terça-feira, 7 de setembro de 2021

O QUILOMBO DE CAMPO GRANDE


Um Quilombo em Campo Grande




Poucas pessoas sabem que no bairro de Campo Grande, Rio de Janeiro, existe uma comunidade remanescente de quilombola.
Localizada no Rio da Prata de Campo Grande, a Comunidade Remanescente de Quilombola Dona Bilina do Rio da Prata teve a sua existência reconhecida em 2017, pela Fundação Palmares.
D. Rita, Diretora Executiva da associação de agricultores Agroprata, e cuja família permanece na região há cerca de trezentos anos, nos conta que o início do processo de reconhecimento como comunidade remanescente quilombola se deu a partir das décadas de 60/70 quando foi instituído como Parque da Pedra Branca os morros da Bela Vista e caboclos. Como área de proteção ambiental esta região não mais poderia ser habitada a não ser por populações reconhecidas como “tradicionais”, ou seja, população descendente de negros escravizados e índios, que tradicionalmente habitavam e continuavam a habitar a região.
Iniciou-se então uma busca em resgate às origens histórico, genealógica e cultural na região.
Na época da colonização o vale, que começava no Rio da Prata, terminava no Cabuçu e era habitado pelos índios Picinguabas, foi doado pela Coroa a Barcelos Domingos, (por volta dos anos 1600). 

Ocupada por escravos e europeus, o que justifica a presença de uma população “embranquecida” e de olhos claros, ainda hoje cultiva-se roças e o transporte de mercadorias é feito em lombo de burro morro acima, reafirmando entre outros hábitos e características, os traços de miscigenação da população local.
Conta-se entre as famílias mais antigas que habitam a localidade uma história comum que perpassa gerações: a de um escravo negro que teria raptado uma índia e com ela formado família. Outro fato entre essa população é a dedicação à agricultura familiar perpetuada há várias gerações.
Existem algumas comunidades cujos moradores nunca foram ao centro do Rio de janeiro, não vão ao centro de campo grande sozinhos e residem em casas de pau a pique. 

O acesso a algumas dessas comunidades se dá através de trilhas em meio a floresta, (com até três horas de distância, partindo do largo do Rio da Prata) onde se relata ser possível avistar rastros de felinos de grande porte, cobras e aves pouco conhecidas e onde ainda se usam palavras de um dialeto ancestral próprio só encontrado na localidade.
Ainda é possível também visitar as ruínas da Escola de pedra do Senhor João das Furnas, onde somente homens estudavam e que anteriormente foi senzala, e a Pedra dos Índios que, segundo os antigos moradores, foi moradia de índios pois possui buracos redondos que parecem ter sido feitos por algum instrumento rudimentar; e o Jequitibá que sobreviveu aos ciclos do café, do carvão e da laranja, com seus quinze metros de circunferência que parecem denotar 1500 anos de existência. 

Muito da preservação da floresta local se deve a essa população que resiste às tentativas de especulação imobiliária ainda hoje.
Dona Bilina, a moradora cujo nome foi dado à comunidade, foi parteira e rezadeira na Serra do Rio da Prata e viveu até início da década de 70. 

Era chamada de ‘VÓ” por muitos e em sua homenagem a comunidade local solicitou a certificação como Quilombo Dona Bilina do Rio da Prata de Campo Grande – Maciço da Pedra Branca, Rio de Janeiro. 

A certificação foi feita através da portaria nº 88 de treze de fevereiro de dois mil e dezessete, publicada no D.O da União de quatorze de fevereiro de 2017, reconhecendo e ajudando a preservar viva a memória de um “povo da floresta e da roça” que há mais de trezentos anos luta por sua história e direitos.

Texto: Simone A. R Fonseca – Assistente Social/ CAP 5.2/SMS
Fonte: Entrevista com Sra. Rita de Cassia Carreiro M. Caseiro
Discurso lido na Câmara de vereadores do Município do Rio de Janeiro em 15.02.2017.
Publicado no blog "SAIBA HISTÓRIA! por Adinalzir Pereira Lamego.

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