O chá do Santo Daime, conhecido também como ayahuasca, caapi, yajé e vinho de Deus, tem uma interessante história na América, marcada por sincretismo religioso e perseguição.
O chá do Santo Daime é empregado há séculos por diferentes denominações religiosas.
Por ser uma bebida produzida há muito tempo, o chá do Santo Daime aparece na história de diversas culturas e religiões, assumindo outros nomes como ayahuasca, caapi, yajé e vinho de Deus.
Desde essa época, o preparo e a ingestão dessa bebida estão associados à realização de rituais religiosos de natureza diversa. Para a preparação da bebida, misturam-se substâncias recolhidas a partir da erva rainha e do cipó-caapi, que sofrem uma efusão produtora da substância.
De acordo com alguns estudiosos, os primeiros relatos sobre o uso desse chá advêm do hábito, já entre os anos de 1000 a.C. e 500 a.C., de alguns índios da Amazônia Peruana que realizavam a mistura de cipós e folhas para a preparação de bebidas.
No período colonial, portugueses e espanhóis observavam esse hábito indígena como algum tipo de experiência alucinógena. Por causa da diferença religiosa e cultural, os conquistadores europeus não compreendiam a aplicação litúrgica daquele tipo de bebida.
Condenação da bebida
Ainda no século XVI, os padres jesuítas que realizavam o trabalho de catequização na região amazônica consumiram o chá preparado e, logo depois, relataram sua completa desaprovação em relação ao uso daquele tipo de bebida. No ano de 1616, os agentes da Santa Inquisição na América reportaram-se ao mesmo chá, condenando a sua ingestão por considerarem tal prática relacionada ao desenvolvimento de atividades mágicas ou de natureza demoníaca.
Mesmo com a reprimenda, nota-se que o consumo da bebida em rituais religiosos foi preservado e sua receita praticamente não sofreu alterações. Foi somente no período contemporâneo que a ayahuasca voltou a ser comentada em registros históricos. No ano de 1858, o geógrafo equatoriano Manuel Villavicencio realizou uma descrição detalhada sobre os efeitos que o chá possui. Pouco tempo antes, o botânico inglês R. Spruce experimentou o preparado e abriu caminho para que novos estudos com as plantas empregadas fossem desenvolvidos.
Atingindo o século XX, o consumo da ayahuasca determinou o desenvolvimento de novas religiões que extrapolam o âmbito das comunidades indígenas amazônicas. No ano de 1913, o seringueiro Raimundo Irineu Serra entrou em contato com a bebida e, a partir da leitura de sua própria experiência, fundou a Igreja do Santo Daime. Décadas mais tarde, outro seringueiro de nome José Gabriel da Costa organizou uma nova denominação religiosa, conhecida como União do Vegetal.
Uso permitido para fins religiosos
Hoje em dia, existem outras religiões que empregam o uso do chá do Santo Daime para a promoção de experiências de âmbito espiritual. Muitos dos praticantes dessas religiões incorporam conceitos estabelecidos pelo espiritismo e as religiões afro-brasileiras. Na grande maioria dos casos, a ingestão do preparado tem uma função espiritual específica e não pode ser realizada de modo aleatório ou banal. Desde 1992, o Conselho Federal de Entorpecentes autoriza o uso do chá para fins religiosos.
Por Rainer Gonçalves Sousa
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