domingo, 8 de agosto de 2021

PENSANDO NO MEU PAI... E NA MINHA MÃE



Como se fosse hoje, bem me lembro,
todo dia:
depois que ordenhava as vacas que até nome tinham,
depois que engarrafava o leite pra vender na cidade,
depois que tomava café encorpado com gorda nata de leite,
meu pai encilhava o cavalo e ia pro campo
visitar as roças de milho, feijão, arroz, cebola e alho
ou no encalço de alguma rês que sumira.

Enquanto meu pai campeava,
minha mãe ficava em casa limpando, lavando,
cuidando de cabritos, porcos, galinhas,
não sem antes regar e conversar com suas folhagens
de variadas formas e cores que alegravam a vida da gente
no Sítio Bom Retiro,
distante e tão pertinho de São Miguel, terra dos meus antepassados.

Nós, cinco meninas, ajudávamos na debulha do milho
pra dar de comer às galinhas
ou cortávamos mandioca e abóbora pros porcos
ou varríamos o imenso terreiro em frente da casa
mantendo-o sempre limpo
pois ali se malharia feijão no tempo certo.
Às vezes, íamos no pasto buscar goiaba pra goiabada
ou catar coquinho, babaçu, ingá, gabiroba, chipotá, araçá, maracujá do mato, figuinho, ranho-de-negro...

E enquanto meu pai campeava,
minha mãe já pensava no almoço.

A gente era feliz pra caramba!
Tempo de fartura real!
Tempo de pai!
Tempo de mãe!



Nenhum comentário:

Postar um comentário