque-mate”.
Por Waldir Maranhão/21 de agosto de 2021.



NO giro que faz pelo Nordeste, onde tem se encontrado com lideranças políticas locais para costurar apoio à sua eventual candidatura ao Palácio do Planalto, em 2022, o ex-presidente Lula mostrou, mais uma vez, habilidade ao movimentar as peças no tabuleiro eleitoral maranhense.
Na capital São Luís, o ex-presidente da República reuniu-se com possíveis candidatos aos mais distintos cargos, não importando a corrente ideológica nem as rusgas do passado.
Na “península”, quartel-general do clã Sarney, Lula encontrou o ex-presidente José Sarney e o ex-senador Edison Lobão, ambos emedebistas. Esse encontro significa que o petista trabalha para ter o apoio do MDB na corrida presidencial do próximo ano. Com esse possível acordo o ex-metalúrgico poderá contar com o apoio regional de Roseana Sarney, ex-governadora do Maranhão, que acena com eventual candidatura à Câmara dos Deputados. E Roseana é “boa” de voto no estado.
Diante da possibilidade de contar com o apoio do MDB em âmbito nacional, até porque José Sarney é voz respeitada na legenda, Lula terá dado mais um passo em terreno que o presidente Jair Bolsonaro acredita ter parcialmente a seu favor.
Lula também reuniu-se com o governador Flávio Dino, em jantar que contou com a participação do vice Carlos Brandão, candidato ao Palácio dos Leões, sede do Executivo maranhense.
Como destaquei no artigo anterior, Dino deve lealdade ao tucano Carlos Brandão, que durante anos foi fiel escudeiro do governador do Maranhão. Agora, nada mais justo de que a mão se inverta com a mesma intensidade, firmeza e transparência.
Se na esfera nacional PT e PSDB ainda nutrem algumas poucas zonas de conflitos, agora minimizadas pela necessidade de se fazer frente aos desvarios golpistas do presidente Jair Bolsonaro, Lula certamente apoiará politicamente a candidatura de Brandão e contará com o apoio de Dino em sua empreitada rumo ao Palácio do Planalto.
No encontro que tive com Lula, o ex-presidente, depois de todos os percalços, mantém intacta sua habilidade para fazer política. Foi um reencontro, uma dose de esperança.
Para mim e para o povo do Maranhão, reencontrá-lo com disposição é dar um novo abraço no sonho de dias melhores para o Brasil, com carne na mesa do trabalhador, ao contrário do pesadelo de um país que viu disparar o pesadelo da fome, dos preços da gasolina e do gás de cozinha nas alturas, da aviltante tarifa de energia elétrica. Foi revigorante, seu entusiasmo diante da eleição presidencial do próximo ano impulsionou meu desejo de voltar a defender o os maranhenses e os brasileiros em Brasília.
Em outras palavras, Lula é um animal político. Como escreveu João Francisco Pereira Cabral, Mestre em Filosofia pela Unicamp, em “O conceito de animal político em Aristóteles”, o animal político é “o homem livre que goza de direitos naturais por sua competência em comandar, enquanto que os homens dotados apenas de robustez física e pouco intelecto são aptos para obedecer.”
Pereira Cabral ressalta que para o filósofo grego Aristóteles (367 a.C.–347 a.C.) “o homem é um ser que necessita de coisas e dos outros, sendo, por isso, um ser carente e imperfeito, buscando a comunidade para alcançar a completude.
Lula também encontrou-se com o senador Weverton Rocha (PDT), que durante recente visita à cidade de Imperatriz, no interior maranhense, disse que sua candidatura ao governo estadual é um “foguete”, que como tal não tem “marcha a ré”. Se na política há um ingrediente que estraga a receita, esse certamente é a teimosia.
Cobiçar o governo do Maranhão é um direito de qualquer cidadão que preencha os requisitos básico para a disputa eleitoral – Weverton se encaixa nesse cenário –, mas é preciso, acima de tudo, pensar no sofrido povo maranhense. E o senador pedetista já reconheceu publicamente, por mais de uma vez, as conquistas sociais do governo de Flávio Dino.
Ao afirmar que sua candidatura é irreversível, Weverton Rocha está a pensar apenas nos seus interesses políticos, quando na verdade deveria ter um ato de grandeza e apoiar a candidatura de Carlos Brandão, em prol dos seus conterrâneos.
Weverton, como citei acima, tem o direito de tentar chegar ao comando do estado, principalmente porque pouco tem a perder. No caso de tropeçar nas urnas eleitorais de 2022, Weverton terá ainda mais quatro anos de mandato como senador.
O parlamentar pedetista afirmou há dias que espera ter o apoio do ex-presidente Lula em sua caminhada ao Palácio dos Leões, mas é preciso considerar que o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, vem despejando metade de sua ácida artilharia sobre o petista (a outra metade dedica a Bolsonaro). Ciro, por sua conhecida personalidade explosiva, não aceitará de bom grado que Weverton Rocha faça campanha para Lula nos domínios maranhenses.
Além disso, Weverton tem adotado um silêncio estranho em relação à CPI da Covid, em funcionamento no Senado Federal. Isso porque o pedetista tem alimentado cada vez mais a proximidade com o senador Flávio Bolsonaro, primogênito do presidente República, Jair Bolsonaro.
Essa mudez repentina de Weverton Rocha em relação à CPI ficou materializada na luta isolada do governador Flávio Dino na busca por vacinas contra Covid-19. Mesmo assim, Weverton intensificou o assédio ao governador maranhense na esperança de ter seu apoio em 2022.
Lula deixou o Maranhão certo de que o jogo político está em marcha e que a chance de contar com os votos da maioria dos maranhenses é grande, mas depende das decisões a serem tomadas pelos líderes locais, que devem priorizar o bem-estar da população.
Como disse a escritora Lygia Fagundes Telles, dama da literatura brasileira, “não peça coerência ao mistério nem peça lógica ao absurdo.”

(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.

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